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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cidade

Luzes, cantos e restaurações renovam roteiro das igrejas

Gabriela Caesar e Thaís Bisinoto - Do Portal

15/07/2011

 Eduardo de Holanda

O Rio de Janeiro é a segunda cidade brasileira em número de patrimônios históricos. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan), há 29 igrejas tombadas na cidade (veja galeria de fotos das igrejas do Rio). No Centro, destacam-se a de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé (foto), o Mosteiro de São Bento, a Candelária e a Catedral Metropolitana. Realçada por trabalhos de restauração, a riqueza do barroco e do rococó explica, em parte, por que os visitantes nacionais e estrangeiros, que reservaram 65% das vagas dos hotéis da segunda quinzena deste mês, conforme estima a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) do Rio, devem visitar as igrejas abaixo. 

Na Antiga Sé, show de som e luzes se une a preciosidades arqueológicas

Dois projetos de restauração estão em andamento na Igreja da Antiga Sé: a capela do Senhor dos Passos e o órgão da igreja. O primeiro, iniciado no ano passado, será concluído até dezembro. Já a reforma do órgão – com custo de R$ 2,1 milhões – só estará concluída em setembro do próximo ano. O visitante, contudo, encontra uma série de outras preciosidades arquitetônicas, arqueológicas e históricas a se contemplar.    

Localizada no centro histórico do Rio, próxima à Praça XV de Novembro, a igreja já foi Capela Real – nomeada por D. João VI, ao chegar ao Brasil, em 1808; Capela Imperial, após a Independência; e, durante 168 anos, assumiu a condição de Catedral do Rio de Janeiro. Acolheu muitas solenidades reais, como as coroações dos imperadores D. Pedro I e D. Pedro II e os casamentos de D. Pedro II e da Princesa Isabel. Ali também foi celebrada a sagração do primeiro cardeal do Brasil e da América Latina, o cardeal Arcoverde.

Em 1976, com a inauguração da Catedral Metropolitana, a igreja deixou esse posto e passou a ser conhecida como Antiga Sé. Tombada pelo Iphan, recebeu, há três anos, um intenso processo de restauração – financiado pelo governo –, orçado em R$ 11,5 milhões. Concluídos o restauro artístico do interior e das fachadas e as obras de infraestrutura, foi reinaugurada no dia 8 de março de 2008, em homenagem aos 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil.

 Eduardo de Holanda Após a restauração – que manteve as mesmas características do período de D. João –, passaram a ser realizadas visitas guiadas pelo museu do sítio arqueológico e pelo próprio prédio da igreja. Segundo a guia Denise Teixeira, uma das monitoras do museu, a frequência está “razoável”:

– O movimento caiu desde que começamos a cobrar pela visita guiada. Mas, no período das férias escolares, melhora. Visitas em grupos são as mais comuns, principalmente aqueles que estão fazendo tour pela cidade do Rio. Quem tem demonstrado bastante interesse pela igreja são os estrangeiros, em especial os norte-americanos, franceses e italianos.

Os sítios arqueológicos foram descobertos em 2007, durante a restauração. Encontraram-se vestígios de uma paliçada – forte construído pelos índios em 1519 – e de dois cemitérios, com 525 ossos em um deles, provavelmente de índios ou portugueses. A descoberta – que incluiu ainda moedas de ouro, artigos para sepultamento de índios e cerâmicas portuguesas – justificou a construção do museu. Muitas das peças encontradas estão no Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB), em Del Castilho, Zona Norte do Rio.

Outra atração da Igreja do Carmo é o espetáculo de som e luz De Tudo Fica um Pouco. Com vozes gravadas de atores como Marisa Orth e Marcelo Tas, a narrativa aborda a primeira fundação da igreja, no século XVI, e a chegada dos portugueses. Efeitos de luzes e sombras e a música de um coral, também gravado, conduzem a apresentação.

Na Igreja do Carmo está também a cripta do Cardeal Arcoverde, falecido em 1930; a urna mortuária de Pedro Álvares Cabral, com parte de seus resíduos mortais; e a pia batismal (original) da princesa Isabel – usada, ainda hoje, para a realização de batismos. 

Festa de Nossa Senhora do Carmo

A festa anual é "muito procurada", de acordo com Rosa Telles, uma das guias da igreja. Nesse ano, está marcada para 16 de julho, sábado. Serão celebradas missas às 8h, 9h, 12h e 16h. Haverá oração do santo Rosário às 11h e às 14h. Durante todo o dia, haverá barraquinhas variadas, com salgados, doces, artesanatos, artigos religiosos e brincadeiras, na calçada da Rua Sete de Setembro. O tríduo a Nossa Senhora do Carmo será realizado nos dias 13, 14 e 15, às 8h e às 12h15.

Visitas guiadas e espetáculo

As visitas guiadas são feitas, de segunda a sexta, entre 10h e 15h20; e, nos fins de semana, entres 11h e 14h. Duram de 5 a 15 minutos e custam R$ 5. Idosos e estudantes pagam R$ 4. Para grupos com mais de dez pessoas, é necessário marcar horário com dois dias de antecedência.

O espetáculo de som e luz é exibido, durante a semana, às 13h30 e, aos sábados e domingos, às 11h e às 14h20. Outros horários de apresentação podem ser agendados para grupos.

As missas regulares são celebradas de segunda a sexta, às 8h, e, no domingo, às 11h. São celebradas também missas especiais: quarta-feira, às 9h, em homenagem a Nossa Senhora da Cabeça; e sexta-feira, às 12h15 (Grupo Pão da Palavra). O agendamento pode ser feito por telefone: (21) 2221-0501 ou pelo e-mail pasturantigase@yahoo.com.br. Endereço: Rua Primeiro de Março, esquina com a Rua Sete de Setembro, Centro.

 

Nova iluminação realça estilo neoclássico da Nossa Senhora da Candelária

 Eduardo de Holanda No fim do mês passado, a Igreja da Candelária recebeu novo sistema de luzes, assim como a Catedral Metropolitana. O reparo resultou na instalação de 278 projetores, 149 pontos de luz e 40 luminárias, de acordo com a Prefeitura, "a fim de realçar o estilo neoclássico".

Em 1755, a igreja, cuja construção deriva da promessa de um casal a Nossa Senhora da Candelária, foi posta abaixo. No mesmo local, mas no século seguinte, construíram a igreja atual, que manteve o nome e a fachada do século XVIII. De arquitetura neoclássica, na Igreja da Candelária predominam trechos pintados de branco e granito escuro, além de revestimentos de mármore italiano.

Em 1993, as imediações da igreja escreveram um capítulo de terror na história daquela tradicional área de manifestações populares. Moradores de rua foram assassinados nas escadas da Candelária, que assim deu nome à chacina.

Famosa também pelos casamentos de celebridades, como o da atriz Susana Werner com o goleiro Júlio César, da seleção brasileira, a igreja é uma das mais procuradas por visitantes anônimos. Uma vez por mês, o motorista particular Altamiro Costa Rodrigues vai até a Candelária em lembrança ao ex-patrão. Acompanhado da mulher, Rosimar Costa, pós-graduada em gerência de projetos de software pela PUC-Rio, ele recorda:

– Neste mês, o falecimento do “doutor” Nildo Aguiar, meu ex-patrão, completa um ano.

Eugenio de Monteiro, padre há 17 anos, e Haroldo Braga, há 23 anos como regente e cantor daquela igreja, orgulham-se em esclarecer que "não há exclusividade" em relação à música tocada ali. “Só não pode CD, playback”, ressalva Braga. No próximo dia 24, o Projeto Candelária vai executar, às 16h, obras de Mozart, Gershwin e Spirituais. 

Já os noivos terão de se contentar com a redução de três para dois horários de casamento. No entanto, Braga conta que “ninguém quer casar às 18h, acham muito cedo”.

Casamentos, batizados, etc

Os casamentos são sempre aos sábados, às 18h e às 19h30, e os batizados, aos sábados, às 10h. A Santa Missa é celebrada de segunda a sexta, às 12h15, e aos domingos, às 10h30; e a Santa Missa Solene, ao meio-dia de domingo. A Igreja da Candelária abre de segunda a sexta, das 7h às 16h; aos sábados, das 8h às 12h; e aos domingos, das 9h às 13h. Telefone: (21) 2233-2324. Endereço: Praça Pio X, Centro.

 

Duas mil variações de cores iluminam a Catedral Metropolitana

 Eduardo de Holanda A Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro, ou Catedral Metropolitana, teve iluminação renovada por meio de 91 projetores de LED, inaugurados em outubro do ano passado. Com a restauração, a igreja próxima aos Arcos da Lapa e à estação Carioca do Metrô ganhou 2 mil variações de cores. Mudam de acordo com o tipo de celebração, assim como é feito no Cristo Redentor. O investimento público de quase R$ 2 milhões incluiu a substituição da antiga iluminação do estacionamento.

Inaugurada em 1974, a Catedral Metropolitana foi projetada pelo arquiteto Edgar de Oliveira da Fonseca, então professor da PUC-Rio. Em 1971, alterou-se a concepção original devido a mudanças do interior e à capacidade de 20 mil fiéis. De formato cônico, a decoração interna se destaca por quatro vitrais, que vão até a cúpula e mudam de cor conforme a luz do sol, e imprimirem um "ar mítico".

Embora quem trabalha na Catedral afirme que o número de estrangeiros – principalmente americanos, chineses e japoneses – supera o de brasileiros, gente como Helena Segnini passa por lá. Professora do ensino fundamental em São Carlos, interior de São Paulo, Helena aproveitou a passagem pelo Rio para conhecer a igreja, cuja arquitetura achou "diferente":

– A Catedral tem muito concreto e um formato moderno, diferente das igrejas com que estou acostumada – compara.

No subsolo da Catedral, o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra reúne itens como o anel do Papa João Paulo II, legado da visita de 1980; a carruagem da Família Real e o Vaso Rosa de Ouro, oferecida pelo Papa Leão XXII à Princesa Isabel por causa da assinatura da Lei Áurea, em 1888.

Museu e concerto de órgão

Com entrada a R$ 2, museu funciona na quarta-feira, das 9h às 12h, e no fim de semana, das 9h às 12h e das 13h às 16h. O Arquivo Arquidiocesano, também no subsolo, abre de terça a quinta, das 13h30 às 17h. Já a Catedral fica aberta de segunda a sexta, das 8h às 12h e das 13h às 18h, e aos sábados e domingos, das 8h às 12h. Sempre na primeira segunda-feira do mês, o concerto de órgão se estende das 12h às 12h40. Dentro da Catedral, há uma loja com artigos religiosos – de santinho a CD de canto gregoriano. Em feriados, os horários são mantidos.

A missa na capela santíssima é de segunda a sexta, às 11h, e aos sábados e domingo, às 10h. Pode-se encomendar missa para o período da tarde. Os casamentos são raros nessa igreja – normalmente só de paroquianos – e os batizados, dependendo da demanda, podem ser celebrados no quarto domingo de cada mês. Telefone: (21) 2240-2669/2869 ou (21) 2262-1797. Endereço: Av. Chile, 245, Centro.

Quem quiser saber mais sobre este cartão-postal pode recorrer ao livro A arte da Catedral (2003, 136 páginas, R$ 78,70). Publicado pela editora PUC-Rio, em parceria com as edições Loyola, a publicação de Mazeredo, com texto de Mário Margutti em versão bilíngue (português/inglês), traz diversas informações e conta a história por trás da igreja.

 

Canto gregoriano protagoniza o repertório do Mosteiro de São Bento

Fundado em 1590 por monges vindos da Bahia, o mosteiro beneditino do Rio de Janeiro foi construído a pedido dos moradores da cidade. Erguido no morro de São Bento, no centro histórico, é um dos principais monumentos de arte colonial do país. O interior da igreja é forrado com talha de ouro, vindo de Minas, que vai do estilo barroco de fins do século XVII ao rococó da segunda metade do século XVIII. Os tetos foram pintados pelo frei Ricardo do Pilar, um importante pintor brasileiro, fundador do curso de artes no Rio.

 Eduardo de Holanda

O mosteiro tem como principal atração a missa dominical com canto gregoriano e órgão. Única na cidade, atrai muitos visitantes do Brasil e do mundo. O órgão é o segundo mais antigo da América Latina, original de 1773, vindo da Alemanha. De acordo com um dos guias da abadia, o estudante do 6º período de turismo Erich Okamura, a igreja recebe uma grande quantidades de turistas de fora do país:

 – Apesar de o número de brasileiros ser maior, a procura de estrangeiros pelo mosteiro é significativa.

Como o italiano Victtorio Simoncelli, que na semana passada visitou a igreja acompanhado da mulher, Cincia, e dos dois filhos Francesco, de 8 anos, e David, de 3. Vindos da pequena cidade de Potenza, eles encontraram uma forma "bem interessante" de aproveitar o tempo no Rio. Havia visitado a Candelária e seguiriam para o Paço Imperial. Encantado com a beleza do mosteiro, fez só uma resalva: “é escuro”

– Gostei muito. Achei muito bonito. Mas estou acostumada com as igrejas do meu país, que são mais claras e iluminadas. A diferença é grande – observou.

 Eduardo de Holanda

As visitas guiadas também atraem os turistas – e famosos. Okamura contou ter guiado, recentemente, o jogador da seleção de futebol Alexandre Pato e a namorada.

Ao lado da abadia, encontra-se um tradicional centro de ensino, o Colégio São Bento. Instituído em 1858, formou, por exemplo, Noel Rosa, Benjamin Constant e Villa-Lobos.

Na livraria do mosteiro, visitantes procuram, predominantemente, a medalha de São Bento, conhecida pela proteção contra o mal. Lá são vendidos cartões-postais da cidade e do mosteiro, imagens e artigos religiosos em geral, livros religiosos e sobre a abadia. A loja atende também aos alunos da Faculdade de São Bento, lona mesma rua, pois reúne livros de teologia e filosofia, cursos ministrados pela universidade.

Recomenda-se reserva para missa dominical com canto

As missas com canto gregoriano são celebradas de segunda a sábado, às 7h30 (estas não são solenes) e, no domingo, às 10h. Neste dia, às 18h20, é celebrada a missa rezada. Para a concorrida missa dominical com canto gregoriano, recomenda-se fazer reserva com, no mínimo, de 30 minutos de antecedência.

A visitação da igreja pode ser feita das 7h30 às 19h. É necessário traje adequado. A clausura do mosteiro não está aberta a visitas, com exceção do Domingo de Ramos e do Dia de Finados, nos quais o cemitério e o jardim interno ficam abertos ao público.

As visitas guiadas, de segunda a sábado, das 9h às 16h30, duram de 30 a 40 minutos. Custa R$ 10, com meia entrada para idosos e estudantes. Não há necessidade de agendar a visita com antecedência. Há três guias à disposição. Telefones: (21) 2206-8100 ou (21) 2206-8291. Endereço: Rua Dom Gerardo, 68 (acesso pela rampa) ou Rua Dom Gerardo, 40, 5º andar (acesso pelo elevador), ambos no Centro.

A livraria Lumen Christi está aberta de segunda a sexta, das 8h às 18h, e aos sábados e domingos, das 8h às 12h. Telefone: (21) 2206-8283. Endereço: Rua Dom Gerardo, 46, Centro.