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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Esporte

Santista lembra as aventuras para ver a final da Libertadores

Caio Lima - Do Portal

07/07/2011

Caio Lima

Todos sabem que vida de torcedor não é fácil. Sempre existe sofrimento. Este que aumenta significantemente quando se trata de uma final de campeonato. Este que só acaba depois de uma grande aventura para estar diante do time do coração, lá na arquibancada, com o grito de “campeão”. Foi assim para os torcedores do Santos Futebol Clube no último dia 22 de junho de 2011. “O dia que o time do Rei Pelé renasce e traz de volta a taça que, há 48 anos, não vem para a Vila”, anunciava com entusiasmo, na entrada do Pacaembu – estádio escolhido para a finalíssima da Copa Libertadores da América –, um torcedor de aparentemente 70 e poucos anos. Para quem mora em outro estado, ver os sucessores de Pelé a um passo da consagração significa dificuldades em dobro. A começar pelo preço do ingresso. Nas mãos de cambistas, habituais ou de ocasião, pagava-se mais que o dobro. A dois dias do jogo, a arquibanda custava, no barato, R$ 250.

A aventura de sair do Rio para ver o Santos tentar a conquista da América começou justamente na luta pelo ingresso. Depois de assistir a todos os jogos pela televisão, surgia a oportunidade (véspera de feriado) de ver de perto Santos e Peñarol, do Uruguai. Justo na partida decisiva!

O investimento foi grande, até para um apaixonado pelo Peixe. Quando o time se classificou para as finais, era preciso garantir ao menos uma passagem (de avião) para São Paulo. Se conseguisse entrada para o jogo final, na capital paulista, ótimo. Caso contrário, desceria a Serra do Mar rumo a Santos para acompanhar o cortejo festivo. (O time precisaria ganhar, mas isso era um "detalhe", diria Parreira). A segunda alternativa não era assim animadora, tamanha a vontade de estar no estádio

A venda de ingressos iniciou-se nove dias antes daquela quarta-feira decisiva. Aqui no Rio, começaram a ser feitos – via redes sociais – contatos para alguma alma santista garantir uma entrada, independente do setor. A resposta mais comum: "A diretoria só está deixando comprar um bilhete por pessoa, mas, você sabe, sempre tem gente que consegue mais de um. Se souber de alguém que tenha ingressos sobrando depois das vendas terminarem, te aviso".

Nessa fase da aventura, o sentimento já se chamava agonia. Dependia da boa vontade de alguém negociar o ingresso depois de terminada a venda nas bilheterias.

Sete dias se passaram e nada. Quando já parecia certa a trajetória entre o aeroporto de Congonhas e a cidade de  Santos sem parada no Pacaembu, surge – a 48 horas do início do jogo – uma mensagem no celular: "Um colega de estágio está com um ingresso sobrando. Arquibancada verde. Saiu na bilheteria por R$ 120 e agora está por R$ 250. Segura?"

Resposta: "Óbvio. Santos sempre Santos".

O grande dia

Torcedor, ansioso por natureza, não muda. Acorda cedo no dia do jogo decisivo porque não agüenta mais sonhar com o momento máximo do futebol: gritar "é campeão". Exatamente às cinco da manhã (duas horas antes do previsto) de quarta-feira, 22 de junho, começava o Dia D. Rapidamente, a mala estava pronta. Antes de sair para o trabalho, apenas uma conferida: passagem aérea (ok), três camisas e um agasalho do Santos (ok). A essa altura, só esses itens já bastavam. O ingresso só chegaria às mãos momentos antes do início da partida. O resto era resto.

Parecia que nada mais poderia dar errado. A única ameaça era um possível atraso no aeroporto do Rio. Não dessa vez: três minutos antes do previsto, o avião levantava voo. Logo veio à cabeça a superstição: “exatos três minutos são um sinal de três vezes campeão”. 

Na chegada a São Paulo, um encontro rápido com o pai saudoso. Ele leva a mala para Santos e dá uma carona a estação de metrô. Sem conhecer São Paulo, esta poderia ser a etapa mais difícil da jornada rumo ao Pacaembu. Não foi... Na troca de linhas do metrô, era só acompanhar o fluxo: bandeiras e camisas brancas espalhadas por todo lado mostravam o caminho. Ecoava-se o mesmo grito: “Vamos ser Tri, Santos!”

O pior (susto) estava por vir

Restava esperar pelos amigos e pegar o ingresso. Antes, uma parada na Praça Charles Miller. Uma cerveja para acalmar a ansiedade instalada no corpo desde manhã não faz mal a ninguém.

Na frente do Pacaembu, o clima era de confraternização. Torcedores de diversas gerações do Santos se uniam em torno do "bem comum". Mas uma preocupação cortou um pouco o clima: como o amigo que trazia o ingresso tinha chegado a São Paulo havia quase duas horas, já era para ele estar no Pacaembu, mesmo com o trânsito. Ligações e mensagens se sucederam. Nenhuma resposta. Batia um certo desespero de, depois de tanto esforço, ficar de fora da grande final. Melhor correr para o portão do setor Tobogã, no qual o torcedor com ingresso entraria. Feito isso, mais preocupação por não encontrá-lo. Hora de nova rodada de ligações.

Faltavam 45 minutos. Por mais desesperadora que fosse a ideia de não entrar no estádio, parecia consumada. Nem dinheiro suficiente para comprar outro ingresso de algum cambista havia. Mas a confiança no título continuava. Entrando ou não.

De repente, a exatos 34 minutos do início daquele Santos e Peñarol histórico, um número estranho chama no celular:

– Cadê você? Já estou na fila! Meu celular está sem sinal e não conseguia falar com você de jeito nenhum. Estou bem na frente de um ônibus cinza com faixa vermelha. Não tem erro. Corre que já estou muito perto de entrar! – disse, afoito, o salvador.

Achado o amigo, ingresso na mão, só restava correr as ladeiras em torno do Pacaembu e juntar-me aos 40 mil sonhadores. Testemunhas da história que se renovou depois de 48 anos: Santos Futebol Clube, tricampeão da América.