Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Campus

Pamplona: "É preciso repensar a formação do historiador"

Caio Lima - Do Portal

01/06/2011

 Stéphanie Saramago

Renovação é a palavra de ordem no Departamento de História da PUC-Rio, que pela quinta vez terá como diretor Marco Antonio Villela Pamplona. Ele tomou posse nesta quarta-feira  na sala do Conselho Universitário, em cerimônia que reuniu o reitor, padre Josafá Siqueira, S.J., diretores da universidade, professores e alunos. "Estou feliz pela escolha do Pamplona, por sua história familiar com a universidade, afinal fez a graduação aqui. Também gostaria de parabenizar o departamento pelo curso de ensino a distância", destacou padre Josafá. Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, Pamplona aponta o que será prioridade nessa nova gestão. “Renovação do quadro de professores e internacionalização são algumas das metas”, adianta. Apesar das dificuldades inerentes às ambições renovadores, o historiador está otimista: “O novo é estimulante”, anima-se. Para a projeção do curso no exterior, ele considera estratégica a busca de convênios de dupla-diplomação com universidades estrangeiras e a consolidação de “blocos internacionais de estudo em assuntos específicos”. 

Portal PUC-Rio Digital: Que legado adquirido na sua carreira e nas outras quatro gestões o senhor pretende levar para esse novo mandato?

Marco Antonio Villela Pamplona: Bom, falar de legado é uma coisa complicada. Mas, acredito que hoje eu esteja mais preparado e com mais experiência do que nas vezes anteriores. Espero que isso some positivamente. De resto, a expectativa de assumir um cargo como esse é ter a colaboração dos colegas, que é até uma condição para assumir o cargo.

Portal: Quais ações o senhor considera mais importantes, ou urgentes, para ampliar a qualificação no departameno?

Pamplona: Nessa nova etapa, eu colocaria em primeiro plano a necessidade de renovação. Passamos por um momento de transformação no departamento. Há dois anos éramos quinze professores permanentes. Mas, desses, alguns já estavam na casa havia muito tempo. No período, tivemos (quatro) aposentadorias não esperadas. Entraram cinco novos professores, e isso nos impõe desafios, pois alguns vieram de outro estado, por concurso, e precisam se entrosar com a dinâmica de trabalho, o que leva um tempo. Então, facilitar essa transição é uma das novas metas, além de ampliar o número de professores permanentes. Para isso, é necessário o segundo ponto a ser sublinhado como meta: a discussão curricular. É preciso repensar o que realmente é importante para a formação de novos historiadores. Afinal de contas, vivemos no século XXI cheio de novas tecnologias e áreas de estudo e uma velocidade de troca de informações incrível. O terceiro ponto de destaque é a internacionalização do curso, ou seja, investir ainda mais em convênios com universidades estrangeiras e em redes de pesquisa internacionais e até novas possibilidades de intercâmbio entre docentes e alunos.

Portal: Como lidar com essa renovação?

Pamplona: Eu acho ótimo. É esse sangue novo que me faz ficar otimista em relação ao futuro. A renovação incentivou seminários internos. Temos uma reunião de pesquisa feita uma vez por mês na qual cada professor apresenta seu projeto para os demais. É uma forma de quem já estava aqui mostrar para os novos o que fazemos e vice-versa. O novo, é um desafio, mas ao mesmo tempo é estimulante.

Portal: O intercâmbio é importante, mas talvez não seja bastante para cumprir a meta de internacionalização do curso. Que outras iniciativas são necessárias para consumá-la?

 Stéphanie Saramago 

Pamplona: Na prática, seriam mais convênios. Já existem movimentos nesse sentido. Há a possibilidade de ser fechada, em breve, uma parceria com a UNAM, do México. É importante a articulação com grupos de pesquisa no exterior. Por exemplo, eu participo há mais de dois anos, com a professora Maria Eliza Mäder (coordenadora da pós-graduação), de uma rede internacional formada por historiadores latino-americanos, espanhóis e portugueses. Pesquisamos a História dos conceitos no mundo ibérico. Precisamos garantir essas redes em diferentes níveis, ou seja, intercâmbio de alunos, intercâmbio de docentes, intercâmbio de pesquisas conjuntas. Essas coisas devem existir simultaneamente.

Portal: Ainda sobre intercâmbio, que ações podem ser implantadas mais rapidamente, levando em conta só os alunos?

Pamplona: Uma opção que pode importar além de eles irem cursar no exterior durante três, quatro, seis meses, e vice-versa, é a possibilidade de uma espécie de dupla-diplomação (como a PUC já faz em sistemas de intercâmbio). E, a partir de convênios com certas universidades – as americanas há muito tempo fazem isso –, formar blocos de cursos oferecidos também pela instituição conveniada, para se ter equivalência de contagem de créditos. Por exemplo, um bloco sobre História da América Latina. É algo que está sendo pensado.

Portal: A Copa, em 2014, as Olimpíadas, em 2016, ressuscitaram o projeto de revitalização do Centro e da região portuária do Rio. Como o Departamento de História da PUC-Rio pode contribuir para essa iniciativa e outras do gênero?

Pamplona: A questão já não é tanto com o Departamento de História. Temos uma linha de pesquisa na pós-graduação chamada História da arte e arquitetura do Brasil. Então, há um grupo de professores dando cursos de informação sobre essa área, mostrando a importância desse patrimônio e maneiras novas de se pensar essa questão. Poderiam, possivelmente, se vincular a projetos dessa natureza. No entanto, geralmente esses estudos são capitaneados pela prefeitura e outras instituições (Iphan, por exemplo) que se ocupam exclusivamente com isso.

Portal: Também não seria importante despertar nos alunos um olhar especial para a preservação da História e das histórias do Centro?

Pamplona: É verdade que se trata de um setor importante. A formação do curso, de uma maneira geral, abre a possibilidade para se preocupar com o patrimônio. Mas, fugiria um pouco da alçada do departamento atuar nisso especificamente. Então, a especialização do aluno deve passar por instituições que já são consolidadas e se dedicam a isso. Ficaria mais fácil se essas instituições oferecessem bolsas para os alunos, ou seja, abrissem oportunidades de estágio.

Portal: O senhor não acha que o departamento pode ser importante nesse sentido, ou seja, buscar um diálogo com instituições como o Iphan, até para propiciar a abertura de novos estágios na área?

Pamplona: Isso depende das pesquisas dos professores. Não são medidas administrativas que vão resolver. Temos várias pesquisas, monografias, dissertações e teses aqui no departamento sobre o tema. Em termos de conhecimento acumulado, há muito para subsidiar estudos que esses órgãos estejam fazendo, ou mesmo permitir que os alunos façam pesquisas aqui que possam ser utilizadas lá. Mas isso passa por iniciativas dos professores, quero dizer, é preciso ter gente trabalhando nisso e cabe aos professores fazerem esse movimento.

Portal: O Departamento de História já formou uma turma de graduação por meio do ensino a distância, que se tornou uma iniciativa bem sucedida. Que novidades são esperadas para qualificar ainda mais esse modelo?

Pamplona: A diferença é que na experiência passada (turma graduada em 2010), feita com o financiamento do MEC, todo o curso de graduação foi feito a distância. Partindo disso, observamos que podemos fazer esse curso em outra dimensão: cursos semipresenciais. Por exemplo, cursos de especialização poderiam ser ao mesmo com modalidade a distância e uma parte presencial. E a novidade seria a ampliação de especializações em diversas áreas, História da Arte ou África. Curso especializado seria mais viável, ágil e fácil de organizar.