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Rio de Janeiro, 23 de abril de 2024


Ciência e Tecnologia

Crescimento do 3D esbarra na qualificação de conteúdo

Carina Bacelar - Do Portal

31/05/2011

Arte: Luisa Nolasco

Se há pouco tempo produtos em 3D ainda eram “coisa de cinema”, eles já invadem salas domésticas, em aparelhos de TV que exibem imagens tridimensionais, e assumem novas utilidades. "O 3D vem se popularizando", avalia o engenheiro de suporte e aplicação da Panasonic, Renato Goya. Em telas grandes ou pequenas, o crescimento das produções em 3D, inclusive de documentário, só não é maior devido ainda ao descompasso entre a popularização da tecnologia e qualificação para se produzir conteúdos compatíveis com essa tecnologia. O diagnóstico é do professor do Departamento de Informática da PUC, Bruno Feijó:

– O pessoal que produz conteúdo ainda está aprendendo a lidar com o 3D, tanto do ponto de vista técnico quanto do ponto de vista artístico, de posição. A linguagem cinematográfica 3D é diferente, e as escolas não ensinam isso. Tanto que faltam especialistas na área.

Segundo o professor, as imagens tridimensionais "cansam" e, portanro, devem ser usadas com moderação e em ocasiões especiais. Por isso ele não aposta, por exemplo, em novelas inteiramente em 3D:

– Haverá sempre aquela novidade, de ver a atriz preferida em 3D, mas depois disso o espectador cansa. É preciso ter ir cautela – alerta.

Feijó também prevê, entretanto, que os recursos em 3D ganharão mais espaço na produção audivisual. Serão usados em vários tipos de programa e até na publicidade, "desde que apresente ao espectador um atrativo que justifique o uso dos óculos”.

– A produção de TV não deve ser predominantemente em 3D. À exceção de eventos como Copa e carnaval, com atrativos extras para justificar o uso dos óculos, eu não creio que haja um grande impacto na produção para TV. No caso dos videogames em 3D, as pessoas compram pela novidade, mas depois acabam jogando normalmente, em 2D – acredita ele.

Feijó observa uma distância entre os mercados mundial e brasileiro. Ele reconhece, porém, que “o Brasil está bem posicionado nessas novas tecnologias, tanto em termos de produtores quanto de público”.

– Podemos ter desde um mercado 3D na web, tipo de propaganda, até produções para o cinema. Há uma popularização porque a tecnologia em si não é muito complicada. Pequenos estúdios conseguem usá-la. Tudo depende da faixa de qualidade da qual o produto faz parte – pondera.

A tecnologia, que já foi um obstáculo para o 3D deslanchar, hoje se mostra acessível a quem faz cinema ou TV – mesmo em produtoras pequenas. É o que garante o engenheiro Renato Goya. Durante a semana ABC de Cinema, na PUC-Rio, ele apresentou algumas câmeras da empresa que tem como público-alvo o mesmo do seminário: estudantes e cineastas geralmente envolvidos em filmes de pequeno a médio porte.

– Nao há mais conteúdo em 3D de difícil acesso. A AG3DA1 (câmera de filmar), por exemplo, é de fácil manuseio, e foi pensada a partir da popularização desse conteúdo – exemplifica.

Ele explica que “a câmera 3D de fácil manuseio” é o acoplamento de duas câmeras de duas dimensões. Tal configuração permite que duas imagens do mesmo objeto sejam sobrepostas e criem a sensação tridimensional.

– Esses aparelhos têm algumas limitações, não capta imagens a distâncias muito longas nem muito curtas. A vantagem é o baixo custo – ressalva.

Especialista em telecomunicações, o professor da PUC-Rio Marco Grivet afirma que o 3D "é uma realidade não só em produções artísticas". Segundo ele, a tecnologia já assume funções corporativas. É adota, por exemplo, em mapeamentos e controle de circulação de pessoal.

– Nesses sistemas, as pessoas são vistas como avatares – explica.

Ele projeta que o tridimensional dará passos maiores em direção a telas ainda menores:

– As tecnologias audiovisuais já permitem ver 3D sem óculos. Isso abre caminho para que chegue ao celular. Acho que daqui a uns cinco anos isso se concretizará – aposta Grivet.