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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Cidade

Pesadelos transformam o dia a dia numa sexta-feira 13

Carolina Bastos, Gabriela Caesar e Igor Carvalho - Do Portal

13/05/2011

 Arte: Luisa Nolasco

Há trinta anos, o diretor Sean Cunninghan iniciou uma longa série de filmes de terror com o tema "sexta-feira 13" que reforçaria o estigma de data amaldiçoada. Para os supersticiosos, o assombro independe do holofote hollywoodiano. Para os céticos, é uma jogada de marketing. Em comum, céticos e supersticiosos enfrentam pesadelos reais no dia a dia carioca. Dos alagamentos ao trânsito parado, testam a fé numa cidade mais próxima dos cartões-postais e das ambições – e responsabilidades – de sede olímpica. Por outro lado, "amuletos" como a vista da Lagoa ajudam a vencer, ou suportar, tais fantasmas. Nesta sexta-feira 13, estudantes lembram algumas assombrações teimosas, sazonais, e contam as estratégias para superá-las.

Trânsito, o campeão entre as assombrações

A maioria dos estudantes entrevistados aponta o trânsito como o principal fantasma da cidade, capaz de "assombrar até as relações pessoais". Aluno de relações internacionais, João Pedro Espiuca diz que passa mais de três horas por dia ao volante, para trafegar por 50 quilômetros, no total. "Já até tratei mal meus amigos por conta do estresse no trânsito", confessa. Para vencer essa "maldição", Espiuca tenta transformar as horas de trânsito em um "momento reflexivo":

– Ligo uma música calma, penso na vida e tento relaxar.

De acordo com boletim da Secretaria Municipal de Transportes, algumas das áreas da Zona Sul mais castigadas pelo fantasma do engarrafamento correspondem à Autoestrada Lagoa-Barra e à Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa. Embora os horários críticos sejam das 7h às 9h e das 18h às 20h, essa assombração não tem mais hora programada. Alguns jovens optam pela Avenida Niemeyer por conta da vista de cartão-postal. O estudante de comunicação social Pedro Diverio prefere dirigir mais 2,5 quilômetros até a PUC-Rio do que pegar o Túnel Zuzu Angel:

– Mesmo com o trânsito da Niemeyer, é muito melhor do que ficar em um túnel fechado. Eu posso ver o mar, a montanha, a vista. Aproveitar o que o Rio tem de melhor – justifica.

A estudante de ciências sociais da Fundação Getúlio Vargas Marina Mendes também opta pela orla. Moradora de São Conrado, Marina sai de casa às 7h e retorna no fim da tarde. É quase impossível fugir do tráfego pesado. Para manter o astral, ela faz o caminho dobrado todos os dias, na ida e na volta da faculdade, só para olhar o mar:

 Luisa Nolasco 

– Eu gosto de andar de janela aberta, de sentir o ar fresco. Fico de bom humor o resto do dia.

Para o professor de engenharia industrial José Eugenio Leal, vice-decano no Centro Técnico Científico da PUC, o excesso de carros – combinado a deficiências de estrutura – é principal causa do trânsito da cidade. Para isso, “o carioca deveria optar sempre pelo transporte público, ainda que não tenha uma boa estrutura”, orienta. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, o ônibus ainda é o meio de transporte mais utilizado pela população do Rio de Janeiro, com uma frota em torno de oito mil coletivos. Na opinião de Leal, a construção de mais linhas do metrô na Zona Sul, conforme o planejado, tende a reduzir os congestionamentos.

Congestionamentos aumentam em 45 minutos diários o tempo que a estudante de publicidade Karina leva de Laranjeiras, onde mora, até a PUC-Rio. Com tráfego livre, o trajeto de nove quilômetros  duraria 12 minutos. Ela critica a precariedade do transporte público:

– Se o metrô ligasse toda a Zona Sul e a Barra, esse trânsito iria diminuir muito. O estresse seria menor.

Sem obras, fantasma dos alagamentos segue à espreita   

A chuva também atormenta a vida do carioca. Ou melhor, combinada com falhas de estrutura, sucessivos descasos do poder público e com a irresponsabilidade de cidadãos, a chuva forte frequentemente se transforma em transtorno e tragédia. No ano passado, levou à morte de 48 pessoas no deslizamento do Morro do Bumba, em Niterói. Nes ano, 905 morreram na torrente histórica que castigou a Região Serrana. No fim de abril, tornou a assustar os moradores do Rio, especialmente a Zona Norte. Mais uma vez, a Praça da Bandeira virou um rio. Na avaliação do engenheiro geotécnico e professor da PUC-Rio Alberto Sayão, os esforços para contornar esse problema crônico são de longo prazo. Exigem maior investimento do governo em órgãos como a Georio e a Rio-Águas, afirma ele.

Segundo o professor, o projeto inacabado do Clube de Engenharia de um Túnel Extravasor seria uma boa opção, pois captaria as águas que fossem extrapolar as calhas dos rios Joana, no Grajaú; Maracanã, na Tijuca; Macacos, no Jardim Botânico; e Rainha, na Gávea – que passa dentro do campus da PUC-Rio – para jogá-las no mar. Já o prefeito Eduardo Paes defende a construção de piscinões na Praça da Bandeira. O projeto de mais de R$ 200 milhões aprovado pelo PAC aguarda a liberação da verba pelo governo federal. A obra está programada para durar de dois anos e meio a três. Sayão observa que o projeto requer análise do espaço:

– Não há espaço físico adequado para colocar esses piscinões no canal do Mangue – alerta.

Outra medida recomendada por Sayão seria a manutenção dos bueiros aliada a uma campanha para educar a população a não jogar lixo nas ruas. Ele explica que "quanto menos as encostas sofrerem com a erosão, menor será o volume de sólidos carregados pelas chuvas até os rios". Assim, reduz-se o rosco de transbordamentos e, consequentemente, de enchentes.

– O fantasma não é só a chuva. São as encostas também. Muitas pessoas já morreram soterradas com deslizamentos. Por mais alguns anos, ainda não estaremos livres desses problemas – projeta Sayão.

 Mauro Pimentel 

Na última grande chuva que atingiu a cidade, no fim do mês passado, a aluna de comunicação Social Daniella Fleury, de 19 anos, viveu uma noite de desespero na Praça da Bandeira alagada. Como uma típica sexta-feira 13 dos folhetins:

– Tive de me refugiar na base do mastro, pois meu carro tinha parado no alagamento. Passar por aquela experiência foi surreal. É o tipo de situação que a gente vê na televisão, se comove, mas nunca pensa que vai experimentar. Senti muito medo, porque não sabia como agir – relembra.

O transtorno mudou a rotina da estudante nas semanas seguintes:

– Fiquei alguns dias sem voltar sozinha da faculdade. Precisava de alguém do meu lado. Fiquei traumatizada. Mas agora já passou, voltei ao normal.

Nos próximos dias, o carioca – teoricamente – não precisa se preocupar tanto com a ameaça molhada. Apesar dessa sexta-feira ter amanhecido com chuva, a previsão para o fim de semana é de alternância entre períodos chuvosos (baixa intensidade) e de sol.

– O fim de semana será de muitas nuvens, com o sol aparecendo algumas vezes durante o dia. Há possibilidade de chuvas à tarde e à noite, mas sem ressacas. 

Vandalismo, um fantasma que joga contra o próprio patrimônio

O fantasma que percorre as ruas da cidade destruindo o que vê pela frente é o mais irônico dessa lista. Causada pelos próprios moradoresm, a depredação do patrimônio público atinge todos os cariocas. Seja por vandalismo, seja por furto. Só no ano passado, foram furtados 28 mil metros de cabos elétricos. Somados aos gastos decorrentes de pichações, esses vilipêncios subtraíram R$ 700 mil dos cofres públicos.

 Carolina Bastos 

Depredações e furtos de fiação aproximavam os túneis Zuzu Angel e Acústico – principais ligações entre a Zona Sul e São Conrado/Barra – de um trem-fantasma. Na tentativa de afastar de vez essa assombração, a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos iniciou, em fevereiro, reformas nas galerias, orçadas em R$ 7,5 milhões. Para consumá-las, os túneis ficam interditados, no sentido Lagoa-São Conrado, de segunda a quinta, das 23h30 às 5h. Prevista para terminar no fim de agosto, a obra inclui a reformulação dos 784 pontos de luz (a nova fiação estará presa às laterais e ao teto, longe do alcance dos pedestres) e a pintura de branco, para melhorar a visualização dos motoristas.

Apesar dos frequentes atos de vandalismo, a Prefeitura descarta, por enquanto, uma campanha específica pela preservação do patrimônio público. O tema é abordado em sala de aula, nas escolas públicas, e em palestras direcionadas às crianças.

Inflação volta a assombrar

Conhecido só na teoria pelos mais jovens, o fantasma da inflação torna a assombrar os brasileiros em várias frentes. Há quatro meses, uma lei exigiu que os estacionamentos privativos de shoppings passasse a ser cobrado proporcionalmente à permanência no local. A medida despertou o efeito colateral do aumento de preços pelas empresas. O estudante Vitor Foguel passou a gastar R$ 100 por mês com estacionamento privativo, o que corresponde a pouco mais de 10% do salário de editor de imagem. Teve de buscar alternativas mais em conta:

– Às vezes, estaciono nas imediações em um condomínio próximo à PUC. É importante que haja opções mais baratas, dirigidas ao estudante – propõe.

Para o estudante de engenharia Nicolas Salame, o fantasma da inflamção ameaça o apetite. Ele conta que passou a frequentar nas barraquinhas em frente ao estacionamento da PUC-Rio e até pensou em trazer comida de casa, mas desistiu logo desta iniciativa. "Dá muito trabalho, tem que esquentar e é um trambolho na mochila", justifica.

O professor de economia da PUC Luiz Roberto Cunha, decano do Centro de Ciências Sociais. lembra que a pesquisa de mercado e a busca por opções com preços menores ajudam a combater a inflação. Ele observa, no entanto, que a fidelidade do cliente a um determinado produto ou serviço pode atrapalhar:

– A fidelidade dificulta a busca por outra opção, embora a concorrência seja grande. O estudante precisa perceber que ele tem outras alternativas – recomenda.

Entenda a doença

Conjuntivite contagiosa:

A conjuntivite é uma inflamação nos olhos. A região fica vermelha, edematosa, lacrimejante, com sensação de corpo estranho e as vezes com secreção. É relacionada aos hábitos de higiene dos indivíduos. O surto de conjuntivite se dá através da conjuntivite infecciosa, transmitida por vírus, fungos ou bactérias através do contato com esses. Entretanto, a conjuntivite transmitia por fungos é rara e leva muito tempo para se instalar.

A transmissão ocorre através do contato direto com os agentes transmissores, geralmente com a mão. Quem está com a imunidade baixa, o risco aumenta.

Prevenção:

Para prevenção, as mãos devem ser lavadas constantemente, ela não deve ser levada ao olho, e a troca de travesseiros e toalhas deve ser feita com frequência.

Tratamento:

O tratamento da conjuntivite viral – a mais comum nessa época do ano – é feita com colírio antiinflamatório e lubrificante ocular. Eles são efetivos na prevenção da formação da pseudomembrana. Devem ser utilizados toda hora. O tratamento da conjuntivite bacteriana é feito com antibióticos.

Outros tipos:

As conjuntivites não-contagiosas são as alérgica e tóxica. São conjuntivites secundárias, pois qualquer substância estranha que caia no olho pode desencadeá-las. A primeira ocorre em regiões de clima mais frio, atingindo pessoas predispostas a alergias. A segunda é causada por contato direto com algum agente tóxico, como fumaça de cigarro ou produtos de limpeza.

 

Conjuntivite

O atual fantasma da saúde do carioca é o surto de conjuntivite viral, desencadeado no fim do verão e início do outono no Rio de Janeiro. Alguns jovens, como a estudante de pedagogia da UFRJ Clarice Macedo sofrem com a doença, que pode durar até 15 dias. Segundo a Secretaria de Saúde, não há números exatos de casos na cidade, mas foi identificado um aumento nas últimas semanas, principalmente na Zona Oeste. A proliferação do vírus está relacionada com o calor e maior umidade.

Clarice teve conjuntivite viral recentemente. Ao acordar com "os dois olhos avermelhados e ardendo", foi imediatamente ao oftalmologista para verificar a inflamação. “Eu sabia que tinha um surto, não podia arriscar passar para outras pessoas”, lembra. Com o uso de um colírio antiinflamatório, aplicação de compressas de água quente e troca de toalhas e roupa de cama, a vermelhidão acabou em dois dias, mas ela continou o tratamento. Entretanto, os pais de Clarice foram contagiados. A estudante sentiu falta de mais informações sobre a doença: 

 – As pessoas, muitas vezes, não sabem o que fazer, podendo agravar o que antes era apenas uma inflamação – opina.

Segundo o oftalmologista da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio Flavio Rezende, a conjuntivite é uma inflamação que ocorre em qualquer época do ano, mas os casos geralmente são esporádicos. Rezende afirma que, nessa estação, os surtos são mais comuns no Rio. Ele esclarece, no entanto, que "esse ano não foi o pior, pois o agente causador da doença é um endovírus – que dura, em média, uma semana. Outras vezes, o causador foi o adenovírus, que dura duas semanas.

Ainda assim, o "pequeno surto" refletiu-se no próprio consultório de oftalmologia, no Hospital São Vicente de Paulo, na Tijuca. Foram registrados de 7 a 8 casos por dia.

Rezende destaca duas preocupações com a conjuntivite. A primeira é quando se forma uma pseudomembrana que recobre a conjuntiva ocular. Quando ela aparece, as medicações perdem o efeito e a inflamação se prolonga. Torna-se necessária a remoção dessa pseudomembrana. “É um processo extremamente doloroso que só pode ser feito com um profissional”, afirma o médico. Se o tratamento é feito desde o início, essa pseudomembrana não se formará. Por isso, Rezende aconselha a procurar imediatamente um médico, em caso de suspeita de conjuntivite.

A outra maior preocupação é o surgimento de infiltrados – problema imunológico causado pelo vírus que faz a córnea perder a transparência em determinadas áreas. Se esses infiltrados aparecem no centro da córnea, a visão pode ser prejudicada, com um embassamento. Mesmo com tratamento específico, essa complicação pode durar até um ano.

Patrimônios contra os fantasmas

A despeito dos problemas do dia a dia, a cidade do Rio ainda oferece atributos que honram o epíteto "maravilhosa". Desde as paisagens de cartão-postal até qualidades como o que a estudante de jornalismo Giovanna Bevilacqua chama de "noite eclética": 

– Cada sexta-feira é um programa diferente. Ser carioca é nunca cair na mesmice – diz.

Já para o estudante de teatro Raphael Castro, o privilégio do Rio é a beleza, "no geral": "A mulher carioca, a praia, os pontos turísticos". Raphael acha que o clima "perfeito" torna esses patrimônios ainda mais em evidência:

– Eu tenho sol, calor e gente feliz. Não preciso de mais nada. Até o trânsito é bonito, quando do lado do mar.

Assim como ele, Daniella também considera a paisagem como aliada no combate às assombrações.  Na volta da faculdade, ela vai pela Lagoa Rodrigo de Freitas:

– Eu olho para o Cristo Redentor, para a paisagem, e fico bem. Me traz uma sensação indescritível.