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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Opinião do Professor

Estados Unidos, Al Qaeda e o “jogo da velha”

Murilo Meihy - Do Portal

03/05/2011

Reprodução/Internet

Quando todos assistiram ao ataque às torres do World Trade Center em 2001, as reações dos espectadores não foram as mesmas em todo o mundo. Enquanto uma parte considerável das pessoas lamentava um episódio tão brutal e tenebroso, alguns festejavam. A imprensa internacional não teve pudores em difundir imagens de comemorações públicas, com jovens, em sua grande maioria, de países do mundo árabe-islâmico promovendo carreatas e dançando nas ruas de Gaza, de Islamabad e de muitas outras cidades dessa região. Naquela época, diante da morte cruel de cerca de três mil civis inocentes, aquela algazarra parecia mais uma demonstração da estupidez humana coletiva. 

Todos nós sabemos onde estávamos pontualmente no dia 11 de setembro de 2001, mas poucos de nós se lembram do quanto, ainda que por um instante, ficamos perdidos em uma confusão de sentimentos, que ora lamentava pela vida dos civis e ora se impressionava com a incompetência dos serviços americanos de inteligência. O problema é que, para muitos, esse sentimento de surpresa se confundiu com a impressão de que no jogo político internacional, algum tipo de “justiça” se fazia. Os Estados Unidos, em especial após a segunda metade do século XX, construiu sua imagem de “xerife” internacional. Os governos americanos transformaram o mundo contemporâneo em uma espécie de tabuleiro de “War”, cujo objetivo era “destruir o exército vermelho” e conquistar com dados viciados, o maior número de “territórios”. Porém, o 11 de Setembro mostrou ao mundo que a Al Qaeda havia cansado de jogar “Banco Imobiliário” e agora queria virar o jogo no tabuleiro do “War”.  Assim se explicava a euforia de muitos pelos atentados de 2001. Eram injustiçados geopolíticos que comemoravam o fato de não serem mais os únicos injustiçados no mundo. A verdadeira “democracia” não se realizava pela liberdade política, mas pela injustiça generalizada.

Depois de quase dez anos muita coisa mudou, pero no mucho. Osama Bin Laden foi executado e, imediatamente após o anúncio do fato, uma onda de jovens americanos saiu às ruas para celebrar a morte. Na madrugada de 2 de maio de 2011, nenhum time de futebol americano havia vencido o Super Bowl, nem era o momento para um desfile cívico de feriado nacional. Era apenas a boa e velha estupidez humana, que transforma o sentimento de vingança em justiça e que aproxima os jovens por uma espécie de “solidariedade invertida”. No fim, seja em Islamabad em 2001, ou em Washington em 2011, ninguém mais precisa brincar de “War” ou de “Banco Imobiliário”, quando sempre se pode reviver o “jogo da velha” estupidez humana. 

Murilo Meihy é professor de história comtemporânea da PUC-Rio.