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Rio de Janeiro, 16 de abril de 2024


Ciência e Tecnologia

Engenharia de software abre novas frentes de pesquisa

Caio Lima - Do Portal

03/05/2011

Luisa Nolasco

O desenvolvimento de softwares alinhados às exigências da era digital – como as novas formas de interação e relacionamento – é o grande desafio para os pesquisadores do setor. O diagnóstico foi compartilhado pelos especialistas reunidos no XIV Congresso Ibero-Americano em Engenharia de Software, de quarta a sexta-feira passada, na PUC-Rio. De acordo com o professor titular do Departamento de Informática da universidade Carlos José Pereira de Lucena, existem quatro "direções que prometem movimentar o mercado de softwares por muito tempo": tecnologia para pesquisa em ciência da web; cloud computer (computação nas nuvens, numa tradução simples); computação autonômica e sistema multiagentes.  

– A primeira delas trata de sistemas colaborativos, ou seja, como fazer novas mídias que afetam a sociedade como um todo. A segunda busca obter uma grande quantidade de computadores inter-relacionados, com aplicações das mais variadas. Já a computação autonômica é o desenvolvimento de softwares autoadaptativos com capacidade de organização e correção automática, sem a influência de um técnico. A última área remete ao desenvolvimento de “agentes” autônomos e proativos que possam representar o usuário quando estiver ocupado – explica Lucena.

Essas frentes representam mais oportunidades de trabalho. Na opinião do italiano Luca Cernuzzi, professor de eletrônica e informática da Universidad Católica Nuestra Señora de la Asunción, no Paraguai, a engenharia de softwares reúne "inúmeras oportunidades". Segundo ele, países da América Latina, “especialmente o Brasil”, estão ultrapassando fronteiras e conquistando outros mercados:

– Os países da região estão desenvolvendo diversos softwares e soluções também para o mercado internacional, o que há 10 anos era raro.

Cernuzzi observa que se estabeleceu um desafio a partir desse crescimento: procurar formas mais interessantes e úteis para desenvolver soluções que levem em conta os desejos, exigências e até emoções do homem contemporâneo de maneira mais rápida e eficiente.

– Normalmente, o processo para desenvolver um software demora mais tempo do que as soluções dos componentes eletrônicos do aparelho. O lado positivo é que já existe uma comunidade científica trabalhando na investigação dessas demandas e, além disso, a vinculação universidade-empresa está maior. Esse vínculo é interessante para que os resultados acadêmico-científicos não fiquem somente com grupos específicos e possam se converter em oportunidades de melhoria na produção e no mercado.

Na opinião de Guilherme Horta Travassos, engenheiro da Coppe/UFRJ, para se analisar o futuro desse mercado é preciso olhar para área de tecnologia de maneira mais “integrada”. Pois, segundo ele, hoje não tem como "dissociar as ideias de softwares, sistemas e engenharia".

– Pelo ponto de vista de demanda tecnológica, vejo uma necessidade de se começar a trabalhar sistemas embarcados (diferentes dispositivos executando funções específicas para agilizar o processo como um todo), que já é uma realidade no exterior; e de explorar a web à luz dos sistemas de integração, buscando entender toda essa parte científica relacionada à mídia.

Travassos acredita que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) serão as áreas nas  quais empresas "vão demandar mais profissionais do setor":

– Elas (as áreas referentes às TIC’s) desenvolvem aspectos que dizem respeito à cognição, usabilidade e à construção dessa tecnologia, não simplesmente ao uso dela – esclarece – Com isso, o leque de oportunidades é imenso em diferentes áreas. Ainda mais levando-se em consideração que o Brasil necessita de mais de 200 mil profissionais no setor para o país continuar crescendo – estima.

A demanda relativamente alta – e, em boa parte dos casos, urgente – por profissionais esconde, na avaliação de Lucena, um lado preocupante. Ele observa que "as chances são tão boas que muitos estudantes nem chegam a completar o curso":

– A conseqüência da falta de pessoal leva a empresa a investir em estudantes que muitas vezes nem chegaram à metade do curso, pois é melhor do que não ter ninguém. Isso pode até ser bom no curto prazo, porém, como a tecnologia muda constantemente, se o indivíduo não tem formação adequada, corre o risco de não estar preparado para futuras inovações – alerta.