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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cidade

Clube de Engenharia resgata plano contra cheias no Rio

Bruno Alfano - Do Portal

25/04/2011

Mauro Pimentel

No subsolo da Gávea, mora um elefante branco. Projetado para sanar o problema das enchentes na cidade, há, embaixo da rua Marquês de São Vicente até o Costão do Vidigal, um túnel inacabado com cerca de 1,5km de extensão e diâmetro comparável ao do Rebouças. A obra iniciada em 1973 e posteriormente retomada em 1989 previa a construção de uma galeria que captaria as águas que fossem extrapolar a calha do rio Joana, no Grajaú, do rio Maracanã, na Tijuca, do rio Macacos, no Jardim Botânico, e do rio Rainha, na Gávea – que passa dentro do campus da PUC-Rio – e jogá-las no mar. 

A intervenção serviria para resolver tradicionais pontos de alagamento como a Praça da Bandeira (Tijuca), a rua Pacheco Leão (Jardim Botânico) e a praça Sibélius (Gávea). A eficácia do Túnel Extravasor, como foi batizado, é garantida pelo engenheiro Luis Carneiro de Oliveira, diretor do Clube de Engenharia, que estudou o projeto quando trabalhava na empresa que participou e venceu o processo de licitação na segunda tentativa de implementação da obra, em 1989. Segundo ele, com o túnel, nem as chuvas de abril do ano passado, que pararam a cidade por uma semana, causariam problemas. 

– O projeto evitaria o caos daquele evento – garante Carneiro de Oliveira. 

Isabela SuedA beleza da constituição geográfica da cidade do Rio de Janeiro – com montanhas, serras baixas, lagoas e mar que encanta turistas do mundo inteiro – cobra um preço alto. Segundo o urbanista Augusto Ivan Pinheiro, professor do curso de arquitetura da PUC-Rio, o corte montanhoso da cidade produz uma bacia hidrográfica muito forte. O professor explica que, com a chuva, a água desce pela montanha para terras planas, onde a capacidade de escoamento é baixa e, quando a maré está alta, essa situação fica ainda mais complicada. 

– As terras do Rio de Janeiro são baixas, planas e submetidas às ações das marés e das chuvas. Quando coincide uma precipitação muito grande e a maré está alta, isso se agrava porque não há por onde escoar – explica o urbanista.

Além da geografia complicada, o crescimento desordenado da cidade prejudicou ainda mais a situação. Segundo Ivan, a área da Praça da Bandeira é um dos locais em que a ação do homem foi determinante para as enchentes. O lugar era ponto de concentração dos rios da Zona Norte e abrigava um manguezal que ia até onde hoje se situa a Cidade Nova. A geografia do local escoava toda a água que recebia para a Baía de Guanabara. Agora, a canalização dos rios e do mangue desequilibrou o sistema hídrico resultando em um ponto de constantes enchentes.

O Túnel Extravasor previa resolver o problema da captação das águas excedentes da Praça da Bandeira jogando-as no mar, em vez de despejá-las na baía. Para resgatar a obra, o Clube de Engenharia pediu uma audiência com o prefeito Eduardo Paes, que ainda não o atendeu. Segundo o presidente do clube, Francis Bogossian, a obra que já foi iniciada deveria ter continuidade. 

 Isabela Sued – A prefeitura não pode começar uma outra obra sem dar nenhuma explicação, quando já existe um projeto eficiente iniciado – argumenta o presidente.

De acordo com a Secretaria de Obras, entretanto, o projeto parece não ser viável. Mesmo sem levar à consulta dos órgãos competentes ou à audiência pública, o subsecretário da pasta, Mauro Duarte, afirma que o túnel não conseguiria o aval do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). 

– Eu não discuto a capacidade do Túnel Extravasor de resolver o problema. Mas acredito que ele é inviável. O projeto é de transposição de bacia [isto é: as águas que desaguariam em uma bacia, no caso a Baía de Guanabara e a Lagoa Rodrigo de Freitas, vão para outra, o mar] e isso é um problema, pois não é despejado apenas água, vai muita poluição junto – argumenta o subsecretário. 

O engenheiro Carneiro de Oliveira, defensor do projeto, concorda que poderá ser despejado esgoto no mar, se a Companhia Estadual de Águas e Esgosto (Cedae) não resolver o problema de saneamento. Ele destaca, entretanto, que esse problema deve ser resolvido independentemente de onde essas águas são despejadas. 

– Essa não pode ser a justificativa para inviabilizar o projeto. Esse esgoto não deveria estar ali de jeito nenhum. Hoje, jogamos esgoto no mar [pelo rio Rainha], na Lagoa Rodrigo de Freitas [pelo rio Macacos] e na Baía de Guanabara [pelo rio Joana]. Isso é um problema que a Cedae precisa resolver mesmo sem o túnel – argumenta.

 Isabela Sued

No lugar do antigo projeto, a Prefeitura planeja outro tipo de intervenção para conter as enchentes. Segundo nota oficial, a Subsecretaria de Gestão de Bacias Hidrográficas (Rio-Àguas) promoveu, em 2008, melhorias na drenagem da rua Major Rubens Vaz, o que beneficiou o entornou da praça Sibélius. Ainda nessa região, está programado, sem data definida, uma intervenção para liberar o fluxo das águas do canal da rua Visconde de Albuquerque. 

Para a Praça da Bandeira, o órgão projetou a construção de reservatórios subterrâneos para a água das chuvas. Além disso, vai construir um desvio do rio Joana, direcionando-o diretamente à Baía de Guanabara – assim, o canal do Mangue receberia menos água e não transbordaria para a rua em momento de chuva forte. A obra, que conta com recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), vai custar R$300 milhões de reais aos cofres públicos – mesmo valor do túnel extravasor. De acordo com o engenheiro da Rio-Águas Paulo Fonseca, o projeto da Prefeitura é melhor porque está afinado com o atual momento da cidade.

 Isabela Sued – O projeto do túnel é antigo. O plano atual vai disciplinar onde as águas ficam reservadas e, além disso, reforçar a calha do rio Joana com uma galeria paralela a atual, o que é importante para minimizar ainda mais o risco de transbordamento – explica Fonseca.

O engenheiro Luis Carneiro de Oliveira não concorda. Para ele, além do projeto da Prefeitura contemplar apenas a Zona Norte da cidade, no período de sua execução, estimado em dois anos, "o trânsito em torno da obra vai ser o caos". 

– Esse novo canal vai cortar muitas ruas. Vai ser um inconveniente enorme para a população. O projeto de 1973 não, pois é um túnel. Ninguém vai ver a obra – argumenta.  

O projeto da Prefeitura para a Praça da Bandeira já foi aprovado pelo Ministério das Cidades e está em análise na Caixa Econômica Federal. As melhorias da região são prioridades e estão no Caderno de Encargos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, pois a região compõe o entorno do Maracanã. Segundo o subsecretário de Obras, Mauro Duarte, a obra deve começar entre os meses de julho e agosto. 

Conheça o trajeto

O trajeto em azul representa a obra que já foi realizada, e em vermelho  o que falta para a conclusão do projeto. 


Visualizar Túnel Extravasor em um mapa maior