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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


País

PSD marca enfraquecimento ideológico dos partidos

Laís Costa - Da sala de aula

14/04/2011

Mauro Pimentel

O surgimento do PSD, cuja fundação foi formalizada ontem (13/04), trouxe à tona uma reconfiguração na estrutura partidária brasileira. Segundo especialistas, a criação do novo partido representa uma tendência de enfraquecimento das ideologias e uma busca pragmática pelo posicionamento de centro, com o intuito de conquistar novos eleitores. Dentro do atual quadro político-partidário, as fronteiras entre direita e esquerda, antes muito bem demarcadas, estão se desfazendo. Os partidos ditos liberais, que seguem os preceitos de direita, têm desaparecido e os representantes trocado de ideologia. Em contrapartida, os de esquerda têm assumido uma posição mais de centro-esquerda.

A direita e a esquerda no Brasil têm um histórico de forte oposição no período da ditadura, onde a direita apoiava o governo militar e a esquerda se posicionava contra. Nos anos 1990, houve uma redefinição, poucos partidos adotaram o discurso da luta de classes e a grande maioria defendeu o reformismo. Em tese, os pólos partidários ainda existem. Na prática, o que antes eram extremos caminham hoje em direção ao centro.

No dia 18 de março, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab anunciou o desligamento do DEM e a criação do PSD, Partido Social Democrático, um partido “nem de direita, nem de esquerda”, segundo declarações do próprio Kassab para o jornal Folha de São Paulo.

Para o cientista político Ricardo Ismael, o que acontece hoje é um realinhamento das forças partidárias. Apesar da nova distribuição dos partidos, no entanto, segundo ele, não se deve falar de crise na direita, mas do DEM. “O Kassab saiu do DEM porque percebeu que o partido não tinha mais uma viabilidade eleitoral e formou o PSD para caminhar em direção à base da Dilma. Ou seja, ele tenta se afastar do DEM porque acredita que há uma rejeição em relação ao partido”.

Essa não é uma esperteza apenas do prefeito de São Paulo, muitos políticos têm buscado o centro à procura de novos eleitores. “Muitos estudos mostram que a maior parte do eleitorado se posiciona no centro, ocorrendo uma pequena variação entre centro-esquerda, ou seja com preocupações igualitárias, e centro-direita, que privilegiam mais a questão da liberdade, mas é difícil encontrar eleitores com ideias extremistas. "Do ponto de vista eleitoral, é racional caminhar para o centro, o que torna o discurso dos candidatos pasteurizado”, declarou Ismael.

O cientista político Eduardo Raposo também acredita numa reconfiguração dos partidos em direção ao centro por um apelo eleitoral. “A perda da ideologia hoje é uma realidade. Os partidos que se radicalizam muito em suas posições acabam agradando uma quantidade muito menor de eleitores. Existe hoje esse pragmatismo”, afirmou Raposo.

Mas, ele também acredita que o quadro político brasileiro que vivemos mostra uma oposição completamente enfraquecida. “O fato de [o ex-presidente] Lula ter se reeleito e ainda ter colocado a [atual presidenta] Dilma como sua sucessora, mostra sim um enfraquecimento da direita. O governo é de esquerda, uma esquerda dentro da lógica capitalista, e não existe nenhuma oposição forte a ele”. Todas as ideias, tanto do governo quanto da oposição, seguem a mesma linha.

No Brasil existem muitos partidos, essa é uma característica boa se levada em conta a representatividade, afinal a sociedade se expressa através deles e está sendo representada. Mas, como instituições, a multiplicidade gera perda de força e credibilidade, o que faz com que lideranças pessoais acabem adquirindo mais espaço e potência do que a ideologia partidária.

Segundo Raposo, é exatamente essa ideia que o prefeito de São Paulo tem aproveitado na criação do PSD. “O PSD, até agora, é um partido sem identidade. O Kassab está tentando aglutinar lideranças e não sabe, quando estiverem juntas, que tipo de perfil partidário vão seguir.”

Kassab declarou à Folha de São Paulo, dias após sua saída, que estava deixando o DEM porque não gostaria de estar em um partido que tinha como obrigação estar na oposição, mesmo quando não concordava com o governo.

Índio da Costa, político que deixou o DEM para seguir Gilberto Kassab, declarou em seu twitter que “mudar de partido não significa mudar de lado”, e que independente do partido que estiver, continuará na oposição. O que só confirma a ideia que os políticos têm mais força do que os partidos ao qual pertencem.