A derrubada dos governos da Tunísia e do Egito iniciou uma onda de protestos por todo o mundo árabe. Homens e mulheres combatem lado a lado em uma aparente igualdade pouco vista na região. Segundo especialistas, a elite jovem, que teve acesso a educação, lidera o protesto na região, reivindicando governos que respeitem a população. Depoimentos como o da estudante Raheel Allulu, de 22 anos, do Bahrein, e da enfermeira Sabah, de 25 anos, do Iêmen, que participam dos protestos, projetam uma nova esperança para os direitos femininos no mundo árabe.
– Estamos lutando lado a lado. Homens e mulheres com direitos iguais – afirmou Raheel, ao Portal, via internet.
A universitária contou que a polícia reprime com violência os protestos. Logo no primeiro dia, ela sentiu na pele a repressão.
– Era um protesto pacífico. Carregávamos flores para simbolizar a paz. Quando chegamos no principal ponto de encontro, a Praça da Pérola, os militares abriram fogo contra nosso grupo. Meu tio tentou conter os soldados e foi morto na frente da família – lembrou.
No Bahrein, em 18 de março, as tropas do rei Hamad al-Khalifa – que está no poder desde 2000 –, cercaram a Praça da Pérola com ajuda do Exército saudita e destruíram o monumento que dava nome ao local, composto por seis hastes com uma pérola no topo. A estátua foi construída em 1980 para marcar a reunião do Conselho de Cooperação do Golfo, grupo formado por Bahrein, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Qatar e Omã, que, antes do petróleo, tinham na pesca de pérolas sua principal atividade econômica.
Segundo Soukeina Bouraoui, diretora executiva do Centro das Mulheres Árabes para Treinamento e Pesquisa (Cawtar), os protestos não garantem o surgimento de regimes democráticos na região.
– Entre os processos de instauração de uma sociedade democrática, há o direito ao voto e o pleito de cargos públicos. Nós mulheres teremos que nos esforçar bastante para garantir a paridade de opinião, de voto e de ação – afirmou Bouraoui que, para ela, a única revolução que apresentou propostas de cunho democrático é a da Tunísia.
Segundo a brasileira Sônia Ambrósio, coordenadora do Departamento de Jornalismo da Universidade de Sohar, em Omã, onde vive há dois anos e meio, as mulheres árabes precisam enfrentar os limites impostos pela família e a sociedade.
– A limitação vem de dentro da família. São os pais, maridos e irmãos que impedem o desenvolver da mulher – disse.
A jornalista conta que os protestos são o resultado de uma mudança de postura concentrada nas grandes cidades onde mora a juventude educada e rica. Essas pessoas conhecem outras realidades e, ao confrontá-las com o poder absoluto de reis, sultões e famílias que se perpetuam no poder, começam um processo de rebeldia.
– A juventude está cansada dos ministros e governantes velhos que por décadas usufruem das regalias do poder. Eles não se importavam com as demandas dos jovens e agora, com os protestos iniciados, não conseguem estabelecer diálogo – relatou Sônia.
Cada país está respondendo ao clamor das ruas a sua maneira. Em Omã, o sultão Qaboos distribui empregos públicos e, ainda assim, os protestos se espalham para o interior. No Bahrein, as tropas do rei Hamad al-Khalifa com apoio da Arábia Saudita, reprimem os rebeldes com violência. No Iêmem, segundo Walid Al-Saqaf, editor-chefe do Yemen Times, em entrevista para o The Real News, o governo de Ali Abdallah Saleh já não controla áreas do Norte e Sul. Ele alerta que a pobreza e a conivência de Saleh fazem com que grupos extremistas como a Al-Qaeda cresçam no país.
– O governo está falido. A corrupção do rei e a pobreza beneficiam o crescimento de adeptos de grupos como a Al-Qaeda – diz Walid.
"Todos ajudam como podem". Assim define a enfermeira Sabah, de 25 anos, que desde o começo dos protestos cuida dos rebeldes feridos. Para ela, a participação feminina será plena, caso a revolta tenha sucesso.
– Esperamos participar da construção do país moderno que buscamos em nossos protestos. Estou aqui porque acredito que podemos ter uma sociedade igual para homens e mulhres – diz Sabah.
No Bahrein a estudante Raheel Allulu está apreensiva. Ela continua nos protestos, mas confessa que não se sente segura sequer em sua casa.
– A polícia ataca a casa dos militantes no calar da noite, prendendo e espancando homens, mulheres e crianças. As pessoas estão sumindo. Não há segurança sequer em nossas casas – conta Raheel.
Segundo a ONU, além das 17 mortes, há mais de 100 pessoas desaparecidas no Bahrein. Para Raheel, o processo de revolução, apesar da forte repressão, não tem volta.
– Queremos viver uma vida decente, queremos ter a liberdade de opinião e de nossa política. Queremos nossos direitos. Eu quero poder falar sem que o governo me prenda por isso – afirmou.
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