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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

Bichos e crianças põem estudante "no páreo" dos livros

Carina Bacelar - Do Portal

25/03/2011

 Arquivo pessoal

Desde pequena fissurada em esportes, a estudante de jornalismo da PUC-Rio Renata Aragão transitava por diversas modalidades. Praticou basquete, sapateado, tênis, futebol, balé, judô. Mas foi aos 18 anos que encontrou o “seu” esporte: o hipismo. Algo nada inesperado para uma amante também dos animais. Hoje, aos 22 anos, fora dos páreos desde 2009 por um acidente, a jovem dedica-se a um novo esporte: a escrita. Realizado com o hipismo, o desejo de aproximar-se dos bichos desdobrou-se no livro ABC dos animais – que será lançado neste domingo, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. A publicação é a primeira de uma série voltada para crianças de 3 a 8 anos em processo de alfabetização.

– Eu amo os animais e os livros desde pequena. Dividir esse amor com as crianças sempre foi um sonho meu – justifica.

Renata tem uma história marcada pela precocidade. Casou-se no mesmo ano em que entrou na PUC, em 2007. Aos 18 anos, já tinha um enteado de 2. Hoje, aos 7 anos, João Pedro serve de parâmetro e inspiração para os livros da estudante. A aluna de publicidade e jornalismo tem se especializado na comunicação com o universo infatil. Mas uma terceira graduação, em pedagogia, está descartada por enquanto.

– Eu nunca tinha pensado nisso até meu professor de Metodologia me perguntar se eu queria cursar pedagogia. Mas não é a área que mais me agrada – disse, acrescentando que o livro teve a assessoria de um grupo de pedagogos.

A experiência com os pequenos e com a educação já integra o currículo de Renata. Com apenas 15 anos, ela deu aulas voluntárias de educação física em uma escola pública no Leblon.

Pela “forte relação com os animais”, ABC dos Animais tem “um viés de consciência ecológica”.  Foi ela mesma quem tirou quase metade das fotos da publicação, parte em viagens e parte dos seus bichos de estimação (“Tenho cinco pássaros”). A comunicação visual é um aspecto muito importante do lançamento, que investe também na alfabetização dos deficientes auditivos.

– O livro é totalmente fotográfico. Todas as imagens são grandes, em alta resolução. Como é destinado à faixa etária de 3 a 8 anos, para os pequeninhos de 3, 4 anos, a imagem é bem importante – observa.

A curiosidade que Renata em aprender as libras, linguagem para deficientes auditivos, foi um estimulo para também dedicar o livro à alfabetização de crianças com essa característica. Desde 2008, ABC dos Animais começou a ser pensado, ela já havia aprendido a soletrar na linguagem de libras. Mas ainda “lhe faltam as palavras”: ela não domina o gestual.

– Eu acredito que há ainda um preconceito por parte dos pais de misturar a educação de crianças com e sem deficiência. Na realidade, isso só agrega – opina.

Durante os dois anos até a finalização do projeto, o mais difícil, segundo Renata Aragão, foi conseguir imagens para animais com inicias de todas as letras do alfabeto, incluindo as pouco usadas w, y e z. Apesar disso, ela não teme os desafios do mercado editorial e pretende seguir uma carreira na área. Renata não pretende trabalhar em redações, mas acredita que a técnica e a prática (como as aulas de diagramação) aprendidas ao longo do curso de jornalismo sejam fundamentais para se desenvolver:

– Eu quero continuar escrevendo. O mercado editorial tem muito a evoluir – adianta, revelando que também teve uma ajuda do irmão Raul, designer.

Fã da prosa do jornalista e escritor Zuenir Ventura, Renata escreve com mais desenvoltura para outro gênero, a poesia. Nos poemas, deixa de lado a objetividade de uma jornalista e a inocência de quem tem as crianças como público. Ela conta que até tem rascunhos de romances para adultos, “já que muita gente não considera livros infantis livros de verdade.” Sem temer o rótulo, a jovem escritora não esconde a preferência pelos pequenos:

– Eu gosto dessa área infantil. A gente precisa mudar o mundo começando pelas crianças.

Um dos motivos dessa predileção, destaca a estudante, é a “troca espontânea” com os leitores mais novos:

 – Cem livros foram doados para o Instituto Nossa Senhora de Lourdes e eu pude perceber que as crianças ficaram felizes de verdade. Essa troca me faz sentir recompensada.