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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


País

Debate condena prioridade no Conselho de Segurança

Bruno Alfano - Do Portal

22/03/2011

John Mcllwaine/UN Photo

Reunidos para discutir a visita do presidente Obama ao Brasil, especialistas afirmaram que o assento permanente no Conselho de Segurança da ONU não deve ser prioridade da política externa brasileira. O encontro ocorreu na Fundação Getúlio Vargas, nesta segunda-feira (21/03). De acordo com o professor Marcelo de Paiva Abreu, por exemplo, do Departamento de Economia da PUC-Rio, o Brasil não deveria “bater à porta” do fórum.

– A entrada do Brasil no Conselho de Segurança é uma ideia fixa que não faz muito sentido. O Brasil tinha que trabalhar para ser considerado líder regional da América Latina. Quando houver uma reforma no fórum, aí sim ser convidado a entrar – afirmou o professor. – O país tem que se firmar como interlocutor imprescindível no cenário internacional.

 Mauro Pimentel O professor Maurício Santoro, do Centro de Relações Internacionais da FGV, concorda que o ingresso no conselho não deveria ser prioridade do Itamaraty. Segundo o especialista, ter esse papel significa, por vezes, participar de decisões que não afetariam o país.

– Com o assento no Conselho de Segurança, em caráter permanente, o país vai ser cobrado a tomar decisões em crises internacionais que, em muitos casos, não afetam o Brasil diretamente ou afetam de maneira secundária. Isso implica custos, além de certo desgaste. Será que isso é interessante para o Brasil? – questiona o professor, em entrevista ao Portal.

Na visão de Santoro, é possível que a atual posição seja mais confortável.

– Em muitos casos, pode ser interessante continuar com a postura que o Brasil tem atualmente: é um país que participa com muito frequência do conselho como membro não permanente, mas não necessariamente em caráter integral.

No debate, que foi mediado pela jornalista Cláudia Antunes do jornal Folha de São Paulo, o diplomata Luiz Augusto de Castro Neves afirmou que não vê os atuais membros permanentes colocando a reforma do Conselho de Segurança como prioridade. Para ele, as mudanças, se ocorrerem, só serão realizadas no longo prazo. Além disso, pesa contra o Brasil o fato de sua candidatura não ser popular na América Latina.

 Mauro Pimentel – Há a concorrência da Argentina, que já está enfraquecida, e, mais atualmente, do México.

Na visita de Barack Obama, o presidente americano afirmou que tem “apreço” pela entrada do Brasil no conselho, posto que o país pleiteia desde a criação do fórum, em 1945. No debate, o professor Matias Spektor, do Centro de Relações Internacionais da FGV, afirmou que a declaração não foi trivial e “nunca houve uma abertura tão grande”. No entanto, segundo o especialista, se o país quiser mesmo o lugar deveria expor mais seu projeto para as grandes discussões internacionais.

– Ao Brasil falta dizer exatamente qual é o projeto brasileiro para a promoção da democracia; qual é o projeto para a paz no oriente médio; qual a visão brasileira sobre o papel da China e da moeda da China nas relações internacionais; o que o Brasil acha que as grandes potências deviam fazer para honrar o compromisso de desarmamento; como pretende lidar com os descontentamentos dos seus vizinhos menores em relação ao estado atual do Mercosul; ou seja, mais do que poder bélico, precisa mostrar por que o mundo melhoraria se o Brasil tivesse voz – explicou ao Portal.

 Mauro Pimentel Considerada como o marco de uma nova fase nas relações bilaterais entre os dois países, a vinda do presidente americano cumpriu as expectativas. De acordo com Marcelo de Paiva Abreu, da PUC-Rio, Brasília e Washington devem reatar as boas relações, estremecidas nos últimos anos.

– A visita limpou a área onde pode ser colocada uma conversa sobre concessões.

Na avaliação do professor da PUC, essa foi a razão pela qual temas divergentes, como a questão nuclear iraniana e a disputa política em Honduras, não foram abordados na visita. Já para o pesquisador Geraldo Zahran, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU), a visita fortaleceu o Brasil no cenário internacional.

– O debate subiu de nível e o Brasil conseguiu conquistar algum reconhecimento que almejava – afirmou.