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Rio de Janeiro, 18 de abril de 2024


Economia

Tragédia japonesa tende a aumentar pressão inflacionária

Caio Lima - Do Portal

22/03/2011

Arte: Luisa Nolasco

A tragédia japonesa acende o alerta sobre o risco de tsunami na economia global. Para o economista Luiz Roberto Cunha, decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, o panorama é "incerto". Como o desastre na usina de Fukushima tende a fazer o mundo pisar no freio em relação à energia nuclear, Cunha projeta um salto no preço do petróleo e derivados. Ainda seria prematura, contudo, a previsão de uma cascata inflacionária com reflexos no Brasil.

Especialistas divergem sobre a projeção dos impactos do drama japonês na economia brasileira. Para Mônica Baumgarten, professora do Departamento de Economia da PUC-Rio, embora o efeito a curto prazo no Brasil possa ser positivo – decorrente da busca japonesa por minérios de ferro e aço para a reconstrução –, ela acredita que, a médio prazo, “a inflação mundial terá impactos mais fortes no Brasil, pois aqui já é alta”.

– O Japão terá de buscar outras fontes de energia para alimentar sua grande indústria. Como é a terceira maior economia do mundo, isso vai representar uma parcela significativa da demanda global (de energia). Naturalmente, os preços serão puxados para cima.

Já Cunha vê um panorama positivo para o país a médio e longo prazos. Ele atribui essa visão otimista a três fatores: riqueza dos recursos como alimentos e (potencialmente) petróleo; menor vulnerabilidade a catástrofes naturais; e geopolítica "tranquila" (referindo-se, em especial, à crise no mundo árabe).

– No médio prazo o Brasil pode se beneficiar dessa situação ruim, pois tem um potencial de ser um fornecedor de bens que o mundo vai demandar, tanto na área agrícola quanto de energia. A longo prazo, acredito que grande parte da produção mundial possa a vir se localizar no Brasil. Isso, se feito de forma correta, seria muito bom para o país.

Reinvenção e reconstrução

Os dois economistas são unânimes ao avaliar que a tragédia acertou o país asiático num "momento ruim". Lembram que, diferentemente de 1995 (quando 'aconteceu o terremoto de Kobe), o Japão registra déficit elevado e uma dívida pública na ordem de 230% do PIB – a mais alta entre as grandes economias.

– Já olhando para meados de 2012, a economia japonesa vai voltar a se recuperar, como é comum vê-la.  Terá que reinvestir e se reconstruir. Mas o Japão enfrentará uma dificuldade energética. Isso pode dificultar a rapidez da recuperação – avalia Cunha.

Ao contrário de fontes alternativas de energia, os preços de commodities – principalmente agrícolas e minérios de ferro – sofreram desaceleração após a tragédia. Mônica acredita, que esse é um cenário de curto prazo:

– [Os preços das commodities] estão caindo porque a primeira reação é que isso pode ser um freio na retomada da recuperação global, e de fato pode. Mas pensando a médio  prazo, quando já tiver passado da fase inicial de susto, certamente vai ocorrer uma alta nesses preços.

Pressão inflacionária

Para Cunha, a queda nos preços desses tipos de commodities, a curto prazo, segura a inflação no mundo e no Brasil. No entanto, ele concorda com Mônica em relação à perspectiva de alta dos preços "num segundo momento".

– O cenário de 2012, com a recuperação da economia japonesa e a retomada do crescimento dos Estados Unidos, é um cenário de pressões sobre preços de commodities de uma forma geral. Isso porque existe uma escassez delas no mundo e a população tem aumentado o poder aquisitivo mais do que a capacidade de produzir alimentos – explica o especialista.

Grande exportador nos setores automobilístico e de eletroeletrônicos, o Japão terá, no curto prazo, dificuldade para fornecer peças a essas indústrias, projeta Cunha. Na busca de alternativas pelo mercado mundial, outro país asiático poderá se beneficiar, acredita o economista:

– A China, possivelmente, irá se beneficiar nesse primeiro momento, porque ela tem capacidade de replicar essas produções. O Japão vai ser substituído, pois no mundo globalizado de hoje qualquer um que perca o lugar já tem outro para substituir, ainda que sem mesma qualidade – pondera.

Para Mônica, o quadro econômico é preocupante “porque as cadeias produtivas são muito interligadas”. Ela diz que a indústria automobilística, por exemplo, “deve ser tratada com muito carinho”, pois movimenta uma série de outros segmentos:

– Principalmente quando levamos em conta a grande ligação entre as indústrias japonesa e americana, e entre a indústria japonesa e da Ásia, as turbulências no Japão adquirem um risco maior.

Cunha lembra que as vacinas contra a contaminação dos solavancos econômicos é a injeção de recursos. Assim fez o Banco Central do Japão. "O problema é que outros países não podem fazer o mesmo atualmente", pondera.

– Estamos numa situação muito adversa. O resto do mundo não pode ter políticas expansionistas para recompensar a queda do Japão, pois já vem fazendo isso desde a crise deflagrada em 2008.

O Brasil no tsunami econômico