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Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2024


Mundo

Jovens têm novo olhar sobre o 11 de Setembro

Sarah Lemos - Da sala de aula

23/02/2011

Foto: LatinStock / Arte: Isabela Sued

Na manhã de terça-feira, 11 de setembro de 2001, Andrew Riplinger, então com 15 anos, acordou, saiu de sua casa, em Algonquin, em Illionois, e foi para o colégio Marian Central Catholic High School, em Woodstock, onde cursava o 2º ano. Foi o professor de Educação Física que anunciou, confuso, que as Torres Gêmeas haviam sido “bombardeadas”.

Assim como Andrew, muitos foram sabendo ao longo do dia o que realmente tinha ocorrido, acompanhando pela TV, desnorteados, curiosos e chocados. No caminho para casa, Andrew e o amigo escutaram no rádio as informações, mas foi quando chegou em casa que ele sentiu o impacto das imagens dos aviões atingindo as torres.

- Fiquei horrorizado. Não conseguia imaginar o que era estar no avião ou nas torres. Fiquei desorientado e desiludido, pensando "Quem fez isso e por quê?". Tinha medo de que a minha cidade fosse atacada e de entrarmos em guerra, mas não tinha ideia contra quem. Todos estavam chocados, alguns conheciam pessoas que estavam nas torres. Um colega saiu no meio da aula chorando, porque seu tio trabalhava lá - conta Andrew.

O episódio, que viu de longe, foi definitivo em sua vida. Hoje, aos 24 anos, ele é graduado em Ciências Políticas, faz Pós-Graduação em Estudos Internacionais e coordena o Projeto Internacional de Prevenção de HIV, da DePaul University, de Chicago, no Quênia:

- Olhando para trás, os ataques tiveram enorme impacto na minha vida, que, antes, consistia em minha cidade, minha escola, minha família e meus amigos. Não pensava sobre as questões do mundo e como os países nos veem. Eu ignorava política global, e, os atentados foram definitivos para meu interesse, escolha na universidade e participação no movimento anti-guerra. Antes, eu não tinha intenções de ser ativista e de olhar para o mundo fora do meu umbigo. Esse alargamento de visão aconteceu para muitos de meus colegas, também por causa das guerras no Iraque e Afeganistão. Agora entendemos que o que acontece no exterior tem um impacto nas nossas vidas, por isso precisamos saber se nosso governo está agindo com justiça no mundo, promover nossos ideais e não abusar do poder, como EUA no Iraque.

Além de Andrew, muitos jovens mudaram suas impressões sobre o incidente, desde 2001, quando ainda eram adolescentes e estavam no colégio. A garçonete Estela Mota, de 25 anos, formada em Serviço Social pela UFRJ, confessa que, ao assistir às imagens naquele dia, até gostou. “Achei aquilo revolucionário. Não gostava dos EUA e nem sabia o porquê. Hoje me coloco no lugar das pessoas e me choco com as imagens delas se jogando”, conta ela, que está fazendo intercâmbio em Nova York. Já o publicitário Walmir Junior, recém-formado pela PUC-Rio, tinha apenas 13 anos e também mudou seu pensamento nove anos depois:

- Quando os professores do colégio avisaram, meio confusos, achei que não fosse verdade. Achava a segurança americana intocável, por causa dos filmes. Mas, mesmo quando a ficha caiu, aquilo não me chocou, assisti como um filme. E ao mesmo tempo me sentia impotente. O mundo poderia acabar e eu não podia fazer nada. Hoje, penso que se um ser humano comete suicídio jogando um avião contra outros, tem algo de errado com o mundo.

O publicitário Danilo Soares, de 23 anos, também ficou sabendo dos ataques no colégio, de forma confusa: “Um professor contou que os EUA tinham sido invadidos, que tinham helicópteros, pessoas atirando e mais de 150 mil mortos. Achávamos que era a Terceira Guerra Mundial”. Depois, Danilo assistiu na TV o que realmente estava acontecendo. “Fiquei perplexo com o impacto do avião, mas só tinha 14 anos, que opinião iria ter?”. Ele confessa que pensa diferente de seus ex-colegas de faculdade da PUC-Rio, que, para ele, “amam os EUA”. “Eles matam milhões na guerra e escravizam os pobres pra produzir suas coisas todos os dias, mas ficam chocados com três mil mortos uma vezinha só?”, acrescenta.

O engenheiro chileno Andres Guerrero, de 26 anos, e seus amigos ficaram com medo de uma guerra mundial. Hoje ele tem uma opinião mais formada sobre o assunto:

- O desrespeito das nações poderosas, por causa de interesses econômicos, são insustentáveis. Mas acredito que nossos líderes ainda não aprenderam a lição. E os jovens também não. Eles mudaram, mas não o suficiente para uma transformação significativa. Eles pensam em seus próprios benefícios, sem considerar as conseqüências futuras.  

Para a professora de História da PUC-Rio Giselle Câmara, não há mobilização expressiva dos jovens, no Brasil, desde os “Caras Pintadas”, que nem se compara à ditadura.

- Houve passeatas contra a Guerra do Iraque e pela Palestina, que ganharam gás com a cruzada moderna de Bush. Mas não sou otimista em relação à mobilização de jovens. Não há ideologia. O entretenimento arrebata os jovens do mundo da política, de ser e se sentir membro da sociedade construída da partilha do poder dos que a integram. O 11 de setembro foi um espetáculo televisivo, o foco foi no evento em si e não em suas questões geopolíticas. Foi a realização de um fetiche explorado pelo imaginário americano por meio de seus heróis e filmes. Mas existe um valor para a história contemporânea que não pode ser negligenciado.