O Egito já contabiliza duas semanas de manifestações no país e os opositores ao presidente Hosni Mubarak continuam reivindicando a renúncia do presidente. Doutor em relações internacionais e professor da Universidade da Malásia, o indonésio Eby Hara analisou para o Portal PUC-Rio Digital os aspectos relativos à democratização de um país de maioria muçulmana. Para o professor, a possível ligação entre os partidos políticos islâmicos com um projeto não-secular de Estado não necessariamente representa uma ameaça à democracia. Segundo ele, o eleitor irá decidir em quem apoiar com base, em primeiro lugar, nas suas necessidades mais urgentes.
Portal: A partir dos fatos na Tunísia e no Egito, o senhor acredita em um movimento mais generalizado de democratização nos países de maioria muçulmana?
Eby Hara: Não. Isso vai depender da condição de cada país. Em geral, isso até pode influenciar a emergência de movimentos similares, mas provavelmente em escala menor. A posição do Estado e a coesão da elite ainda são fortes em outros países do oriente médio, particularmente naqueles com boa condição econômica.
P: O seu país, a Indonésia, é a maior sociedade muçulmana do mundo e vive uma democracia relativamente estável. Onde está o segredo?
E.H: Moderação e tolerância. O país tem essa tradição na cultura formada junto aos processos sociais.
P: Muitos analistas afirmam que o processo de redemocratização nos países de maioria muçulmana pode levar à radicalização, a governos mais radicais. O que o senhor acha disso?
E.H: Você não precisa de democracia para ser radical. Governos autoritários, injustos e opressores trazem protestos, radicalismo e até terrorismo. O governo dos Estados Unidos gosta dessa ideia, eles não precisam de governos democráticos, mas governos que sustentem seus interesses.
P: Como evitar que Estados laicos sejam substituídos por organizações políticas não-seculares?
E.H: Eu não tenho certeza se isso aconteceu, está acontecendo ou irá acontecer.
P: Partidos políticos islâmicos tendem a ser contra a secularização do Estado e a favor de sociedades regidas pelo Coorão. Isso não seria uma ameaça à democracia?
E.H: Eu não tenho certeza, mas no maior país muçulmano no mundo, a Indonésia, isso não acontece. Mas eu não acho que tenha algo de errado com esse tipo de partido. Errado é que haja regulamentação para bani-los. O povo irá decidir qual partido apoiar, vai preferir partidos que ofereçam coisas relevantes para suas necessidades básicas, como as econômicas. Há muitos partidos religiosos, como o Partido Democrata Cristão, Partido Social Cristão, que provavelmente eram não-seculares no passado. Para atrair as pessoas eles tinham que fazer algo, em respeito às suas crenças, porque a Bíblia ou o Corão não podem governar, não podem falar, então os líderes políticos fazem esses livros santos falarem.
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