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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


País

Jornalistas lembram o 11 de Setembro na redação

Amanda Barros - Da sala de aula

01/02/2011

Isabela Sued

Todos têm sua história sobre o 11 de Setembro. Muitos se lembram de onde estavam e até o que faziam na hora exata dos atentados às Torres Gêmeas de Nova York, nos Estados Unidos, naquele dia de 2001, que se tornaria, de fato, a marca do início do século. Os jornalistas treinados para reportar, editar e passar ao público os acontecimentos, eles especialmente têm lembranças muito fortes, e até hoje ainda claras, sobre o que se deu nas horas seguintes aos atos terroristas. Com os dez anos da tragédia, repórteres e editores nem precisam de muito esforço para lembrar como participaram, profissionalmente, de uma das maiores coberturas em que já estiveram envolvidos.

A edição de 11 de setembro de 2001 do mais popular telejornal do país, o Jornal Nacional, da TV Globo, foi ao longo do dia sendo totalmente modificada, em relação ao que estava previsto na noite anterior. Quando foi ao ar, tomou 58 minutos da programação (45 deles dedicados aos atentados), bem mais que os 35 minutos de duração, em dias comuns. Hoje professor da PUC-Rio, Ernesto Rodrigues era na época um dos editores-executivos do “JN”. Ele conta que estava acertado, desde a véspera, que a grande notícia daquela noite seria a morte, possivelmente um assassinato encomendado, do prefeito da cidade de Campinas (SP), Toninho do PT, divulgado na noite de 10 de setembro.

 – Neste sentido, o jornalismo às vezes pode parecer cruel – diz Ernesto, observando que Toninho morreu no dia errado e que, por isso, a notícia do crime acabou não ganhando a devida repercussão. O jornalista admite ainda que o telejornal, naquele dia, saiu cheio de erros. – Foi tudo feito às pressas – lembra.

Mesmo a mídia impressa, também se viu testada naquele dia. O jornalista Lula Branco Martins, naquele tempo editor da revista Programa, do Jornal do Brasil, lembra que foi convocado para participar de uma espécie de “força-tarefa”, que botaria na rua, em poucas horas, uma edição especial do jornal.

– Os editores se reuniram num mesão para tentar impedir que aquela edição extra, fechada rapidamente, com 12 páginas, saísse com vírgulas fora do lugar, acento onde não tinha que ter acento e, principalmente, informações erradas. Foi quase um esforço de guerra, compara o jornalista.

Repórter recém-contratado, em 2001, também pela Programa, Patrick Moraes, hoje na Veja Rio, lembra que também teve que deixar seus afazeres rotineiros para ajudar na edição extra do JB. Ele, que não tinha exatamente o perfil de repórter especializado em notícias internacionais, colaborou fazendo um pequeno texto em que reunia clássicos americanos do chamado cinema-catástrofe.

– Quisemos mostrar que nenhum dos roteiristas de Hollywood havia pensado em tragédia tão terrível quanto os atentados daquele dia. As cenas reais que víamos na TV naquele dia eram mais fortes, por exemplo, que as do filme Terremoto.

Atual chefe de Patrick na Veja Rio, em 2001 o jornalista Maurício Lima trabalhava na Editora Abril, em São Paulo. – Resolvi tirar férias em setembro, e fui para Nova York descansar um pouco a – No dia 11 viu de perto a histeria que tomou conta da cidade e por isso ligou para a sede da revista Veja, na capital paulista, se oferecendo para escrever uma reportagem. – Do prédio onde eu estava hospedado dava para ver os edifícios do World Trade Center – conta Maurício.

Ele interrompeu suas férias e descreveu o que só seria possível a quem realmente estivesse no local, o clima de perplexidade que a cidade viveu naquelas horas. Sua matéria ganharia destaque na edição especial que a revista fez chegar às bancas antes mesmo do fim de semana, quando circula normalmente.

Uma das maiores notícias de todos os tempos, a série de atentados terroristas ao WTC, ao Pentágono e, provavelmente, à Casa Branca (que seria alvo de outro avião, que acabou caindo num descampado na Pensilvânia) ajudou a vender revistas, fez com que jornais rodassem edições extras e aumentou o ibope dos noticiários da TV. Durante semanas, a cobertura jornalística do episódio teve suítes (que, no jargão das redações, são as continuações da reportagem inicial), e muito se falou, a partir daí, em segurança em aeroportos e voos, em uma nova ordem mundial e, dois anos depois, em 2003, a ofensiva americana no Afeganistão, à busca do suspeito principal, Osama Bin Laden, viraria a notícia do ano.

A edição do Jornal Nacional de 11 de setembro de 2001 é, ainda hoje, um dos vídeos mais acessados no You Tube. – A ordem dos blocos foi um fator importante para a audiência – reforça Ernesto. Naquela edição, o telejornal foi dividido em cinco partes. Apenas o quarto bloco foi dedicado a outros assuntos, sendo o principal deles a morte de Toninho do PT. O primeiro bloco teve 17 minutos. O segundo e o terceiro foram um pouco menores. E a quinta parte do JN voltaria ao tema do terrorismo, exibindo, por exemplo, imagens da tragédia, sem narração, nem legendas. Perplexos, os apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes se despediram do público sem “boa noite” naquele dia. Deram apenas “até amanhã”.