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Rio de Janeiro, 28 de abril de 2024


Mundo

"Não é uma revolução de ódio, mas de mudança"

Stéphanie Saramago - Do Portal

31/01/2011

 Arte: Isabela Sued

Há uma semana, o Egito concentra manifestações por todo o país. Os protestos têm como alvo o regime do presidente Hosni Mubarak, que está no poder há 30 anos. Hussain Yousif é ativista político no Bahrein, no Oriente Médio, e dá aulas em workshops e organizações não-governamentais (ONGs). Em entrevista ao Portal PUC-Rio Digital, Yousif resumiu o sentimento do povo. Segundo ele a população está atrás de uma mudança completa do regime, inclusive do próprio presidente.

Portal PUC-Rio Digital: O que o senhor pode dizer sobre os protestos que estão ocorrendo no Egito?

Hussain Yousif: Isso representa o povo do Egito. A última eleição parlamentar no Egito não representou as mais de 70 milhões de pessoas que vivem no país. É um retrato de como será a próxima eleição presidencial no país. Os egípcios não aceitam mais a forma como o presidente Hosni Mubarak os trata. Acreditavam neles mesmos e pegaram o exemplo da Tunísia para dar início ao protesto. Enquanto eu escrevo, os manifestantes estão dançando e cantando no meio da cidade de Cairo. Eles acreditam que as Forças Armadas estão lá para ajudá-los. Então, não é uma revolução de ódio, mas de mudança.

Portal: Como o senhor pode descrever o sentimento presente entre a oposição egípcia?

HY: Todos os meus amigos partilham do mesmo sentimento, em que não há esperança em melhorar o atual regime. O filho mais velho de Mubarak está sendo preparado para assumir o cargo do pai. As leis são aplicadas parcialmente, de acordo com seu sobrenome ou de quem você conhece no país.

Portal: O senhor acha que esse problema será resolvido logo?

HY: Não. Isso levará algum tempo, o Egito é um país internacionalmente importante. Israel está interferindo e forçando os Estados Unidos a fazerem o mesmo. Mubarak depende disso para continuar no cargo.

Portal: Essa é a primeira vez que a oposição protesta?

HY: Não. Lembre-se do Movimento Kefaya, e também do Movimento de 6 de abril. Todos ocorreram nos últimos anos.

Portal: O que o senhor acredita que acontecerá a partir desse momento no Egito?

HY: Tudo vai depender da paciência dos egípcios para suportar a revolução. Começando pelo assassinato de Khalid Saeed e a maneira como o movimento mudou, o povo sente que estão sendo mortos sem nenhuma razão. As pessoas que eu conheço estão protestando por um Egito melhor. O presidente irá aparecer e provavelmente irá prometer mudanças no governo. Eu tenho dúvidas se essas ações de Mubarak irão convencer a população, que está atrás de uma mudança completa do regime, inclusive do próprio presidente. No momento, o regime está por um fio. Eles desconectaram o país do resto do mundo, cortaram a Internet, celulares etc. O que está ocorrendo é mais que um protesto, é o início de uma revolução que deve ser respeitada. Eu espero que os líderes da oposição egípcia ajam de acordo com as expectativas do povo.