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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Mundo

"Estávamos com medo, mas nos sentíamos muito corajosos"

Carolina Bastos e Luisa Nolasco - Do Portal

31/01/2011

 Arte: Isabela Sued

Em 17 de dezembro do ano passado, um agricultor de 17 anos ateou fogo em si mesmo na cidade de Sidi-Bouzid, centro da Tunísia. O atentado ocorreu quando a polícia tunisiana impediu Mohamed Bouazizi de vender vegetais em uma banca de rua sem permissão. O fato desencadeou uma série de manifestações populares por todo o país, que ocorre há mais de um mês e tem como alvo o desemprego, as péssimas condições de vida, os preços altos dos alimentos e o governo no país.

Diante dos protestos, o presidente Zine El Abidine Ben Ali, no poder há 23 anos, anunciou no dia 14 de janeiro seu “afastamento temporário” do governo. A população agora deposita esperanças no primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi.

Os levantes na Tunísia serviram de inspiração para manifestações em outros países do mundo árabe que também sofrem com regimes autoritários. No Egito, por exemplo, ocorrem protestos há uma semana, com a tentativa de depor o atual presidente Hosni Mubarak, há três décadas no poder.

Com apenas 15 anos, a estudante Rahma Ptit Sella descreveu ao Portal tudo que viu acontecer na capital da Tunísia, Tunis. Na entrevista via Facebook, Rahma se orgulha do patriotismo da população e acusa o ex-presidente Ben Ali de maus tratos contra os manifestantes.

Portal PUC-Rio Digital: Você participou dos protestos?

Rahma Ptit Sella: Sim, claro! Todos participaram: homens, mulheres, jovens, crianças. Todos tinham vontade de mudar a situação em que nosso país se encontrava.

Portal: Não era perigoso? Você não ficou com medo da repressão do governo?

Rahma: Sim, mas há pessoas pelo mundo afora que têm uma vida melhor que a nossa, agora é a nossa vez de lutar por uma vida melhor para a nossa população. Nós também merecemos isso.

Portal: O que você viu quando foi às ruas?

Rahma: Todo mundo chorando. Mas também havia pessoas revoltadas que queriam se vingar do presidente. Ainda vejo pessoas com rostos tristes ou expressões sérias.

Portal: Qual era a sensação de confrontar as autoridades?

Rahma: Nós estávamos perturbados, com muito medo, mas ao mesmo tempo nos sentíamos muito corajosos. A polícia nos perseguia, muitos homens pareciam não sentir medo e jogavam pedras na polícia, que reagia com armas de fogo.

Portal: E o que mudou com as manifestações? Após a renúncia do presidente?

Rahma: Na prática, ainda muito pouco. O novo governo promete seguir a Constituição e abandonar o regime autoritário. Acho que o governo aprendeu uma lição e vai nos respeitar depois de tantos protestos.

Portal: Por que as manifestações continuam mesmo após o afastamento de Ben Ali do cargo?

Rahma: A intenção é continuar pressionando até que haja mudanças consideráveis. A nossa situação permanece ruim. Há desemprego, violência e os alimentos estão muito caros.

Portal: Como você tem utilizado a internet?

Rahma: Aqui a internet está funcionando, somente algumas das páginas do Facebook estão controladas.