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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Saúde

Vírus tipo 4 da dengue aumenta risco de epidemia

Gabriel Picanço - Do Portal

01/02/2011

Arte: Daniel Cavalcanti

Foram descobertos no fim do ano passado os primeiros casos de dengue tipo 4 no Brasil desde 1982, quando o vírus foi identificado pela última vez no país. Até o momento, foram confirmados casos no Amazonas, Roraima e Pará. A preocupação é que o vírus volte ao Rio de Janeiro e cause uma nova epidemia, a exemplo de 2002, quando o tipo 3 contaminou mais de 290 mil pessoas só no estado do Rio. Apesar de ser chamada dengue tipo 4, esse vírus não é mais forte ou fatal do que os outros. A denominação segue apenas a ordem de descoberta. A doença causada pelo vírus do tipo 4 tem os mesmos sintomas e exige os mesmos cuidados. No entanto, como a maioria da população brasileira não tem imunidade a essa variação, o risco de epidemia torna-se maior:

– A imunidade contra a dengue funciona como nas outras doenças infecciosas: formação de anticorpos específicos contra o vírus. Assim, anticorpos são produzidos quando a pessoa adquire o tipo 1, mas eles não irão funcionar contra os outros tipos – explica o infectologiasta Rômulo Macambira, da Escola Médica de Pós-graduação da PUC-Rio.

Após o período de infecção, o corpo produz anticorpos que destroem o vírus causador da doença. Esses anticorpos ficarão gravados na memória do sistema imunológico, para que, caso o vírus volte a atacar, seja rapidamente eliminado. No caso de contaminação por outro vírus da dengue (tipo 2, 3 ou 4), os anticorpos não funcionarão. O sistema imunológico enfraquecido pela infecção anterior pode fazer com que o quadro evolua para a dengue hemorrágica.

Segundo o professor Maulori Cabral, do Instituto de Microbiologia Prof. Paulo de Góes, "a potencialização da gravidade do quadro clínico" é um fenômeno relacionado às infecções por vírus como o da dengue e o da Febre do Nilo Ocidental, conhecidos como flavivírus. Além dos anticorpos que reagem com apenas um tipo de vírus (imunoglobulinas de reatividade especifica), outros apresentam reatividade cruzada, isto é, reagem com vários tipos de flavivírus, não combatendo, mas sim potencializando a doença na segunda infecção:

– Partículas de flavivirus que carregam este tipo de imunoglobulina grudada na superfície são mais facilmente capturadas pelas monócitos, as células do nosso corpo comprometidas com a infecção pelos flavivirus. Quanto mais monócitos forem infectados, mais grave tende a ser a infecção – esclarece Cabral.

Dengue comum:
Sintomas duram cerca de uma semana e são os mesmo para qualquer um dos 4 tipos de vírus transmissores:

- Febre alta;
- Dor de cabeça;
- Dor nos músculos e articulações;
- Dor abdominal;
- Enjôos e vômitos;
- Manchas vermelhas na pele, entre outros.

Dengue hemorrágica:

Geralmente é ocasionada após uma segunda contaminação, por um vírus diferente, é caracterizada pela evolução dos sintomas da dengue comum. Deve se atentar para dor abdominal intensa, sangramentos, queda de pulsação sanguínea, entre outro sintomas.

O resultado disso é a redução da quantidade de plaquetas, as células sanguíneas responsáveis pela coagulação. Quando o nível das plaquetas fica abaixo de 100 mil por milímetro cúbico de sangue, iniciam-se os sinais de hemorragia. É a dengue hemorrágica, cuja gravidade é inversamente proporcional ao número de plaquetas restantes. Mas, segundo o professor Cabral, essa doença atinge só uma pequena parte da população. Cerca de 10% dos brasileiros são pré-dispostos geneticamente, enquanto as outras não apresentam sintomas:

– As pessoas ficam infectas e nem sabem que estão com a virose. Em virologia, a este fenômeno é dado o nome dei infecção inaparente.

O principal sintoma da dengue comum é a febre alta. Além disso, dor de cabeça, tonturas, náuseas, vômitos, manchas vermelhas no tórax e braços, dor no corpo, ossos e articulações e cansaço. Apresentando os sintomas, é recomendado dirigir-se ao posto médico mais próximo para a realização do exame que vai identificar a doença. O tratamento é simples. Consiste em repouso, ingestão de líquidos e uso de medicamentos prescritos pelo médico para o combate da febre e de dor. É importante evitar a automedicação, alerta Cabral:

– Nos casos de dengue, a recomendação é repor o líquido e os eletrólitos perdidos durante o estado febrilModerar o uso dos antitérmicos é fundamental, pois o produto pode ter principio ativo que causa efeito hepatotóxico.  Se o corpo está debilitado, mais debilitado ficará. Pode até não resistir.

Apesar do tratamento simples, o acompanhamento médico é indispensável. A evolução para um estágio mais grave pode acontecer mesmo aos pacientes que nunca tiveram a doença:

– Embora seja mais rara, a dengue hemorrágica pode acontecer mesmo nos casos de primeira infecção. Há pouco tempo acompanhei um paciente de 18 anos que sofria de dengue hemorrágica sem nunca ter sofrido infecção anterior pelo vírus – conta Macambira.

A principal ação preventiva contra a proliferação da dengue é a eliminação dos focos de água parada – em lixo, copos, garrafas, pneus – que podem servir como criadores do mosquito Aedes aegypti. O risco tradicionalmente se agrava nesse período do ano, por conta das constantes chuvas do verão. Assim, é importante atentar para plantas que acumulam água (como bromélias), evitar pratinhos de água para plantas, terrenos baldios com entulho e lixo abandonado; tampar caixas d’água e tonéis e limpar lajes com água de chuva empoçada.