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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Ciência e Tecnologia

Tecnologias tentam prevenir e atenuar acidentes de trânsito

Fernanda Miranda - Do Portal

25/01/2011

Mauro Pimentel

O índice de acidentes nas estradas e ruas brasileiras segue alarmante. Diariamente, morrem no país 95 vítimas de trânsito, 35 mil por ano, sem contar as milhares que ficam com sequelas graves. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), custam aos cofres públicos 30 bilhões de reais por ano em atendimento hospitalar. As principais causas ainda são a imprudência e a imperícia dos motoristas. Para tentar corrigi-las, ou amenizá-las, a indústria automotiva investe em tecnologias aplicadas na prevenção de acidentes. Uma das mais recentes é, por exemplo, o dispositivo de "detecção de pedestres". O recurso será implantado nos modelos mais luxuosos da Mercedes-Benz a partir deste início ano.

O sistema alerta o motorista, e o pedestre, em estradas mal iluminadas. Quando detecta uma pessoa a até 80 metros de distância, com o auxílio de uma câmera de "visão" infravermelha, o sistema automaticamente pisca um dos faróis principais. O motorista recebe outro alerta, no painel.  

 Divulgação Outros avanços tecnológicos são desenvolvidos para tornar o desempenho do automóvel mais seguro, menos vulnerável a falhas humanas. Para o professor de engenharia mecânica da PUC-Rio José Alberto Parise (foto), veículos mais estáveis e com freios mais eficientes, podem evitar acidentes, ou pelo menos atenuá-los, em situações de descuido ou erro. Parise lembra que, quando o acidente for inevitável, a integridade dos ocupantes passa a ser prioridade. O veículo deve apresentar equipamentos que reduzam o impacto de colisões, como cinto de segurança, air-bags e carroceria deformável (absorve a energia do choque e assim preserva o espaço ocupado por motorista e passageiros). Para o especialista, o nível de segurança depende da combinação entre os dispositivos ativos e passivos:  

– Equipamentos de segurança como o sistema ABS de freios e a suspensão ativa já estão há algum tempo no mercado – exemplifica.

O ABS impede que as rodas travem no momento da frenagem, o que aumentaria o chance de acidente. A exemplo do air-bag, o equipamento ainda vem de fábrica só nos modelos e versões mais sofisticados. Tão ou mais restrita, o sistema ativo ajusta dinamicamenta a suspensão às características do piso e da direção. Desta forma, torna a condução mais segura e menos vulnerável a lapsos do condutor.

O professor Mauro Speranza, também do departamento de engenharia mecânica da universidade, reforça que, "se a influência do ser humano no comando dos veículos for minimizada, certamente haverá uma redução no número e nas consequências dos acidentes". Para isso, são necessários, segundo ele, sistemas de controle extremamente confiáveis e “robustos”.

– É nisso que as empresas da área automotiva estão investindo e trabalhando – afirma.

Embriaguez ainda é uma das principais causas de acidentes

O Brasil fechou o ano passado com um preocupante índice de acidentes e mortes nas rodovias. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, só nos feriados de Natal e Ano-Novo foram registrados 3.728 acidentes. O número de mortes nas estradas chegou a 223.

O volume de infrações registradas naquele período ajuda a compreender esse problema crônico nacional. Ainda de acordo com a Polícia Rodoviária, foram aplicadas 39.482 multas, cerca de 70% por excesso de velocidade; e constatados 621 casos de embriaguez, a segunda maior causa de acidentes.

Parise afirma que a tecnologia “não embarcada”− policiamento ostensivo, bafômetros, câmeras, radares − contribui também para a redução da quantidade de acidentes. O professor ressalva, no entanto, que a conscientização do motorista, inclusive em relação às leis de trânsito, seria ainda mais eficiente. Por mais que os automóveis tenham incorporado tecnologias preventivas, esses avanços são insuficientes para compensar, por exemplo, o consumo de álcool pelo condutor:

− Não há tecnologia automotiva que se contraponha, de modo eficaz, à embriaguez ao volante ou a direção irresponsável – constata.

 Divulgação Para Speranza (foto), o controle automático do veículo, que independa das ações do motorista, é uma boa alternativa para a redução de acidentes. O professor explica que, embora haja sistemas auxiliares de ponta − aplicados, por exemplo, para diminuir a chance de derrapagem em curvas − um veículo totalmente autônomo ainda não está disponível no mercado, “apesar de existirem diversos protótipos em desenvolvimento”.

− Também seriam úteis sistemas capazes de analisar e identificar as condições do motorista (cansaço, embriaguez, desequilíbrio emocional) e interferissem no comando do veículo em função da avaliação realizada – acrescenta.

Combate à desatenção e à conservação precária das estradas

A Inglaterra, um dos países mais rigorosos com leis de trânsito, também tem sofrido com aumento no índice de acidentes no trânsito provocados por descuido humano. Segundo a Automobile Association (AA), o uso do Ipod tem causado 17 mortes por dia no país. O aparelho tira tanto a atenção do pedestre quanto do motorista. Por motivos como esse, no Brasil é proibido conduzir um veículo com fones de ouvido.

A má conservação das estradas brasileiras também é um dos fatores que aumentam  o risco de acidentes. Mauro Speranza considera um “absurdo estradas interestaduais, ou mesmo intermunicipais, de grande movimento, com mão dupla e apenas duas pistas de rolamento”. Segundo ele, estas vias deveriam ser de mão única e com pelo menos duas pistas em cada sentido de tráfego, separadas por muretas que evitassem os veículos invadirem (em caso de acidentes) as pistas do sentido oposto.

Speranza afirma também que em estradas como a Rodovia Presidente Dutra, principal ligação entre Rio e São Paulo, com elevado volume de tráfego, “deveria haver quatro pistas de rolamento em cada sentido, o que auxiliaria o deslocamento dos veículos e, de certa forma, poderia contribuir na minimização dos acidentes”.

− Também é fundamental haver uma sinalização correta, realista, eficiente, e consistente nas estradas. Fiscalização honesta, efetiva, e permanente, também auxiliaria bastante – completa.

Parise observa que a redução de buracos é um “mero paliativo, geralmente com fins eleitoreiros, pouco condizentes com uma manutenção séria que siga normas de engenharia universalmente aceitas”.

– A situação das estradas brasileiras, salvo exceções, é deplorável – avalia.

Uma das soluções para melhorar as condições das estradas, de acordo com Parise, é o maior investimento público em fiscalização e manutenção das estradas. O professor afirma que os dirigentes dos órgãos responsáveis por essas atividades devem ser indicados por critérios técnicos, não políticos.

Speranza pondera que esforços igualmente importantes devem ser dirigidos à conscientização, educação e treinamento dos motoristas:

– Não adianta nada ter as melhores estradas, se não há respeito à sinalização, ou essa continuar ineficiente, ou pior, inexistente.