Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Esporte

Barcelona lembra importância da formação de talentos

Gustavo Rocha - Do Portal

14/01/2011

Mauro Pimentel

A premiação do melhor jogador do mundo, segunda-feira passada, na Suíça, representou mais do que o reconhecimento ao protagonista de 2010.  Descontada a pompa, a cerimônia também deixou uma mensagem redentora: vale a pena investir nas categorias de base e valorizar a qualidade técnica – prioridades que, a despeito da tradição verde-amarela, distanciaram-se do futebol brasileiro nos últimos anos. Os três candidatos ao prêmio – Xavi, Iniesta e o argentino Messi, vencedor pelo segundo ano seguido – foram formados no Barcelona. A equipe catalã também lançou oito atletas para a seleção espanhola, campeã da Copa da África do Sul. Sustentado numa gestão profissional, o modelo deve ser adotado efetivamente pelos clubes brasileiros, recomendam os especialistas. Só assim poderão retomar o caminho do equilíbrio financeiro e das conquistas à feição do autêntico futebol pentacampeão.

Atribuída por muitos a distorções legais e a relação nem sempre conveniente entre cartolas e empresários, a venda precoce de jovens talentos é uma das consequências de traços ainda amadores na administração dos clubes. Apesar dos discursos de profissionalização, o dinheiro obtido com as pratas da casa raramente convertem-se em lucro, em benefícios para o clube – como formador de mão de obra qualificada e como marca. A verba é usada, em grande parte das vezes, para cobrir buracos financeiros, dívidas, recisões contratuais e indenizações, legados de sucessivas falhas administrativas. Para o jornalista esportivo Carlos Eduardo Éboli, da CBN, falta aos dirigentes uma visão a longo prazo:

– O clube deve investir essa verba em estrutura, na construção de centros de treinamento, na medicina esportiva, ou seja, em tudo aquilo que envolve a base do futebol, que é a transformação do garoto num futuro atleta e até ídolo – sugere.

De acordo com especialistas em gestão, a vida financeira destas instituições e, consequentemente, a formação de craques estariam melhores se as fontes de receita fossem ampliadas; se o caixa não estivesse refém da venda precoce, e subaproveitada, de jogadores e das cotas referentes ao direito de transmissão das partidas na TV e no rádio. Patrocínios, licenciamentos e venda de camisas são, por exemplo, fontes a serem melhor exploradas.

– Se os clubes se estruturassem, se conseguissem capitalizar recursos a partir desses patrimônios, dependeriam menos da venda do jovem jogador. Assim, haveria muito mais torcedor no estádio, mais pessoas contratando os pacotes de transmissão por TV, mais vendas de camisa. A roda passaria a girar de uma maneira positiva e lucrativa – afirma Luiz Léo, professor de Marketing Esportivo da PUC-Rio.

Fernando Simone, gerente das categorias de base do atual campeão brasileiro, o Fluminense, reconhece a necessidade de avanços no aproveitamento de talentos e na composição da receita dos clubes:

– No Fluminense, a captação de recursos ficou a desejar. O marketing pode trabalhar melhor. Pode-se gerar outras fontes de receitas para não se depender tanto da venda de jogador.

 A nova lei extinguiu a condição de propriedade do jogador em relação ao clube. O atleta pode agora se transferir, desde que o valor de sua multa – previsto por contrato – seja pago à equipe de origem. Veja mais

Revigoradas as finanças, observam analistas, os clubes ficariam menos dependentes de empresários, que se fortaleceram na década de 1990 com a Lei Pelé (veja texto ao lado). Em parte dos casos, agentes assumem gastos ou dívidas dos clubes e, em contrapartida, ganham liberdade para negociar o jogador (nem sempre na melhor época para o clube) e ficam com percentuais superiores da receita proveniente da negociação.

– O que move o empresário é o dinheiro. Não há indignidade nisso. Ele está operando num mercado. O atleta é um ativo que, se estiver em alta, deve ser vendido. Não importa se a torcida vai ficar chateada. O problema é a ganância excessiva de alguns agentes – avalia Luiz Léo.

Resultado, entre outros fatores, dessa perda de autonomia dos clubes, o êxodo precoce das principais promessas prejudica o nível técnico das competições nacionais. Assim, a atratividade cai:

– Por isso, o Campeonato Brasileiro é difícil de ser vendido ao exterior. Os grandes nomes estão jogando na Europa. Acho que os dirigentes brasileiros demoraram muito para ter a noção do business que é o futebol – opina Carlos Eduardo Éboli.

Para evitar a perda desse patrimônio essencial – o jovem telento – Fernando recomenda investimento nas condições de trabalho e em planos de valorização profissional:

– O que se deve fazer é dar uma boa condição ao jogador, mostrar que ele está sendo muito bem cuidado, que está tendo tudo do bom e do melhor, e que pode perder tudo isso se sair do clube. Mostrar que é vantajoso ser mais fiel ao clube do que ao empresário. Mauro Pimentel

Na contramão da saída dos jovens, cresce a repatriação de grandes nomes. Por meio de parcerias com empresas privadas e altos investimentos, clubes contratam jogadores consagrados que deixam a Europa para encerrar a carreira no Brasil. O exemplo mais recente, e mais eloquente, foi a vinda de Ronaldinho Gaúcho para o Flamengo. Ele receberá mais de R$ 1 milhão por mês. O desembolso bem acima dos padrões nacionais pode dar um retorno financeiro superior:   

– Um nome de impacto gera uma receita imediata na venda de produtos, na venda de ingressos, comercialização de jogos. É o que o clube precisa, uma vez que todos eles (os clubes) estão afundados em dívidas milionárias – argumenta Éboli.

Com mais ou menos ousadia, o salto dos clubes para um nível compatível com o prestígio e a tradição do futebol brasileiro passa pela profissionalização – de fato – da gestão esportiva:

– É preciso dedicação. Esse não é um processo que acontece de uma hora para a outra. As dívidas dos clubes são antigas, muito altas. Como você constrói uma continuidade no processo de saneamento das finanças? Com gestão profissional – afirma Luiz Léo.