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Rio de Janeiro, 23 de abril de 2024


País

"Infraestrutura é o maior problema do Brasil"

Monalisa Marques - Da sala de aula

01/12/2010

 Mauro Pimentel

Que a infraestrutura do Brasil é precária, o britânico Financial Times já disse. “A economia está crescendo, os investidores estão fazendo fila. Mesmo assim, o novo futuro brilhante do Brasil parece ainda estar fora de alcance”, publicou o jornal. Mas, o que não foi um tema destacado pelos candidatos durante os debates eleitorais é lembrado por Augusto Sampaio, professor e vice-reitor comunitário da PUC-Rio. Sempre engajado em movimentos sociais, Augusto elege a infraestrutura como o maior problema do Brasil e frisa: “precisamos é de ideologia”.

O assunto infraestrutura voltou às pautas com força total em agosto, graças à divulgação do estudo da LCA Consultores, que reprovou o Brasil no quesito qualidade geral da infraestrutura. Com base no Relatório de Competitividade 2009/2010 do Fórum Econômico Mundial, o estudo colocou o país em 17º lugar entre 20, empatado com a Colômbia. Foram considerados apenas os países concorrentes do Brasil no mercado global, e participaram da avaliação empresários e especialistas de cada nação.

O destaque que Sampaio atribuiu à infraestrutura pode ser entendido através dos dados obtidos pelo levantamento coordenado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De acordo com os números, embora o Brasil tenha avançado consideravelmente na produção de grãos, o crescimento do agronegócio acaba sendo freado pelas dificuldades enfrentadas depois da colheita. Dentre elas, a mais expressiva é, certamente, durante o transporte. O IBGE estima que do produtor ao consumidor 40% do que é plantado acaba sendo perdido, e o trajeto da empresa à exportadora é onde mais se perde. O instituto indica, ainda, que cerca de 70% das cargas brasileiras são deslocadas pelo meio menos vantajoso a longas distâncias: as rodovias.

Segundo Augusto Sampaio, o problema está na ausência de um planejamento adequado.

– A infraestrutura é o maior problema do Brasil. Os governos anteriores foram muito irresponsáveis. Até hoje falta um projeto para aproveitar a nossa grande capacidade hidrográfica, o que seria atingido com obras nem tão grandes quanto se costuma pensar – afirmou o vice-reitor, referindo-se à priorização ao financiamento de construção de rodovias, adotada pelos governos desde os anos 1970.

Este é o motivo pelo qual qualquer outra rede, seja ela de ferrovias ou hidrovias, é praticamente atrofiada, se comparada à rodoviária.

– O Estado deve tomar a dianteira, como foi no caso da construção do aeroporto do Galeão. Sem ele, o Brasil certamente não teria tanto espaço no cenário mundial. O próximo governo só será bem sucedido se for além do que vimos nas campanhas. Os candidatos falam que vão resolver tudo, mas não explicam como. Parece que não entendem que, sem um plano de metas gradativo, não se resolve nada – explicou o professor.

 Isabela Sued Sampaio sugere um novo modelo de debate político, onde cada candidato apresentaria suas propostas e, interrogado por especialistas de cada área, esclareceriam a viabilidade do que propõem. Na opinião dele, os políticos estão acostumados a não se comprometerem com questões que “são para a vida toda”. Ele lembra que muitos projetos bons já deixaram de ser aprovados no Congresso por meros interesses partidários, e sugere uma reforma política e educacional como solução.

–  Não dá para fugir do tema da educação, ele é fundamental. Deveríamos ser educados para criticar, e não para competir – afirmou.

Se, para muitos, “ideologia” é nome de música ou sentimento adolescente, Augusto Sampaio afirma que ela é imprescindível para melhorar a posição do Brasil no ranking. Afinal, “os políticos só compreenderão que sua função vai além de interesses pessoais se conseguirmos mudar a forma como encaramos o país”. Conforme as palavras do próprio professor, falta ideologia ao nosso povo.