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Rio de Janeiro, 28 de abril de 2024


Mundo

Jornalista americana evoca luta por direitos humanos

Caio Lima - Do Portal

30/11/2010

Mauro Pimentel

Manter-se fiel aos princípios é a receita da jornalista americana Roxana Saberi para superar os piores desafios. Presa no Irã em 2009, ela esteve quinta-feira passada na PUC-Rio para participar do seminário Jornalismo em áreas de conflito, iniciativa do portal Comunique-se em parceria com o Departamento de Comunicação Social da universidade. Ela contou, à plateia formada por estudantes e professores, passagens dos 100 dias na penitenciária iraniana de Evin – relatados no livro recém-lançado Entre dois mundos (Larousse). Flavio Rassekh, cineasta e ativista político, realça a importância da troca de experiências para o avanço dos direitos humanos: 

– É excepcional trazer vítima das violações de direitos humanos para relatar sua história aos estudantes. Outro ponto importante é mostrar que, mesmo no Brasil, temos uma oportunidade única de ajudar essas pessoas, pois o que é dito sobre o Irã em blogs e sites brasileiros repercute no país do Oriente Médio.

 Mauro Pimentel Referindo-se à "grande repercussão brasileira", Roxana sugeriu por participação mais ativa na luta contra a intolerância:

– Vocês (brasileiros), com liberdade de expressão, devem dar voz aos iranianos no que se refere aos direitos humanos. Acatando ou não, é uma forma de pressionar por melhorias do governo. Além do Brasil, outros países deveriam abraçar a causa.

Administrado por Mahmoud Ahmadinejat, o governo iraniano, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o "quarto país mais intolerante do mundo", enfrenta, segundo Roxana, um inimigo tecnológico. Para ela, a internet tem dificultado o esforço de controle dos artigos contrários ao regime.

A jornalista elogiou o cumprimento das normas de direitos humanos no Brasil. Destacou ainda a liberdade de imprensa no país e a possibilidade de os jornalistas escolherem diferentes assuntos para relatar. “Seja ele qual for, este é o verdadeiro ideal da profissão”, afirmou.

Roxana lembrou a trajetória profissional. Após graduar-se em jornalismo, decidiu buscar emprego fora do território americano. Apegada ao pai iraniano, o desejo por trabalhar no país do Oriente Médio foi consequência, até que a oportunidade surgiu no fim de 2003.

 Mauro Pimentel

Os seis anos em que morou no país foram essenciais para conhecer "os dois lados do Irã". Ela apontou algumas peculiaridades despercebidas pela grande mídia, como a coragem dos jovens iranianos "em enfrentar um governo autoritário". “Preocupam-se muito com a economia e com questões sociais”, disse a jornalista. Outra curiosidade é o que Roxana chama de paradoxo da sociedade iraniana:

 – Dentro de quatro paredes, é comum serem realizadas reuniões nas quais as mulheres não fazem uso do véu na presença de homens.

A maior curiosidade, disse ela, remete à relação entre os iranianos e americanos. “Diferentemente do que se pensa, os americanos são bem vistos pelo povo iraniano”, assegurou. Graças a essa boa imagem, a americana fez grandes amizades naquele país.

O grande envolvimento com a cultura e sociedade iraniana, despertou o interesse de Roxana em escrever um livro. O objetivo era entrevistar todos os tipos de pessoas e relatar as diferentes características para os países do exterior. Ela não contava, porém, com uma surpresa que iria mudar sua vida. Alegando a suspeita de que o livro fosse uma cobertura de espionagem para os Estados Unidos, a agência de inteligência do Irã manteve Roxana presa durante 100 dias na penitenciária de Evin. A experiência, diz ela, foi "esclarecedora da falta de direitos humanos no Irã". Roxana descreveu as características dos prisioneiros:

 Mauro Pimentel

 – A maioria deles é de jovens, militantes com causas sociais e presos políticos.

A luta pela liberdade foi intensa. Mesmo sem sofrer agressões físicas, Roxana conta que foi submetida a forte pressão psicológica, com frases do tipo "você nunca vai sair daqui", "o que vai ser de uma jovem como você?". Roxana lembra também os dias de greve de fome. A mensagem de protesto às autoridades iranianas deu certo. Recuperada a liberdade, a americana tem como meta divulgar para o mundo as atrocidades cometidas contra os direitos humanos. Afirma que pretende voltar ao Irã, "mas sem exercer a função de jornalista, senão é presa no aeroporto".