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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Mundo

Xi Jinping se torna favorito na sucessão chinesa

Clarice Machado - Da sala de aula

25/11/2010

O favoritismo do vice-presidente chinês Xi Jinping nas próximas eleições presidenciais de 2013 ficou mais evidente após ser nomeado vice-presidente da Comissão Militar Central (CMC) da China. A nomeação ao cargo mostra que Xi segue os mesmos passos do atual presidente Hu Jintao, que já foi ex-vice do principal órgão militar do país.

“As chances são muito grandes. A não ser que haja alguma reviravolta inesperada, a transição para a quinta geração de líderes chineses está definida, com Xi Jinping apontado como próximo secretário-geral do Partido e presidente do país”, analisa Isabel Nogueira de Morais, do IRI (Instituto de Relações Internacionais) da PUC-Rio.

Xi, de 57 anos, é cada vez mais apontado como provável sucessor do atual presidente Hu Jintao, que deixa o comando do PCC (Partido Comunista Chinês) em 2012, e a presidência no ano seguinte. A especialista em economia política da China afirma ainda que não se deve esperar nenhuma mudança quanto as relações diplomáticas entre a China e o Brasil por conta da possível eleição de Xi Jinping.

Segundo ela, a escolha de Xi estaria vinculada a uma postura consensual, uma vez que ele não era o favorito do presidente Hu Jintao, mas também não enfrentava nenhuma resistência entre as outras lideranças. “E um presidente chinês não governa sozinho. O Comitê Central do Politburo tem força muito expressiva”, afirmou.

O estilo político de Xi Jinping é discreto e ao mesmo tempo simples. Este ano, por exemplo, queixou-se dos discursos e documentos oficiais que estavam definidos pelo jargão partidário, e exigiu um linguajar mais simples, como uma forma de aproximação da linguagem política com o povo. Durante visita ao México no início do ano, por exemplo, brincou em relação aos temores que a China desperta no cenário internacional.

"Alguns estrangeiros de barriga cheia e nada melhor para fazer se dedicam a apontar o dedo para nós", declarou. "Primeiro, a China não exporta a revolução; segundo, não exporta a fome e a pobreza; e terceiro não mexe com vocês. Então o que mais há para se falar?" – disse o vice-presidente.

De acordo com o jornalista Peter Ford, do site de notícias americano, The Christian Science Monitor, “Xi Jinping tem se mostrado um grande incentivador das reformas políticas para a abertura do mercado”. Já a professora de Relações Internacionais Isabel Nogueira diz que ele nunca se pronunciou publicamente a respeito de reformas políticas. Para a especialista, a carreira política de Xi Jinping “pode sugerir um alinhamento maior com as grandes corporações e o big business chinês e internacional, especialmente se comparado com o atual presidente Hu Jintao, que havia feito carreira principalmente em regiões mais pobres e afastadas do país, como o Tibet.”

Tradição na política e o futuro promissor no governo

Nascido em 1º de junho de 1953 na província pobre de Shaanxi, terra dos famosos guerreiros de terracota, Xi Jinping é filho do reformista Xi Zhongxun, ex-vice-premiê e ex-vice-presidente do Parlamento, recebeu os privilégios que o regime normalmente dedica aos filhos dos seus líderes. Ainda jovem foi enviado ao noroeste do país, onde se tornou dirigente de uma comuna rural durante o período da Revolução Cultural (1966-1976), no auge da rigidez comunista. Estudou engenharia química na elitista Universidade Tsinghua, em Pequim, por onde Hu também passou. Em seguida, doutorou-se em teoria marxista na mesma universidade.

Xi Jinping ingressou no Partido Comunista Chinês (PCC) em 1974. Mas a carreira na política deslanchou ao ser eleito governador da província de Fujian (sudeste da China) em 1999. Em março de 2007, foi nomeado prefeito de Xangai e chefe do partido de Xangai quando o ex-chefe, Chen Liangyu, foi acusado de atos de corrupção. Logo depois, Jinping foi promovido ao Comitê de Apoio ao Partido Comunista - o círculo mais próximo do poder. E finalmente, em 2008, se tornou vice-presidente. Hoje atua como principal membro do Secretariado do Partido Comunista Chinês, o vice-presidente da República, o diretor da Escola Central do Partido, e o sexto mais alto membro do Comitê Permanente do Politburo, que é o órgão de controle de facto do país.

Para a pesquisadora Isabel Nogueira, a fase atual do desenvolvimento da China busca a necessidade de reestabelecer  o equilíbrio sócio-econômico através de medidas como a ampliação do mercado consumidor, as melhorias nas áreas de saúde e educação e redistribuição de renda. Estes são os principais desafios para o futuro líder do país. Caso eleito, caberá a Xi desenvolver a economia chinesa de uma forma mais balanceada, o que é uma contradição, já que Jinping é considerado um líder ligado as províncias mais ricas do país.