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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


País

Pendências dificultam governo de Dilma Rousseff

Marcela Capobianco e Monique Vasconcelos - Da sala de aula

24/11/2010

 Mauro Pimentel

Eleita com 56% dos votos, Dilma Rousseff (PT), a primeira mulher presidente do Brasil, terá que enfrentar, em primeiro lugar, a difícil tarefa de suceder o presidente Lula. "Nunca na história desse país" um presidente da República, no final do seu segundo mandato, deixa o governo com tamanha aprovação pública, e todos sabem que quem governa com popularidade o faz com mais facilidades. Além disso, a petista terá que coordenar a solução de algumas questões espinhosas para a democracia brasileira, entre elas a necessidade de se promover uma reforma política.

Hoje, a atividade política no Brasil é baseada em um Poder Executivo forte, mas que depende dos votos dos parlamentares distribuídos em quatro ou cinco partidos considerados grandes e dezenas de pequenos partidos que representam uma infinidade de interesses. O cientista político e professor do departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio Ricardo Ismael acredita que a reforma política ideal seria aquela que acabasse com os suplentes de senadores e ampliasse o financiamento público para as campanhas políticas, desde que houvesse fiscalização e obrigação da divulgação dos gastos antes do término das eleições.

– O melhor seria que fosse repassado mais dinheiro para os partidos menores, mas isso não é uma coisa simples – afirmou Ismael.

Sobre o voto na legenda, Ismael é enfático:

– É muito ruim. Acabaria com a renovação da política. As pessoas novas que se interessam por política e que não são filhos de políticos teriam pouco espaço – ressaltou.

 Mauro PimentelOutra questão política importante que Lula deixa de herança para sua sucessora é a definição sobre os detentores dos royalties do petróleo. É justo que o dinheiro seja dividido por todo o país? Ou são apenas os estados produtores, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, que sofrem com os impactos da extração, que devem receber os royalties? A nova divisão dos recursos vindos da extração do petróleo, por iniciativa do deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), faz com que o Rio de Janeiro, por exemplo, perca R$ 7 bilhões por ano. Os representantes dos interesses políticos dos estados produtores não ficaram nada satisfeitos com a nova redistribuição dos recursos e a população do Rio, indignada, já participou do protesto “O petróleo é nosso”, uma passeata no centro da cidade do Rio de Janeiro liderada pelo governador reeleito Sérgio Cabral (PMDB). Ricardo Ismael acredita que Cabral precisa ter habilidade para recolocar a questão.

– É preciso que haja uma conversa entre os governadores e senadores para não trazer prejuízo aos estados produtores. A bomba está armada. Os outros estados estão esperando receber esse dinheiro – afirmou.

Dilma Rousseff já declarou que todos os estados brasileiros devem se beneficiar dos royalties do petróleo, mas que é justo que quem sofre as consequências da extração deve ser compensado.

Com Dilma e Temer o Brasil passará, pela primeira vez na história, pelo teste de uma aliança formal entre PT e PMDB no poder. O PMDB transformou-se num partido cujas decisões políticas quase sempre são determinadas por interesses dos seus caciques políticos locais e regionais. Suas grandes lideranças, até pouquíssimo tempo, estavam mais próximos dos tucanos e demistas do que do Partido dos Trabalhadores, que costumava ser apoiado por partidos menores do campo da esquerda. No Legislativo, por exemplo, enquanto o Senado será composto majoritariamente por peemedebistas, a Câmara contará com a maioria de deputados do PT. Gerenciar as contradições e conflitos de interesses que essa aliança política pode provocar no dia a dia será um dos maiores desafios do governo Dilma Rousseff.