Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

IMS publica livro inédito de Rachel de Queiroz

Bruno Alfano - Do Portal

19/11/2010

 Divulgação

Nesta quarta-feira (17/11), Rachel de Queiroz completaria 100 anos. Para as comemorações, o Instituto Moreira Salles lançou, na data do aniversário, Mandacaru, um livro inédito de poemas da escritora cearense. Além do lançamento do título, a comemoração contou com a apresentação do filme O Cangaceiro, cujos diálogos foram escritos pela homenageada, e uma conferência, sobre a autora, de Heloísa Buarque de Hollanda, doutora em literatura brasileira e ex-aluna da PUC-Rio. Na ocasião, foi também inaugurada uma exposição sobre a escritora, que fica aberta até 16 de janeiro de 2011.

A história de Mandacaru começa quando, aos 17 anos, Rachel de Queiroz deu à amiga Alba Frota um manuscrito de poesias, junto de outros textos. Alba guardou o material e o entregou para a família da escritora antes de sua morte em 1987. Em 2006, o IMS recebeu dos parentes de Rachel de Queiroz cerca de cinco mil itens, entre livros, crônicas e artigos, onde encontrou o Mandacaru. A pesquisadora responsável pela descoberta – conterrânea da aniversariante –, Elvia Bezerra, afirma que o achado foi resultado de um trabalho que alia prazer e lazer.

– Eu conjuguei dever e prazer quando trabalhei na pesquisa desse livro: o dever de lavrar os arquivos da escritora e o prazer em revisitar o meu passado do Ceará que ela tanto descreve.

 Divulgação Rachel de Queiroz, quando criança, viveu no Rio de Janeiro, em Fortaleza, sua cidade natal, e em Quixadá, na fazenda ‘Não me deixes’, sua principal referência da infância. Em 1927, ano que escreveu o Mandacaru, Rachel estreou na imprensa com uma crônica sob o pseudônimo “Rita de Queluz”. Depois dessa experiência, o jornalismo entrou na sua vida. Pesquisadores do IMS calculam que Rachel de Queiroz publicou cerca de três mil crônicas em jornais e revistas importantes, como O Cruzeiro. Em entrevista ao Instituto Moreira Salles em 1997, Rachel afirmou ser essa, o jornalismo, sua principal atividade profissional.

– Eu não sou uma romancista nata. Os meus romances é que foram maneiras de eu exercitar meu ofício, o jornalismo – afirmou Rachel de Queiroz.

Mesmo negando a habilidade para a literatura, a escritora publicou seu primeiro livro quando tinha apenas 20 anos. O Quinze conseguiu sucesso de crítica e venda, inclusive entre importantes intelectuais brasileiros da época, como os modernistas paulistas. Depois, outros cinco livros foram lançados durante a vida. Quando tinha 82 anos, publicou sua última obra: Memorial de Maria Moura, adaptado para a televisão em 1994.

Na conferência, Heloísa Buarque de Hollanda afirmou que Rachel elege, em todos os sete romances, a personagem feminina sertaneja como protagonista e cada uma dessas mulheres da ficção corresponde a uma característica da autora.  

– Se usarmos os personagens da Rachel como peças de um quebra-cabeça, montaríamos uma imagem da própria autora.

A especialista explicou que a figura da matriarca é constante entre essas mulheres inventadas por  Paulo Jabur Rachel de Queiroz.

– Todas as personagens têm a independência das matriarcas tradicionais do Nordeste: elas largam os maridos, não têm filhos e acabam se movimentando de um lugar para o outro – ressalta Heloisa.

A qualidade da obra de Rachel de Queiroz foi definitivamente reconhecida em 1977. Naquele ano, o regimento da Academia Brasileira de Letras ainda impedia a entrada de mulheres. Entretanto, o talento de Rachel superou as regras da casa e, com a morte de Candido Motta Filho, a cearense recebeu um assento entre os imortais.

– A posse da Rachel contou com escola de samba; com a banda dos fuzileiros navais, porque ela era considerada a madrinha deles; e com o time do Vasco, seu time de coração. Nenhum destes tiveram autorização para entrar no salão da posse, então virou uma festa que parou a rua – lembrou Heloísa.

 Paulo Jabur Espelho dos personagens, Rachel de Queiroz também sempre esteve em movimento. Entretanto, mesmo distante, não abandonava o sertão nordestino. Na crônica “Nós e a natureza”, a escritora descreve Berlim como “a catinga nordestina em réplica” e se transporta para casa: “Me vi de repente no Ceará, tal como ele deve estar agora”. Heloisa lembrou que, mesmo morando no Rio de Janeiro, Rachel de Queiroz conservava hábitos típicos do sertão nordestino.

– Uma vez fui entrevistá-la no apartamento dela. Na sala não tinha sofá. Eram cadeiras de palha típicas das fazendas do Ceará. No quarto, a cama servia como uma grande mesa de cabeceira, pois ela só dormia na rede.

Além dos móveis, Heloísa lembrou que a escritora mantinha outra identidade, segundo ela, nordestina: era uma pessoa acolhedora. Para a especialista, Rachel de Queiroz era uma “pessoa-varanda”.

– A varanda, no Nordeste, é o lugar onde se recebe visitas. Então é um lugar acolhedor. Ela era assim. Ela me acolheu. Nos livros dela, o leitor fica íntimo de Rachel. Quando se lê um texto dela, parece que ela conhece você e está apenas contando mais uma história – finalizou Heloísa.