Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 28 de abril de 2024


Mundo

Derrota no Congresso força Obama a negociar

Jessica Ramalho - Da sala de aula

16/11/2010

A vitória do Partido Republicano nas eleições de meio de mandato dos Estados Unidos fez o mundo ficar atento ao que está por vir no futuro do país . Inserido em um cenário em que a economia não anda tão bem como prometido em 2008, o presidente Barack Obama ainda terá que negociar com a maioria opositora na Câmara dos Representantes e a diminuição de cadeiras no Senado.

As eleições de meio de mandato elegeram os 435 lugares na Câmara dos Representantes, 37 dos 100 lugares no senado e 37 governadores entre os 50 estados americanos. Antes do dia 2 de novembro eram 255 representantes democratas na Câmara, agora eles têm 189. Os republicanos tinham 178, agora possuem 239.  Além disso, os membros do Grand Old Party (GOP) - como é conhecido o partido conservador nos EUA - angariaram, no Senado, os assentos de Illinois, Arkansas, Dakota do Norte, Indiana, Pensilvânia e até o de Wisconsin, onde concorria o favorito do partido democrata, Russ Feingold. Agora são 53 senadores democratas contra 47 republicanos .

Foco da mídia depois de anunciados os péssimos resultados do partido democrata, o próprio Obama admitiu que os americanos estão se sentindo frustrados com o ritmo de recuperação da economia e pediu que os partidos trabalhassem juntos. “Eu não estou sugerindo que isto vá ser fácil”, disse ele.  Barack Obama ainda afirmou ter que “assumir a responsabilidade pelo fato de que não houve tanto progresso quanto precisava”. O tom de discurso, agora, é que os dois partidos achem um equilíbrio. As 60 cadeiras vencidas pelos republicanos na Câmara dos Representantes significam uma vitória maior do que as 54 que eles obtiveram nas marcantes eleições de 1994, quando o presidente era Bill Clinton. Além disso, a diminuição da maioria de democratas no Senado representou uma perda expressiva, o que dificulta a continuidade do governo feito até o momento.

A política mais intervencionista adotada por Obama parece ser um dos principais pontos negativos a sua imagem. Ele chegou a ser chamado de "socialista" por ativistas do Tea Party, movimento conservador que conseguiu grande destaque nesta eleição. Durante a campanha, segundo David Nickerson, membro do Centro de Estudos Políticos da Universidade de Notre Dame, o Partido Democrata chegou a adotar a estratégia de preservar a imagem de Obama em alguns estados, para que ele não se tornasse um ponto desfavorável na corrida pelo Congresso.

– Existem lugares nos Estados Unidos onde Obama ainda é popular. E, nesses lugares, ele ajudou ativamente na campanha dos candidatos. Em geral, no entanto, os democratas tomaram o cuidado de manter o presidente longe de locais em que ele não é bem visto. Isso foi feito, principalmente, para distanciá-lo dos candidatos dessas regiões – afirmou Nickerson.

De acordo com o professor e cientista político Geoffrey Layman, também da Universidade de Notre Dame, a grande repercussão que o movimento Tea Party causou pode não ter muito efeito na próxima eleição:

– Eu não tenho certeza da importância desse movimento em 2012 porque eles representam uma parcela muito estreita e muito conservadora do segmento eleitoral americano – disse.

Coordenador de Pesquisa do Observatório Político dos Estados Unidos e professor de relações internacionais na PUC-SP, Geraldo Zahran corrobora essa ideia e acrescenta que, caso o Tea Party ganhe força entre os republicanos, o próprio partido sairá prejudicado:

– A plataforma política do Tea Party tem aceitação em uma parcela restrita da população. Apesar de todo foco da mídia, no fim isso gera mais aversão ao eleitor mediano que apoio. E é bom que os republicanos não se esqueçam do candidato e orador extremamente hábil que eles irão enfrentar. Quando Obama começar a sua campanha para valer, será muito difícil impedir a sua reeleição. Se o partido republicano se virar para sua direita radical, essa tarefa será ainda mais complicada.

O professor Geoffrey Layman lembrou ainda que é importante não esquecer que eleições de meio de mandato são sempre desfavoráveis ao partido do presidente, pois, geralmente, algumas promessas feitas no período eleitoral não são cumpridas em dois anos. Foi o caso do ex-presidente Bill Clinton, em 1994, durante o seu primeiro governo. Os republicanos conseguiram uma vitória impressionante nas eleições de meio de mandato e assumiram controle tanto da Câmara dos Representantes quanto do Senado pela primeira vez em 40 anos.

– Clinton mudou sua estratégia ao assumir uma postura mais centralizada da que ele tinha nos dois primeiros anos de governo. Se Obama usar a mesma direção, ele poderia se redefinir como um presidente “pós-partidário”, trabalhando com pessoas dos dois lados. Imagem que havia vendido em 2008. Ele perdeu completamente esse estereótipo nos últimos dois anos e agora é visto como uma figura de esquerda e altamente partidária.

Enquanto a mudança na política de Obama não ocorre, os republicanos já demonstram que acordos serão difíceis. Um exemplo disso foi a postura adotada pelo novo porta-voz da Câmara dos Representantes, o conservador John Boehner. Ele qualificou a reforma da saúde de “monstruosa” e afirmou que “a despesa com a saúde vai acabar com empregos, arruinar o melhor sistema de saúde do mundo e falir o país”.  Nela, o presidente americano prevê uma cobertura ampla, que aumenta o número de americanos favorecidos pelos planos de saúde, torna a assistência médica mais barata e impõe regras mais rígidas às seguradoras. Além disso, o projeto ainda garante a criação de uma bolsa de seguros para quem não consegue ter plano pelo trabalho e subsídios para a população mais carente.