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Rio de Janeiro, 27 de setembro de 2023


Economia

Governo Dilma vai enfrentar cenário externo complicado

Carolina Barbosa e Nina Lua - Do Portal

11/11/2010

 Stéphanie Saramago

Reforma tributária, câmbio, reforma da Previdência e a relação entre o crescimento da economia e a alta dos juros são alguns dos principais desafios que a nova presidente do Brasil, Dilma Rousseff, terá que enfrentar. O tema povoou os discursos dos candidatos à Presidência e envolve interesses de diferentes setores da sociedade.

Nas eleições, a reforma tributária uniu os discursos dos candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Com o pleito decidido, Dilma terá que governar um país cujos impostos alcançaram 34% do Produto Interno Bruto (PIB) – soma das riquezas da nação – em 2009, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apesar da alta carga, a possibilidade de uma reforma tributária ser feita a longo prazo não convence os especialistas. Entre os impasses, destaca-se as divergências entre os interesses de arrecadação e distribuição de recursos entre a União, estados e municípios.

O professor do Departamento de Economia e decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha, acredita que a reforma tributária pode ser um dos aspectos mais difíceis de serem alcançados pelo próximo governo. Segundo ele, se o presidente Lula, que tem um índice de 80% de popularidade, desistiu de fazê-la, o próximo governo, que provavelmente não contará com a mesma taxa de aprovação, deverá deixá-la de lado.

– A reforma tributária é um dos aspectos que todo mundo diz que vai fazer, mas, quando chega na hora, desiste – afirmou Cunha.

No entanto, o economista destaca que a reforma tributária é uma questão essencial para o crescimento industrial do Brasil:

 Mauro Pimentel – O sistema é muito complexo e burocrático, cheio de regras e ajustes e, além disso, cada estado pode mexer em pequenos aspectos – explicou.

Outro grande desafio do governo é crescer sem pressionar a taxa de juros, a Selic, que serve como um instrumento de controle da inflação. Alguns fatos problematizam a questão: as famílias brasileiras, em geral, não guardam dinheiro, a poupança interna do governo é negativa e a poupança externa é deficitária. De acordo com Cunha, o país está longe de crescer com a mesma taxa que outras nações em desenvolvimento, como Índia, China e Rússia.

– Crescer como estes países é muito difícil. Vivemos um período de mais de 30 anos de inflação. Conseguir cerca de 5,5% já é uma grande coisa para a nossa economia – afirmou o economista.

Pensando em âmbito mundial, segundo o professor Luiz Roberto Cunha, o Brasil tem que se preocupar com as flutuações do câmbio. Cunha explica que pela primeira vez no período pós-Segunda Guerra Mundial, os países ricos enfrentam dificuldades de crescer no mercado interno e, por isso, precisam aumentar suas exportações. O grande problema, segundo o especialista, é que a desvalorização da moeda desses países gera uma guerra cambial, e os mais prejudicados são os que recebem investimentos externos, como é o caso do Brasil.

– A entrada desses recursos valoriza a nossa moeda, deixando-a mais cara, e com o dólar mais barato, prejudica-se também a produção nacional – explicou Cunha.

 Mauro Pimentel As divergências entre os interesses de países ricos e emergentes fazem com que um acordo entre os Bancos Centrais se torne difícil. As medidas de intervenção adotadas como solução geram retaliações por parte das nações prejudicadas, o que agrava ainda mais a questão. Segundo Cunha, guerra cambial e protecionismo são, hoje, as palavras de ordem no mundo. Entretanto, se todos os países se protegem, o comércio mundial é reduzido.

– É um jogo em que pode haver só perdedores, portanto é um grande desafio para o próximo governo – alertou o professor.

Enquanto a guerra cambial é um problema causado por uma crise, a reforma da Previdência se faz urgente por uma boa razão: as pessoas estão vivendo mais. Porém, com a longevidade, o fundo da Previdência corre o risco de quebrar e aí surge um problema que o economista define como “geracional”.

– Você não pode falar para as pessoas morrerem mais cedo e também não pode deixar de pagar o benefício a que elas têm direito. As gerações futuras vão pagar por isso – disse.  

De acordo com o economista, o país precisa continuar com a política econômica atual para crescer lenta e gradualmente.

– Isto não se resolve de uma hora para outra. O problema da reforma tributária, por exemplo, é político e, portanto, bem menor que o da reforma da Previdência. Esse sim é um dos maiores desafios da próxima governante – finalizou Cunha.