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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

A chave é uma boa história, diz diretor da Globo Filmes

Fernanda Ralile - Do Portal

12/03/2008

Estética – encontro entre TV e cinema nas minisséries da Rede Globo *

Quem veio?

Cadu Rodrigues, diretor executivo da Globo Filmes.

Por que veio?

Foi convidado pelo Departamento de Comunicação da PUC para palestrar no seminário “Estética – encontro entre TV e cinema nas minisséries da Rede Globo”. Cadu falou sobre as dificuldades enfrentadas pelo cinema nacional, principalmente na conquista do mercado interno. Explicou as particularidades do mercado cinematográfico brasileiro, o processo de distribuição de filmes e como o avanço da tecnologia une as mídias audiovisuais.

Onde e quando foi?

Na sala 102K, dia 21 de Junho, das 11h ás 13h.

Melhores Momentos

“Falam que a Globo Filmes está criando um monopólio no mercado. Não há monopólio quando não se tem o domínio todo da cadeia de produção. Então isso é uma besteira, até porque o cinema é uma atividade paga: você escolhe o filme que quer ver.”

“Existe uma preocupação da Globo Filmes de tentar escolher projetos e roteiros que consigam aliar qualidade, diferenciação e a possibilidade de atingir o público local. Quando a gente consegue isso, como foi o caso de Carandiru e Cidade de Deus, é uma maravilha! Mas às vezes não funciona. É difícil.”

“A gente está atrás, principalmente, de uma boa história, não de um bom nome ou de uma boa produtora. Isso também é importante, mas, se a gente não tiver uma boa história, é muito complicado buscar uma participação maior de público.”

“Se a Globo tem mais de 90% do que é exibido de conteúdo e produções nacionais, é sinal de que o brasileiro gosta de se ver na tela, de ver suas historias contadas.”

“A gente acredita piamente que, se não tivermos uma participação forte no mercado e não conquistarmos o nosso público, será uma grande bobagem dizer ‘vou fazer cinema para o mercado internacional!’.”

“No ano passado o Brasil foi um dos dois países do mundo que não tiveram crescimento de público nas salas de cinema.”

“A Globo Filmes não é uma produtora, nem uma distribuidora. Ela é o quê? Um bicho estranho! A gente têm atuado no desenvolvimento do roteiro, na escolha do elenco principal, na montagem, em toda estratégia de marketing e lançamento. Mas, na produção, o máximo que eu faço é visitar de vez em quando o set de gravação, quando dá tempo. E o Daniel (Filho) ou o Guel (Arraes), que são os diretores artísticos, recebem semanalmente o conjunto de cenas que foram filmadas naquele período, para dar uma olhada. Mas a gente não têm se envolvido na produção.”

“Cultura é muito importante? É. Mas educação, alimentação e segurança também são. O país precisa de muitas outras coisas para se desenvolver.”

“Quando se entra num filme, ao mesmo tempo um pedaço da Globo Filmes está ali ajudando, contribuindo na parte de desenvolvimento artístico do projeto, há outro pedaço que tenta promover, divulgar e fazer aquele filme chegar à cabeça do espectador.”

“Em 2004, a gente lançou Cazuza na mesma época em que estavam em cartaz filmes como Shrek e mais umas três ou quatro grandes produções. Nos meses de maio e junho, todo mundo fugiu das blockbusters para ver Cazuza. A nossa expectativa era atrair um milhão de espectadores. Acabamos com 3,1 milhões de espectadores. Foi um arrasa-quarteirões. Renato Aragão veio logo depois do King Kong e teve maior público. Ou seja, tendo um filme atraente, uma boa história, nós temos condições de disputar esse mercado.”

“Quem escolhe o programa do fim de semana são as mulheres, não tem conversa. Cinema quem escolhe é a mulher. Então, em Cidade de Deus, nós começamos a trabalhar numa comunicação que amenizava a violência. Sem descaracterizar, mas valorizando os momentos que o filme tinha de respiro: o baile funk, a relação do fotógrafo com a menininha. Eu me lembro que o Daniel (Filho) falava ‘bota beijo na boca!’. Deve ter um ou dois beijos no filme todo, mas estão lá no trailer.”

 

Uma palavrinha a mais

- É tendência a Globo Filmes associar-se cada vez mais a produtoras independentes?

- Sim. Desde que foi criada, esse é o nosso objetivo principal. A gente tem co-produzido de oito a dez filmes por ano. Destes, nove são com produtoras independentes. Isso é uma coisa que não vai mudar.

- Os filmes da Globo Filmes sempre contam com atores globais. Você acha que isso proporciona uma estética característica aos seus produtos?

- Isso não é fato. Cidade de Deus, por exemplo, é um filme sem atores globais. Como eu falei, os atores e atrizes trafegam pelas várias possibilidades: teatro, cinema e televisão. Em O ano em que meus pais saíram de férias, os atores, as crianças, não estão na TV. Nós não temos no Brasil uma tradição de ator levar público ao cinema. Isso não funciona bem aqui. O que conta mesmo é ter uma boa história e um elenco adequado, que pode ser totalmente desconhecido do público da TV. (Cidade de Deus conta com os atores Matheus Natchergalle e Charles Paraventi. E no filme O ano em que meu pais saíram de férias Caio Blat faz parte do elenco.)

- Você se formou em engenharia, trabalhou durante anos como professor da PUC, um caminho totalmente diferente dos outros profissionais de cinema. Como foi parar na Globo Filmes?

- Pela formação que eu tive em análise de sistemas aqui na PUC-Rio, tenho uma facilidade em administração. Antes de entrar na Globo Filmes, eu toquei uma área que tinha de desenvolver o planejamento de negócios, entretenimento, lazer e turismo para a construção de um parque temático. Meu forte sempre foi gestão. Com isso, me aproximei dessa área criativa, artística, e surgiu uma chance na Globo Filmes. Deu certo. Já posso dizer que tenho um conhecimento bastante razoável da atividade. Além disso, meu tio foi um dos fundadores da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Paulo. Então eu tenho, de alguma maneira, uma tradição cinematográfica na família.

- Comparado ao grande mercado cinematográfico dos EUA e da Índia, por exemplo, o Brasil tem um público pequeno de cinema, uma atividade que se tornou elitista. Em contrapartida, os festivais nacionais exibidos na TV, como a Semana do Cinema Nacional, são um sucesso. Como você explica esta peculiaridade?

- Na TV, os filmes nacionais têm uma audiência adequada àquele horário em que estão sendo exibidos. Então, quando se conta com um bom programador, e na minha opinião a Globo tem os melhores, consegue-se acertar o filme, a novela, o programa e a minissérie que vão atingir um determinado público. Hoje há um volume de filmes maior, que podem ser exibidos na TV. A audiência deles está dentro do esperado. Não há grandes estouros ou grandes fracassos. É um jogo entre o conteúdo e a capacidade de percepção e conhecimento do programador, para ajustá-lo ao interesse do público. Não é sorte: joga ali e vê no que dá. Não funciona assim. Eles (os programadores) conhecem muito. E acertam na maioria das vezes.

 

* Acompanhe a seqüência do seminário “Estética: encontro entre TV e cinema nas minisséries da TV Globo”:


1 – Luís Erlanger.
2 – Luiz Fernando Carvalho.
3 – Luiz Gleiser.
4 – Geraldo Carneiro.
5 – Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.
6 – Antônio Calmon.
7 – Daniel Filho.
8 – Guel Arraes.
9 – José Lavigne.
10 – Walcyr Carrasco.
11 – Sílvio de Abreu.
12 – Sérgio Marques.
13 – Glória Perez.
14 – Edson Pimentel.
15 – Maristela Veloso e Alexandre Ishikawa.
16 – Eduardo Figueira e Maurício Farias.
17 – José Tadeu e Celso Araújo.
18 – José Cláudio Ferreira e Keller da Veiga.
19 – Ariano Suassuna.
20 – Luiz Fernando Carvalho (e equipe).
21 – Betty Filipecki e Emília Duncan.
22 – Denise Garrido e Vavá Torres.
23 – Cláudio Sampaio e Alexandre Romano.
24 – Edna Palatinik e Cecília Castro.
25 – Roberto Barreira e Marcinho.
26 – Cadu Rodrigues.