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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

Um mestre do Rádio e da TV

Lenira Alcure - Do Portal

25/02/2008

 arquivo pessoal

Na sexta-dia, 22 de fevereiro, o radialista Guiseppe Ghiaroni faria 89 anos. Humorista por vocação, não quis nos dar esse gostinho de ficar um ano mais velho. Aos 88 anos, um dos grandes redatores do Rádio e da TV no Brasil subiu ao andar de cima, pranteado por quem o conheceu, admirado pela rara inteligência, o senso de humor, e mais ainda pelo seu bom caráter, generosidade e dedicação.

Nascido em Paraíba do Sul, menino pobre vendeu muita goiabada na estação de trem, até vir para o Rio, aos 17 anos, chefe de família, com a mãe, os irmãos e irmãs pequenos. No primeiro emprego, como trocador de ônibus, ficou poucos dias porque se atrapalhava nas contas. Em compensação, revelava o talento na escrita.

Com os grandes mestres, aprendeu o melhor da língua portuguesa, em suas inúmeras variantes: a palavra lhe escorria fácil dos dedos, dois apenas, com os quais ele datilografava em velocidade espantosa nas velhas máquinas de escrever. Começou como boy, no escritório da Universal Filmes, sob a chefia de um americano que se espantou com a facilidade com que aquele menino magro e míope aprendia inglês. Em menos de dois anos, foi promovido a tradutor de filmes.

Não demorou muito a estréia radiofônica. Para a Rádio Nacional, escreveu novelas, crônicas diárias lidas ao meio-dia (A Crônica da Cidade), programas humorísticos (Tancredo &Trancado, 18 anos no ar!). De seus dedos nasceu a última crônica da formada Rede da Legalidade, sob o comando da Rádio Nacional, antes da tomada da Rádio pelos militares no golpe de 64.

Conheci-o, a ele e a suas duas filhas, Marina e Regina, dez anos depois, na Rádio MEC. Era um gigante, com seu porte atlético, o cabelo quase todo preto que conservou a vida toda, e o riso que lhe saía fácil, como a palavra. Era o modelo do homem cordial, um brasileiro apaixonado pela sua terra e pelos seus, mas também pela Itália dos antepassados e pelo tango de Gardel de quem traduzira as letras para o portugues.

Antes, ele passara por todas as grandes redes de TV; depois em convênio TVE/TV Globo, fez parte da equipe que produziu a primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo. Na TV Globo, foi do quadro de redatores do Chico Anísio Show. No SBT, produziu os melhores momentos dos domingos com Silvio Santos. Sabia falar às massas, com sutileza, sem humor grosseiro, temperado pela Poesia, essa sim, sua musa maior à qual dedicava sonetos e versos que estão na memória do povo, não importa que não se lhe atribuam a autoria.

Do americano Edgar Allan Poe, do português Antero de Quental, do italiano Lorenzo Stechetti, e de tantos outros, recitava versos. Dominava o inglês, o italiano, o espanhol, o francês. Mas antes de tudo, era um homem, da melhor cepa. Um exemplo para a nova geração. Hoje, o homem do povo chegou ao Céu. Os anjos o acolhem, os mendigos o apontam. Os poetas sorriem. Os amigos brindam, as mulheres o abraçam. É o menino Giuseppe que chegou, encantando a todos.

O rádio, como a TV hoje, foi um excelente divulgador da literatura. Da pioneira Mayrink Veiga à Rádio Nacional, a radiodifusão levou a milhares de pessoas os clássicos mundiais. Alunos da PUC-Rio de 1982 realizaram a sonoplastia do conto “A casa tomada”, de Julio Cortázar (Bestiário, 1951). Confira a íntegra do trabalho, na voz de Giuseppe Ghiaroni.

Para saber mais sobre o radialista Giuseppe Ghiaroni, visite www.eradoradio.com.br