Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Ciência e Tecnologia

Engenheiros analisam vitórias tecnológicas na F-1

Caio Lima - Do Portal

08/11/2010

Fórmula 1/Divulgação

Com a vitória de Sebastian Vettel, da Red Bull Racing, no GP do Brasil, a decisão da Fórmula 1 ficou para a última prova da temporada, em Abu Dhabi, no próximo domingo. Mas, além da RBR, que já comemora o título de construtores, pode-se dizer que a tecnologia segue vitoriosa. Recursos como telemetria, dinâmica de fluidos computacional e testes simulados em laboratório, introduzidas na principal competição automobilística há cerca de 10 anos tornam-se mais sofisticados. Por meio de dados virtualmente coletados, traçam uma radiografia precisa e dinâmica dos carros na pista. O engenheiro Mauro Speranza Neto, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio, observa que esses mecanismos já são utilizados, em versões simplificadas, em carros de passeio:

– Esses recursos ajudam a avaliar e melhorar o desempenho do carro. Além disso, testam a durabilidade, uma grande preocupação do consumidor. 

De acordo com o engenheiro, o acesso a esses equipamentos é relativamente fácil, pois são vendidos no mercado.  Porém, “o modo como as equipes de F-1 reproduzem seus carros dentro desses mecanismos e os testes aerodinâmicos específicos são segredo de cada equipe”, explica Mauro. Para aumentar a segurança dessas medições exclusivas, as principais equipes desenvolvem programas próprios. 

O engenheiro destaca que a tecnologia virtual é muito importante para o desenvolvimento de novas soluções e o rendimento dos carros sob circunstâncias variadas. Ele ressalva, no entanto, que tais avanços não dispensam o teste real: 

– O computador não consegue simular tudo. É preciso colocar (o carro) na pista. 

O também professor do Departamento de Engenharia Mecânica Jorge Dias Lage concorda que o desenvolvimento de um carro de F-1, por melhor que seja o simulador, necessita de uma fase de testes práticos. Mas ressalta: se por um lado os sistemas computadorizados representaram orçamentos maiores, por outro economizam tempo e esforços na busca do "carro perfeito": 

– Com as novas tecnologias, o tempo de testes práticos para se chegar a um desempenho competitivo ficou mais curto. 

Mais tecnologia, menos "braço"

À medida que se incorporam à Fórmula 1, novas tecnologias – do câmbio sequencial no volante aos avanços aerodinâmicos –, as novas tecnologias injetam combustível numa discussão tradicional: até que ponto essas maravilhas eletrônicas não esvaziam a intervenção humana. Uma corrente de especialistas acredita que a invasão tecnológica diminui o mérito dos pilotos. O "braço", como se diz no jargão automobilístico, teria uma participação menor.

– Daqui alguns anos vai existir uma competição automobilística sem a presença de pilotos – diz Mauro.

Para ele, desde a década de 1960, quando se começou a aplicar de forma mais sistemática procedimentos científicos na categoria, um "bom carro" passou a ser mais importante do que um "bom piloto". “A competição ficou mais de tecnologia de engenharia do que entre seres humanos”, afirma. Mauro reconhece, todavia, o mérito dos últimos campeões mundiais: 

– O piloto ainda faz diferença, sim. Hoje em dia ele tem a função de se adaptar melhor ao carro. Numa curva ou outra, com alguns décimos a menos, vemos a diferença de um piloto para outro. 

Para Lage, a arrancada tecnológica atropelou o espetáculo. Na opinião dele, a competição ficou menos emocionante. “A aerodinâmica não permite, por exemplo, que os carros andem em fila indiana, muito próximos um do outro, senão o que vem atrás, no chamado vácuo, literalmente decola da pista. Isso está dificultando as ultrapassagens, que é a essência da categoria”, analisa. Esse nivelamento, segundo o engenheiro, estende-se às pistas: 

– As pistas estão pasteurizadas. Nos países onde a F-1 começou recentemente, foram construídas pistas exclusivas para a categoria, que seguem um padrão de tecnologia específico. O resultado são pistas muito parecidas, tirando o brilho e as características de cada GP. 

Tendências tecnológicas 

Embora reconheçam a importância da Fórmula 1 como laboratório para as ruas, tanto Mauro como Lage observam que as tecnologias aplicadas nos carros de corrida ainda demoram para chegar aos modelos de passeio. Mauro estima que só em 10 ou 15 anos as estrelas tecnológicas de hoje – como o volante multifuncional – embarquem nos carros familiares, pois “historicamente isso acontece de forma muito lenta”. Lage lembra que os botões para troca de marchas atrás do volante já são adotados por modelos de passeio, mas restritos a esportivos e modelos mais sofisticados. O alto custo dessas engenhocas observadas na F-1 ainda dificulta a migração de grande parte delas para os carros comuns. 

Já os motores elétricos, segundo Mauro, têm sinal verde. Ele acredita que as empresas automotivas passem a adotá-los em escala crescente. O engenheiro não vê nada que impeça tecnologicamente a entrada desses motores na F-1, “pela potência cada vez maior que desenvolvem, pela economia de combustível e pela preocupação ecológica”.

Para a temporada 2011, os especisliatas acreditam na volta do Sistema de Recuperação de Energia Cinética (KERS). Utilizada em 2009 e suspensa em 2010, essa tecnologia aplica a energia captada no momento da freada para aumentar a velocidade em determinadas circunstâncias. Numa ultrapassagem, por exemplo, o condutor aciona um botão que libera a energia armazenada. Funcionando como uma espécie de “turbo”.