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Rio de Janeiro, 18 de abril de 2024


País

Especialistas fazem balanço das pesquisas eleitorais

Carina Bacelar - Do Portal

04/11/2010

 Arte: Mauro Pimentel

Depois de saírem chamuscadas das urnas no primeiro turno, principalmente pelas projeções de vitória de Dilma Rousseff sem a necessidade de nova votação, as pesquisas se mantêm úteis como termômetro eleitoral. Na avaliação de especialistas consultados pelo Portal, a distância entre o real e o projetado observada no primeiro turno não caracterizam problemas de metodologia. Representa, sim, a complexidade da dinâmica do voto, sujeita a fatores como nível de abstenção e falha humana. Assim, tais levantamentos devem ser vistos como bússolas, em vez de retratos. O professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC Paulo Greenhalgh, o diretor de Assistência e Planejamento do Ibope, Luiz Sá Lucas, e a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, fazem um balanço da atuação dos institutos de pesquisa no pleito de 2010 e explicam como os eleitores devem compreender melhor os dados.

Greenhalgh reconhece que houve, no primeiro turno, uma diferença atípica entre projeções de votos e resultados das urnas. Para ele, as causas são diversas, desde escândalos e polêmicas surgidos na última semana de campanha até a tradicional indecisão do eleitor brasileiro – acentuada pelo fato de ter havido certa indiferenciação dos candidatos, com origens na esquerda e propostas semelhantes. É neste motivo que o especialista aposta suas fichas:

– Um das causas possíveis é o grau de indecisão do eleitor e o “voto envergonhado”. Na própria boca de urna, muitos têm vergonha de dizer em quem votar. Isso confundiria a pesquisa. Mesmo que a pessoa diga que tem voto definido, muitas vezes isso não é verdade.

Já no segundo turno, o especialista observa que os resultados ficaram dentro da margem de erro prevista nas pesquisas. Segundo ele, enquanto no primeiro turno observa-se "uma variabilidade grande" nas respostas pelos vários cargos disputados por muitos candidatos, no segundo só há duas opções, tanto para governador quanto para presidente. Greenhalgh destaca que, mesmo com a queda expressiva na amostragem, de 69.300 entrevistados para 54.000, a menor quantidade de alternativas garantiu uma situação mais confortável aos institutos.

O professor do Departamento de Sociologia e Política (re)afirma a importância de se comparar os resultados obtidos pelos diferentes institutos. Para ele, é um erro levar em conta apenas o histórico de dados obtidos em um deles. A concorrência entre fontes beneficia o eleitor por aumentar o empenho por resultados cada vez mais precisos.

– Um dos fatores que ajudam a gente a trabalhar com as projeções de voto é justamente essa comparação. Se o candidato está com uma diferença de 30 pontos entre dois institutos, algum deles está errado. A grande saída é acompanhar vários deles e extrair tendências, e não números absolutos. Se o eleitor  levar em conta os vários institutos e o histórico de cada um deles em sua análise, sai mais consciente – recomenda, lembrando que os dados são mediados por veículos de comunicação, de acordo com as respectivas linha editoriais.

Pesquisas influenciam voto

O especialista considera tambpem importante a análise dos números obtidos nesses levantamentos para a compreensão do contexto de tendência de voto. Especialmente entre os indecisos, as pesquisas podem até definir o voto.

– Não há duvidas de que a pesquisa eleitoral influi no voto – reconhece – Isso é uma coisa que os institutos costumam relativizar muito. Tem gente que vota em quem acha que vai vencer, porque não quer peder o voto. Há os que votam num candidato só porque não querem que outro ganhe. Há uma série de outros fatores que compõem a complexidade desse contexto, como notícias de última hora.

Segundo Márcia Cavallari, a polêmica em torno das projeções de voto para o primeiro turno não alterou o trabalho interno da instituição, muito menos a metodologia de pesquisa empregada. Por outro lado, o órgão empenhou-se esclarecer equívocos publicados em veículos de comunicação. 

– Disponibilizamos também vídeos com respostas a algumas das dúvidas mais comuns da população, com perguntas feitas por pessoas que nós fomos ouvir nas ruas – conta.

De acordo com Márcia, não houve motivos para alarde após o resultado do primeiro turno, pois o Ibope teria apontado corretamente a posição dos candidatos e a possibilidade de realização de segundo turno. Ela admite, contudo, que a diferença entre o percentual obtido por Dilma nas urnas e o apontado nas pesquisas – tanto na da véspera como na de boca de urna – ficou fora da margem de erro. Márcia aponta, como causas dessa distância entre o real e o estimado, o nível superior de abstenção dos eleitopres de nível socioecoômico mais baixo; a  movimentação dos indecisos; e a própria "complexidade das eleições".

– No segundo turno, o Ibope previu corretamente 100% das estimativas feitas, tanto para presidente como para governadores. Nesta etapa, os eleitores já estão mais decididos, são poucos cargos e apenas dois candidatos. É uma eleição com grau de complexidade menor, gera menos erros não amostrais – explica.

Luiz Sá Lucas também acredita que aquela diferença tenha sido consequência de "ações do eleitorado", e não de problemas na metodologia das pesquisas:

– Os erros podem ter sido causados por indecisão ou falhas dos eleitores. Soube de gente que votou de maneira incorreta e queria voltar à urna para “corrigir” a decisão.

Para ele, o eleitor deve encarar as pesquisas como tendência e intenção de voto, e não como previsão de resultados:

– Elas (as pesquisas) servem mais para apontar tendências. A dinâmica eleitoral está sempre mudando, e o eleitor muitas vezes decide na hora quem vai ajudar a eleger.