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Rio de Janeiro, 18 de abril de 2024


Campus

Teólogos pregam união de saberes para avanço ambiental

Evandro Lima Rodrigues - Do Portal

05/11/2010

Mauro Pimentel

Em deferência ao padroeiro da natureza, São Francisco de Assis, o refrão fazia-se ouvir: “Doce é saber: não estou sozinho. Sou uma parte de uma imensa vida”. Ainda que o santo seja comemorado pela cristandade católica no mês de outubro, o cântico tinha outro objetivo. Era o início da XI Semana Teológica: Ecologia e Criação. A reflexão contida na letra se reproduziria nas palavras do reitor da PUC-Rio, padre Josafá de Siqueira, S.J.: “Precisamos de humildade para olhar a natureza de maneira integrada”. Nos três dias de encontros no auditório do RDC, semana passada, observações religiosas e científicas convergiram para um dever de casa comum: a união de saberes, esforço essencial aos avanços ambientais. União reforçada a partir de uma “visão interdisciplinar integradora da realidade”, ressalta Josafá.

Para o reitor, que leciona Ética Ambiental na universidade, a disciplina representa a importância da reflexão de valores socioambientais numa perspectiva integrada. Nesta proposta interdisciplinar, a interação entre diversos saberes favoreceria uma mudança de comportamento na relação homem-natureza.

Uma discussão necessária à agenda ambiental, ainda segundo Josafá, remete ao resgate do reconhecimento da “inteligência da natureza” a partir da filosofia de Aristóteles. Com base esta referência filosófica, "seria possível identificar a racionalidade da natureza, que tem uma inteligência própria".

 Mauro Pimentel Outra reflexão necessária refere-se ao olhar cartesiano – ainda predominante – em relação à natureza, identificada de forma mecânica: uso e reposição seriam compreendidos como processos simples. No entanto, ressalvou Josafá, a maior parte da natureza do Brasil não pode ser reconstituída.

Essencial para uma visão mais acurada do meio ambiente, a proposta interdisciplinar assume um caráter prático na PUC-Rio, observa o reitor. Segundo ele, 110 disciplinas associam-se a questões ambientais. O curso de ciências biológicas, que começará em 2011, já nasce sob enfoque: articula-se com oito departamentos.

A interação entre saberes impõe a cursos como o de teologia debates sobre novas abordagens. Entre os desafios, Josafá apontou o desenvolvimento de uma visão mais "integradora" da natureza:

– Precisamos ter humildade e reconhecer que nós [seres humanos] aparecemos não mais que há 2 milhões de anos, enquanto que a natureza está ai há mais de 6 milhões. Portanto, somos seus jardineiros – compara.

A “ecoteologia” abre espaço para um diálogo amplo entre religiões e abordagens científicas. Constituiria, assim, um reforço ao conjunto de ações voltadas à melhoria da qualidade ambiental. Para padre Josafá, os problemas ambientais vividos no século 21 resultam, basicamente, de "conflitos humanos". Decorre, na avaliação do autor de Ética socioambiental (Editora PUC, 2009), de uma crise de valores. A solução seria "religar-se":

– Deixar a dimensão de transcendência do lado de fora é inadmissível. A religião pode trazer a dimensão ética ao debate ambiental, daí a importância da interdisciplinaridade. A missão teológica não é um apêndice, mas uma parte integrante deste processo.

 Mauro Pimentel O teólogo Haroldo Reimer (foto), professor da PUC de Goiás, enfatiza a necessidade de se descobrir ou reforçar uma leitura “ecológica” da Bíblia. Ele compara este esforço à abstração dos profetas "que ouviam o chamado de Deus e o interpretavam":

– Esse momento requer um olhar hermenêutico. Propor um novo entendimento, a partir da leitura bíblica.

Ainda segundo o professor, a análise da natureza numa perspectiva teológica não invalida a posição científica. Pois, o diálogo entre fé e ciência permite um entendimento com base em conhecimentos diversos. 

Para o estudante de teologia do Instituto Teológico Franciscano Jeâ Paulo Andrade, as consequências da ação humana no meio ambiente tornaram-se o "assunto da moda". Ainda que os cursos de teologia já tratassem do tema, a abordagem ganhou maior proporção e passou de uma perspectiva didática para uma ação pastoral.

– O estudo sobre o meio ambiente vai além da universidade. A comunidade tornou-se a extensão da sala de aula – ressalta