Projeto Comunicar
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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


País

Um olhar estrangeiro sobre os rumos democráticos

Lauriane Delanoë - Da sala de aula

03/11/2010

Grande parte dos eleitores brasileiros instruídos acha que os pobres caipiras não sabem votar e só pensam neles mesmos. Infelizmente para esses cidadãos iluminados, o povinho ainda é maioria no país. Colunista do Estado de São Paulo demitida por ter escrito o que pensava, Maria Rita Kehl lembrou ao leitor que, no início do terceiro milênio, 60% da população brasileira ainda não têm instrução necessária para ter o voto considerado pelos restantes 40%.

Desde que acabou a ditadura, o brasileiro preconiza que o regime político vigente, a dita democracia, é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Resumido: um regime que ouve a maioria. Então o Brasil seria um país que ouve o seu povo, aquele zé-povo cujo voto é desqualificado. E essa maioria votou em Lula. Duas vezes. As elites pensam que ela errou, e depois persistiu no erro? Pelo contrário: ela entendeu onde estava o seu interesse. Votou no homem que lhe trazia esperança e o dinheiro necessário para se sustentar.

Segundo Jean Jacques Rousseau, pensador do Século das Luzes, na democracia o interesse da maioria torna-se interesse geral. Portanto, o interesse das classes menos favorecidas é o mesmo do Brasil. Faz sentido: como o país poderia se desenvolver com sucesso se deixasse para trás o seu povo e só enriquecesse uma pequena e privilegiada parte da população? As elites temem o voto dos sem privilégios? Os nobres da nova geração ganharam uma vida de mordomias com o desenvolvimento do país. E não querem abdicar disso, exatamente como os nobres no século XVIII antes do advento dos direitos humanos. Mas o Brasil está envolvido num processo de revolução lenta. Maria Rita Kehl explicou na sua crônica “Dois pesos...” que os brasileiros agora se dão conta dos seus direitos e já os defendem. Eles votam conscientemente para serem ouvidos. Logo os privilégios não mais existirão.

Essa revolução avança com meios atuais: a Constituição e a Previdência Social. Os republicanos ricos podem criticar os programas de bolsa auxílio por lhes roubarem o dinheiro ganho com dificuldade e dá-lo aos preguiçosos que não o merecem. No entanto, isso lhes traz grandes benefícios: se o povo tem dinheiro para comer, vai comprar os produtos da indústria brasileira. Dessa maneira, abrem-se novos mercados no país. Não é bom para os negócios?

A democracia promove o desenvolvimento geral do país. Mas sempre haverá choques de ideias; é o princípio mesmo da democracia. Os brasileiros só têm agora de se acostumar a discordâncias, sem medo. E agradeçam aos compatriotas por votar, não os culpem. O voto é a maior riqueza de suas vidas.