Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 28 de abril de 2024


Mundo

Eleições testam popularidade de Barack Obama

Juliana Oliveto - Do Portal

29/10/2010

 Arte: Isabela Sued

As eleições legislativas do próximo dia 2 de novembro, terça-feira, nos Estados Unidos, vão colocar à prova a popularidade do governo de Barack Obama. O Partido Democrata corre o risco de perder sua maioria na Câmara dos Representantes – o equivalente à dos Deputados brasileira. Estarão em jogo, no pleito, 435 cadeiras na Câmara e 37 no Senado. Além disso, 37 estados escolherão seus governadores.

A delicada posição dos democratas pode estar diretamente relacionada à queda da popularidade do presidente. Quando assumiu o poder, Obama tinha cerca de 65% de aprovação, mas, no início do último mês, esse número caiu para pouco mais de 49%. Ao mesmo tempo, a taxa de reprovação do governo subiu de 25% para 46%.

Um dos motivos da insatisfação vem do fato de o Partido Democrata, que comandou a Casa Branca e o Congresso nos últimos dois anos, não ter apresentado resultados considerados satisfatórios pela população. A agenda pautada por Obama, ainda durante sua campanha eleitoral, apontava reformas para o sistema de saúde, regulamentação do sistema bancário após a crise e a lei de energia. Esta última, inclusive, chegou a ser aprovada na Câmara, mas parou no Senado – onde os republicanos conseguiram barrar as votações.

Mais grave é a sensação de que o país ainda não conseguiu se recuperar da recessão que teve início em 2008. Coordenador de Pesquisa do Observatório Político dos Estados Unidos (Opeu) e professor do curso de relações internacionais da PUC-SP, Geraldo Zahran acredita que o caso da economia é o mais sintomático. Mesmo saindo da recessão, as taxas de crescimento do país são pequenas e os índice de desemprego continua variando na casa dos 10%.

– Obama e os democratas estão sendo criticados por sua própria base de apoio por não terem realizado a tão prometida “mudança” da campanha de 2008, sendo acusados de abrir mão de vários princípios para contentar republicanos – disse.

Estimulados pelo atual nível do déficit público, o argumento republicano anti-Obama ganhou eco na opinião pública. Segundo o coordenador do Opeu, os democratas também sofrem com as acusações dos republicanos que alegam que o partido da situação é o “partido do ‘Estado grande’, a favor da taxação e participação do Estado na economia”.

– Os republicanos atacam as políticas orçamentárias e o déficit público atual. O que os democratas pensam como investimentos essenciais para estimular a retomada da economia, os republicanos enxergam como gastos e desperdícios que impedem essa retomada – explicou o professor Zahran.

Mesmo que nessas eleições de meio de mandato só se renove 1/3 do Senado, a possibilidade de mudanças não está completamente afastada. No entanto, como os senadores eleitos em 2006 e 2008 ainda estão cumprindo mandato, e os democratas contam com 59 incumbentes, diminuem as chances dos republicanos de também conquistarem essa casa. Segundo dados do New York Times, dos assentos em disputa, 46 seriam seguramente democratas, 35 dos republicanos e, das 19 vagas em disputa, duas tenderiam para o Partido Democrata, 10 para o Partido Republicano e 7 ainda estariam indefinidas. A maioria da casa é composta por 50 assentos.

O Washington Post diverge apenas na quantidade de vagas garantidas pelos republicanos. Segundo o jornal, o partido teria 34 assentos garantidos enquanto 8 ainda continuariam em disputa. A divergência está no Kentucky – enquanto o Times aponta a vitória dos republicanos, o Post coloca o estado como indefinido.

Para a Câmara dos Representantes, segundo o Times, o Partido Democrata pode considerar garantidos 152 assentos, enquanto o Partido Republicano já teria 174 vagas. Das 109 ainda em disputa, a tendência aponta para 39 possíveis assentos para os democratas e 28 para os republicanos. Quarenta e duas vagas ainda estariam em aberto, sendo o alvo principal da disputa dos partidos. Para conquistar a maioria, é preciso deter 218 assentos.

A corrida para o governo dos estados aponta vantagem para os republicanos. Atualmente, o Partido Democrata possuiu 26 estados e o Partido Republicano 23. Nos 37 em disputa, o New York Times aponta 7 favoráveis aos democratas, 18, aos republicanos e 12 estados em disputa. Ficam de fora dessas eleições os estados de Washington, Montana, Dakota do Norte, Missouri, Louisiana, Mississipi, Indiana, Kentucky, Virgínia do Oeste, Virgínia, Delaware, Nova Jersey e Carolina do Norte.

À frente nas pesquisas de intenção de voto para a Câmara, o Partido Republicano também se beneficia do ressurgimento do movimento ultraconservador Tea Party Express para mobilizar os eleitores a irem às urnas e derrotar o Partido Democrata. Professor de relações internacionais da PUC-Rio, autor de A tríplice fronteira e a guerra ao terror (Apicuri, 2010) e Terrorismo e relações internacionais: perspectivas e desafios para o século XXI (Ed. PUC-Rio, 2010), Arthur Bernardes do Amaral explicou que o Tea Party é formado por grupos que ressaltam e consideram como "excepcionais" os valores do liberalismo político e econômico americano. A grande crítica do movimento é a intervenção estatal na economia, pedindo pela primazia da atividade privada.

– Esse movimento também promove, sobretudo na figura de Sarah Palin, sua mais notória líder e provável candidata a presidente nas próximas eleições, uma agenda de conservadorismo moral, com condenação a pesquisas com células troco e outras agendas conservadoras, se não reacionárias – afirmou o professor Bernardes do Amaral.

Professor de história da Universidade do Texas, em Dallas, Stephen G. Rabe acredita que o ressurgimento do Tea Party está relacionado à frustração americana com a economia. Segundo ele, os membros do movimento – em sua maioria brancos – não estão satisfeitos com o fato dos Estados Unidos terem se tornado uma sociedade multicultural com grande número de latinos e com um afroamericano como presidente.

– Os membros do Tea Party são essencialmente republicanos conservadores que acreditam que a América é para os brancos, apenas. Mas acho que eles vão acabar desaparecendo ao longo do tempo porque sua receita para os Estados Unidos não representa a vontade do povo americano. Os Estados Unidos estão cada vez mais multicultural, multiracial, multireligioso e multiétnico – ressaltou.

O coordenador do Opeu, Geraldo Zahran, acredita que não só o Tea Party, mas o FreedomWorks, outra organização de militância conservadora, vão ter impacto no novo Congresso. Antes mesmo da eleição, o Tea Party já prometeu uma possível paralisação no governo federal e vários legisladores republicanos manifestaram essa intenção já prevendo uma disputa de orçamento com o presidente Obama.

– A paralisação do governo ocorre quando, devido a divergências entre o presidente e o Congresso quanto aos gastos necessários para o próximo ano fiscal, não se consegue aprovar o orçamento – explicou.

Segundo Zahran, o Tea Party já causou algumas dificuldades antes mesmo da eleição, mas para a liderança republicana. Segundo ele, candidatos preferidos pelo Partido Republicano foram derrotados por membros menos conhecidos e mais à direita do espectro político em estados como Alasca, Colorado, Utah, Delaware, Kentucky e Nevada.

De acordo com Zahran, o movimento não se direciona apenas contra Obama e os democratas, mas também contra os republicanos moderados, acusados pelo Tea Party de serem RINO – Republicans In Name Only (republicanos apenas no nome).

– Os moderados já se mostram preocupados que tal plataforma lhes custe o voto dos independentes em disputas acirradas e ponha em risco uma possível retomada da maioria na disputa pelo Senado – justificou.

O professor Arthur Bernardes do Amaral concorda que o avanço do Tea Party pode gerar preocupações para o governo Obama, mas que pode ser mais problemático ainda para o Partido Republicano, que passa a ser dividido em duas vertentes: uma mais moderada, ao centro, e outra mais “radicalizada”, tendendo à direita etnocêntrica e “moralista”.

– Obama pode, inclusive, explorar essa cisão para negociar a lealdade de uma ou outra parte, ou até mesmo para enfraquecer ambos os opositores – disse Bernades do Amaral.

Geraldo Zahran acredita que o provável controle republicano da Câmara pode tirar o peso do Partido Democrata de ser o responsável e único culpado pelos problemas do governo. Como desde 2008 os republicanos adotaram, segundo ele, a prática de se opor a todas as iniciativas democratas e causaram, com isso, problemas para as agendas do partido da situação, o professor Zahran explica que, agora, se os republicanos compartilharem o poder terão de deixar de lado essa tática de obstrução.

– Dados os argumentos da campanha, não está claro se os republicanos possuem as respostas para o crescimento econômico que eles acusam os democratas de não ter. Só que, agora, eles vão poder ser penalizados por isso – concluiu.

Para o professor Stephen Rabe, o governo Obama e o Partido Democrata estão prestes a sofrer perdas significativas nessas eleições, mas destacou que isso é normal para o partido no poder nas primeiras eleições de meio de mandato.

– As perdas democratas vão ser maiores que as conquistas porque a economia não cresceu muito desde que Obama assumiu em janeiro de 2009. Eles serão culpados pela economia fraca assim como os republicanos e George W. Bush foram pela recessão – afirmou o professor.

Rabe acredita que os republicanos vão ficar com o controle da Câmara dos Representantes, mas os democratas continuarão com o controle do Senado. Entre 2011 e 2012, o professor não vê a possibilidade de muitos avanços na “legislação doméstica”, apenas, talvez, algum projeto de melhoria na área de transportes que vá gerar empregos. Isso porque Rabe acha que Obama e os democratas no Senado vão bloquear a legislação proposta pelos republicanos da Câmara.

– Acho que Obama vai estar em uma posição muito forte em 2012 e será reeleito presidente porque não vai haver um oponente republicano à altura e, também, porque a economia vai se recuperar gradualmente – opinou Rabe.