“Nobre cidade católica” era o que vinha escrito na ficha do café que Helio Saboya comprava, ao chegar à universidade na Gávea, no antigo Bar do Seu Antônio. O estabelecimento substituía a padaria que existia no campus da PUC-Rio de Botafogo e reunia os universitários para tomar café antes das aulas.
– Quando eu entrei, a PUC ainda era na São Clemente. As turmas eram pequenas. Havia poucos cursos, como de engenharia, direito, filosofia... era um ambiente muito bom. Guardo muitas lembranças positivas da PUC – lembrou o advogado, que morreu em dezembro de 2010, dois meses depois desta entrevista.
Aluno de uma das primeiras turmas do Departamento de Direito, Saboya entrou na universidade em 1952 já decidido em que carreira iria seguir. “É um tradição de família”, revelou. Bisavô, avô e pai também atuaram na área, e, além da força da tradição, o jovem já tinha o desejo de exercer o ofício. Ao prestar vestibular para a PUC e para a UFRJ apenas, optou pela PUC por saber que era uma faculdade conceituada e pela afinidade com seu colega Pedro Paulo Cristofaro, que, já decidido, só havia feito prova para a PUC.
No primeiro ano de curso, a turma do advogado não chegava a ter 30 alunos. No segundo ano, no entanto, o número de estudantes era maior por causa dos repetentes.
– Um professor em especial marcou a trajetória dos alunos: Jerzy Sbrozek. Ele costumava dizer que só havia duas coisas importantes para ele: “L’introduction e mulher” – contou Saboya.
O professor polonês ensinava Introdução à Ciência do Direito, que era uma disciplina eliminatória. “E como ele reprovava naquela época...”, relembra o advogado. Segundo Saboya, o professor dava suas aulas partindo do pressuposto que todos os alunos já sabiam quem eram Kant e Hegel, nomes os quais os recém formados do Ensino Médio nunca tinham ouvido falar.
– Apesar de sério e rigoroso, foi um professor fantástico – afirmou.
Além de professores, houve colegas de classe que também marcaram a vida de Saboya. Pedro Paulo Cristofaro, um dos motivos que fez Saboya optar pela PUC, foi também um dos primeiros sócios do escritório onde ambos trabalham. Os dois estiveram juntos no colégio, na PUC e no Motta, Fernandes Rocha Advogados.
– Falo em meu nome e, sem dúvida alguma, no de Helio. Fizemos muitos amigos. Nossa turma era pequena e dela saíram quatro procuradores concursados do estado da Guanabara (inclusive Helio e eu), um embaixador, vários advogados e empresários de sucesso e dois professores universitários – contou Cristofaro.
Pouco antes de morrer em dezembro de 2010, Saboya fez um jantar na sua própria residência para reunir a antiga turma de faculdade. “É legal em vários aspectos: as meninas hoje em dia são senhoras. Imagino que elas devam falar o mesmo de mim”, brincou.
O advogado se formou em 1957 já trabalhando na Motta, Fernandes Rocha Advogados. Quando o escritório foi inaugurado, em 1956, Saboya estava a um ano de se formar. Havia seis sócios trabalhando lá: cinco deles já eram advogados e o outro, Helio Saboya, era o único estudante.
Além disso, Saboya já ocupou diversos cargos, dentre eles o de presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), de 1983 até 1985, o de procurador-geral do estado do Rio de Janeiro, em 1987, e o de secretário estadual de Polícia Civil, no qual ingressou também em 1987 e permaneceu por três anos. O advogado criou o Disque Denúncia e foi também professor dos cursos de estágio e de aperfeiçoamento de advogados oferecidos pela OAB/RJ (1983-1985), o que o levou novamente ao ambiente educacional.
No que diz respeito à trajetória acadêmica, Saboya recordava da PUC com carinho. Morador do bairro de Santa Teresa, admitiu que não frequentava muito a universidade. Era membro da associação de ex-alunos, mas ia mais à universidade para assistir a palestras e seminários.
– Eu tenho uma ligação muito afetiva com a PUC – contou.
Saboya, a dois anos de se formar, pôde acompanhar de perto a mudança do campus da universidade de Botafogo para Gávea, em 1955, quando a PUC ainda era bem menor. “Fico impressionado com a quantidade de pessoas que circulam pelo campus hoje, se comparada ao número de alunos da minha época. A PUC cresceu muito”, afirmou, nesta entrevista feita dois meses antes de sua morte.
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