Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


País

Mídias sociais não dispensam "mundo real"

Caio Lima - Do Portal

18/10/2010

O sucesso corporativo no uso das mídias sociais exige um diálogo com as mídias tradicionais. O alerta do diretor de Comunicação Integrada e Mídias Digitais da In Press, Hugo Godinho, é acompanhado de uma ressalva: “Com o avanço da internet, as maneiras de comunicação mudaram. Toda empresa precisa de um grupo que saiba produzir conteúdo para as novas mídias, mas é necessário interagir com o mundo real”, disse o especialista na palestra Mídias Sociais reinventando a Comunicação, dia 8 deste mês, na PUC-Rio.

Para ilustrar a grande participação dos brasileiros nas mídias sociais, Godinho mostrou o resultado de uma pesquisa realizada pela IBOPE Nielsen Online, em dezembro de 2009. O estudo indica que os brasileiros são líderes em tempo médio de navegação na internet: 44 horas por mês. A pesquisa também aponta liderança mundial no uso de sites de relacionamento, acessados por 86% dos internautas brasileiros.

O professor do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio Luiz Favilla concorda que as mídias sociais revelam-se, em grande parte dos casos, estratégicas para a melhor interação entre a empresa e o consumidor. Ele ressalva, no entanto, que o uso dessa plataforma de mídia depende do tipo de negócio:

– Quanto mais interação a empresa tiver com o seu público, melhor. Mas não dá para generalizar e achar que todos devem participar de redes sociais. Não é uma regra. Cada cliente tem necessidades e objetivos de comunicação diferentes. Não sei se o biscoito Globo, por exemplo, precisa de rede social.

Segundo Favilla, com a chegada das mídias sociais, “a opinião ficou realmente pública”. O professor afirma que, ao longo do século passado, a "opinião pública" era manipulada pelas mídias tradicionais e se liberou “pela revolução tecnológica, pelo fato do grande volume de informações veiculadas na internet”.

Já para Godinho, essa liberdade de opinião é temerosa, pois em alguns casos pode faltar ética dentro das mídias sociais. “Diferentemente da mídias tradicionais, não há um filtro (de informações). Qualquer um pode criar um perfil falso e falar que uma determinada pessoa é corrupta, por exemplo”, argumenta.

Outra mudança significativa na comunicação apontada por Godinho refere-se à convergência de mídia: a articulação da mídia tradicional com plataforma web e as mídias sociais. Segundo ele, as novas mídias estão pautando a mídia tradicional, pois a quantidade de acesso e a rápida circulação transformam as informações em notícias nas mídias tradicionais.

 

Mídias sociais nas eleições 2010

Na esteira do sucesso da campanha do presidente americano, Barack Obama, que utilizou as redes sociais para multiplicar seu cacife político, o Brasil teve, pela primeira vez, campanha via internet liberada aos candidatos nas eleições 2010. Favilla e Godinho consideram fundamental o uso das mídias sociais para se obter uma campanha mais clara e abrangente, mas avaliam que nenhum candidato conseguiu resultados expressivos. Eles divergem, porém, sobre as causas desse desempenho abaixo do previsto. Para Faviila, os motivos são culturais:

– Apesar da grande influência, a cultura brasileira é diferente da americana. Temos outro jeito, outra relação com essas tecnologias. Eles são mestres e dominam a tecnologia, pois tiveram acesso à internet muito antes, enquanto nós estamos aprendendo.

Já Godinho avalia que os próprios candidatos brasileiros ainda "não estão preparados para falar com o público por meio de mídias sociais". Ele observa que a candidata do PV à Presidência, Marina Silva, atingiu uma melhor avaliação graças às propostas ambientais.