O prêmio da Academia Sueca à obra de Mario Vargas Llosa, depois de 58 anos dedicados às letras, foi comemorado pelo peruano de 74 anos como "um reconhecimento à literatura da América Latina e da Espanha”. A opinião é compartilhada pelos professores do Departamento de Letras da PUC-Rio Alexandre Montauri e Vera Lima. Enquanto ele acredita que os desdobramentos do Nobel de Llosa tornarão o escritor a nova “febre literária” e atrairão o leitor médio da América Latina e do mundo para a produção do continente, Vera destaca que o sucesso é facilitado pelo fato de a obra de Llosa ser palatável à maioria do público.
Montauri considera que a honraria concedida ao peruano é importante porque distingue um “escritor notável” com preocupações literárias e políticas em sua obra. Para o professor, Vargas Llosa já é um “autor clássico”.
– Da mesma forma que, em 1998, a vitória de José Saramago provocou um frenesi em torno do escritor e da produção literária portuguesa, Llosa agora pode despertar o interesse internacional e do próprio leitor médio pela literatura sul-america.
O especialista em literatura condena o rótulo de reacionário que recaiu sobre o Vargas Llosa, que criticava o movimento guerrilheiro “Sendero luminoso” e as opiniões de intelectuais de esquerda latino-americanos. O Nobel redime etiquetas.
– Rótulos como esse são sempre redutivos. Ele merecia esse prêmio pelo conjunto da obra – avalia.
Já Vera Lima ressalta o vasto espectro da produção do romancista, dramaturgo e ensaísta. Essa variedade, observa a professora, inclui incursões por temas amorosos, existenciais, eróticos e até brasileiros: no livro “A Guerra no Fim do Mundo”, o peruano trata da Guerra de Canudos.
– Toda vez que um prêmio Nobel é dado a um autor latino, o impacto é muito maior, por conta do pouco destaque que o continente tem dentro da Academia. Vargas Llosa acende luzes para várias questões políticas, inclusive brasileiras – ressalta a professora – Ele consegue aliar uma literatura “palatável” à abordagem de temas densos.
Vargas Llosa já não acreditava que seria premiado pela Academia Sueca. O autor, também professor da universidade americana de Princetown, comentou em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, que a Academia Sueca havia “se esquecido” dele. Agora, Llosa espera que o Nobel faça com que seus livros tenham para os leitores “uma importância comparável ao papel que Cervantes e Flaubert” tiveram na vida dele.