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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


País

Especialistas discutem liberdade de imprensa no país

Isabela Sued e Stéphanie Saramago - Do Portal

06/10/2010

 Isabela Sued e Stéphanie Saramago

No último domingo, dia das eleições presidenciais no Brasil, o presidente Lula novamente criticou a imprensa. Lula acusou alguns setores da imprensa de serem “autoritários”. O presidente afirmou que o Brasil “dá lições ao mundo de democracia e de liberdade de imprensa", e que a liberdade poderia ser confundida com "autoritarismo". Às vésperas das eleições deste ano, notícias de escândalos relacionados à Casa Civil e à ex-secretária da candidata Dilma Rousseff foram veiculadas nos principais meios de comunicação. Diante das críticas à candidata, Lula disse que a liberdade de expressão “deve ser respeitada”, mas acrescentou que “os veículos de comunicação têm que ter controle”.

Sem dúvida, a imprensa foi o centro de um dos debates mais polêmicos das eleições deste ano no Brasil. Para o professor de jornalismo do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio Israel Tabak, o embate entre imprensa e poder é comum em regimes democráticos. Segundo ele, é perfeitamente explicável que o poder constituído, em países democráticos, seja alvo de interesse da imprensa: “Quem está com o poder toma decisões importantes, certas ou erradas, mexe com a vida diária dos cidadãos, e, enfim, é fonte importante  de novidades, de notícias”, afirmou Tabak.

Isabela Sued O professor Fernando Sá, do mesmo departamento, discorda daqueles que acreditam que a liberdade de imprensa está ameaçada no país. Segundo ele, antes de criticar o papel da imprensa nos dias de hoje, é necessário saber aplicar devidamente os conceitos de liberdade de imprensa, liberdade de expressão e liberdade de opinião.

– No Brasil, não há ameaça a nenhuma dessas liberdades. As pessoas têm plena liberdade de pensar o que quiserem sobre o quiserem, logo a liberdade de opinião existe – afirmou.

Além disso, de acordo com o professor, “não há dificuldade de expressar aquilo que se pensa”. As pessoas “têm acesso a outras informações e argumentos e podem expressá-los facilmente”. Isso, segundo Fernando Sá, mostra que existe liberdade de expressão no país.

– A liberdade de imprensa é a capacidade ou a liberdade de se criar órgãos noticiosos de imprensa em qualquer área – disse Fernando Sá.

O professor acredita que toda essa polêmica é gerada pelo fato da grande imprensa ter um único pensamento em relação ao governo. O problema não está na falta de liberdade de imprensa, mas no fato da imprensa toda ter o mesmo discurso.

Isabela Sued – A partir dessas questões é que surgem os estudos que debatem a influência da imprensa na opinião política das pessoas, que está cada vez menor – conclui o professor.

Sobre o mesmo tema, a Escola de Comunicação da UFRJ organizou, na sexta-feira (01/10), um debate sobre o comportamento da mídia nas eleições. O encontro partiu do ponto de que o comportamento da mídia nessas eleições não foi isento de opinião, mas que a imprensa fez o papel de partidos políticos de oposição ao governo atual.

Os participantes defenderam uma “redemocratização da imprensa no Brasil” e questionaram o papel da imprensa durante a campanha do primeiro turno. No debate, Darby Igayara, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), defendeu a ideia de que interesses pessoais estão dentro da disputa. Logo os veículos agem de acordo com esses interesses, levando ao leitor uma direção apenas.

Isabela Sued Outro participante, o midiativista João Caribé, lembrou que quando um jornalista entra em um ambiente empresarial de redação de jornal, ele sofre uma influência deste ambiente. Segundo ele, estar entre quatro paredes de uma redação faz com que o jornalista escreva de acordo com a cultura daquele espaço de trabalho. Logo, disse o especialista, o exercício da livre expressão tem seu papel anulado à medida que os profissionais são moldados de acordo com o ambiente.

Ainda sobre a questão, o professor da Escola de Serviço Social da UFRJ Giuseppe Cocco (foto ao lado) afirmou que pensar na democratização da mídia não significa necessariamente controlá-la. Segundo ele, o objetivo é agir “menos como mídia, e mais como expressão democrática pública”.