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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


País

"Debate no segundo turno vai ser mais aprofundado"

Bruno Alfano - Do Portal

04/10/2010

 Mauro Pimentel

O primeiro turno das eleições presidenciais não definiu o próximo presidente da República. Com 46,91% dos votos, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff (PT) não conseguiu sair vitoriosa das eleições deste domingo (03/10), como esperava, e vai disputar um segundo pleito com o candidato José Serra, do PSDB. O resultado das eleições  ainda evidenciou outra surpresa. Mesmo perdendo, Marina Silva (PV) se fortaleceu pela boa porcentagem de votos (19,33%) que recebeu.

Para analisar como será o novo embate entre José Serra e Dilma Rousseff, o Portal PUC-Rio Digital ouviu o cientista social e professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio Paulo Durán. De acordo com o analista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pode estar mais presente na propaganda do PSDB. "É uma possibilidade o FHC aparecer mais na campanha", afirmou. Outro fator novo que Durán aponta é a importância do apoio da candidata verde. "Não foram os votos de Serra que fizeram Dilma ir para o segundo turno, mas, sim, os da Marina", disse. 

Portal PUC-Rio Digital: Como o senhor analisa o resultado do primeiro turno?

Paulo Durán: Foi inesperado. Havia um rumor, por trás dos panos, de vitória do PT com a candidatura da Dilma que foi desfeito por uma porcentagem de votos que a Marina Silva ganhou. Esse crescimento da candidata do PV foi fenomenal e aponta uma mudança fantástica de cultura política. Não tinha como prever o que aconteceu. A gente tem que levar em conta a geografia do voto. Não aconteceu uma vitória larga da Dilma naqueles cantões do Brasil do Norte e do Nordeste que os institutos de pesquisa apontavam. O grande escândalo do momento, o caso Erenice, pesou contra a candidata petista. A ênfase que os meios de comunicação deram abalou bastante a campanha, por mais que por trás da Dilma tenha a figura do Lula com uma reputação quase que inabalável.

Portal: Como as alianças políticas devem se configurar para o segundo turno?

 Isabela Sued PD: O mais importante é o apoio do PV. Eu não sei para qual dos lados esse partido vai, mas eu acho que, pela campanha sem alianças da Marina Silva, o partido deveria ficar como está. Toda a proposta de não fazer alianças ou coligações com outros partidos vai se perder se isso não acontecer. Mas esse é um ideal, pois de qualquer maneira, o PV vai ter que se posicionar com um dos dois para ter possibilidade de se inserir na política. Eu, por enquanto, não arrisco para qual dos dois lados. Por tendência ideológica, o partido ficaria mais para PT, embora eu não acho que vai ser isso que vai mover o partido. Essa definição vai ser fundamental para o resultado final das eleições. 

Portal: Qual pode ser o peso do apoio de Marina Silva?

PD: Vai ser muito grande. Não foram os votos de Serra que fizeram Dilma ir para o segundo turno, mas, sim, os de Marina, principalmente nos estados da região Sudeste. Os 20% de votos que a candidata do PV recebeu tiveram um peso singular no primeiro turno e isso foi, para mim, inesperado, vide a tradição de alternância de poder entre PT e PSDB. A bandeira ambientalista que diferencia ela dos outros candidatos foi importante para essa votação. Outro fato importante da candidatura dela foi a quebra das grandes coligações, dos grandes arranjos políticos. É notório que desde 1988 a política de coligação é necessária, mas o modo com que está sendo feita não é correta. As alianças deveriam se dar por bases ideológicas e não por interesse.

Portal: A candidata do PV teve uma atuação expressiva no pleito, quebrando um pouco a polarização PT com PSDB. Como ela fez isso?

PD: A proposta da Marina de quebrar com essa forma espúria de política brasileira é um dos pontos de inovação que ela trouxe. A prática política ilegítima que marca o nosso atual presidencialismo de coalizão para formar as grandes agendas de governo não poderia acontecer. A atitude da Marina Silva de não fazer coligações baseadas no interesse de votos é uma mudança de realidade, e isso pode se propagar para as próximas eleições. Eu acho fundamental um candidato de fora do PT ou do PSDB ganhar força nas próximas eleições presidenciais e é dessa maneira, ou seja, trazendo uma mudança de cultura política no país, que esse terceiro ator político entra em cena. Porque as políticas sociais feitas do modo que estão sendo realizadas não vão criar cidadania social e, sim, reafirmar as velhas políticas brasileiras assistencialistas que a gente conhece de décadas a fio.

 Isabela Sued Portal: Como o senhor acha que as campanhas do PT e do PSDB irão se comportar daqui para frente?

PD: Eu acho que o Fernando Henrique Cardoso vai mostrar a cara na campanha do PSDB, porque a estratégia da Dilma Rousseff é contra o Fernando Henrique e não contra o Serra. O Serra representa a gestão do Fernando Henrique Cardoso, e a Dilma a gestão do Lula. Então, em minha opinião, existe, por trás do pleito entre Serra e Dilma, um embate entre FHC e Lula. É uma possibilidade o Fernando Henrique estar mais presente nesse segundo turno.

Portal: A interferência de Lula e FHC é boa para o debate do pleito?

PD: Não. E, na verdade, não precisava. O Serra é um ator político que expõe os seus projetos de maneira muito bem colocada. Não acho que ele tenha necessidade da figura de um terceiro. Acho que ele e Dilma são pessoas muito bem preparadas. Isso é notório. Não precisam de outras pessoas. Uma prova disso é a pasta da saúde que é uma plataforma evidente na campanha do Serra e a gestão dele no setor, enquanto Ministro da Saúde, foi ótima. Por outro lado, a Dilma também não precisa de um intermediador. O ideal, para os eleitores, era um embate entre os dois sem mediação. Vamos escolher dois novos gestores para o país. A gente tem que conseguir enxergar diretamente esses dois gestores que estão se propondo e não via Lula ou via FHC.

Portal: De que forma o segundo turno pode contribuir na formação da agenda política brasileira?

 Isabela Sued PD: Esse é o momento de muita análise com o foco na agenda política que se quer para o país. Para isso, também é necessária a participação popular. É fundamental que se analise muito bem não só o que se vê na televisão, mas também uma consulta mais aprofundada dos projetos políticos, pelos sites particulares dos candidatos, por exemplo. O debate entre os candidatos vai ser mais aprofundado e isso pode despertar o interesse da população. A própria Dilma falou no pronunciamento pós-resultado que ela se coloca à disposição de mostrar todos os seus projetos, mas isso já tinha que ter sido feito desde o começo da campanha. Enfim, parece que há uma vontade de se aprofundar um debate mais setorial, ou seja, saúde, educação, segurança.

Portal: O senhor arrisca um vencedor para o segundo turno?

PD: Vai ser uma briga. Vamos ver como essa briga vai ser canalizada, ou seja, quem vai participar, quais as alianças, entre outras coisas. Eu acho que o PT vai emplacar de novo, mas como ninguém esperava um segundo turno, por um passe de milagre, o Serra também pode ganhar.