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Rio de Janeiro, 23 de abril de 2024


Cidade

Zona Portuária aguarda prometida revitalização

Viviane da Costa Fernandes - Da sala de aula

03/11/2010

Instituto Pereira Passos/Divulgação

Diz a sabedoria popular que o tempo é um inimigo implacável e, mais cedo ou mais tarde, os sinais da idade aparecem. Um velho conhecido do carioca completou 100 mostrando que as rugas chegaram bem mais cedo do que o desejado. Em 20 de julho o Porto do Rio fez aniversário com uma lista enorme de pedidos para revitalização. O Projeto Porto Maravilha carrega a expectativa de atendê-los.

Área nobre da cidade no início do século XIX, época da vinda da corte portuguesa para o Brasil, a Zona Portuária já foi a menina dos olhos do Rio, como explica o historiador Milton Teixeira:

- Era uma região de fácil acesso à Zona Norte e ao Centro, além de ser um terreno espaçoso e desvalorizado por ser pantanoso. Além disso, a ocupação dos morros próximos, como o Morro da Providência e da Conceição, era uma fonte fácil de mão de obra barata, importante em uma época na qual não existiam máquinas - justifica ele.

Em 1910 foi inaugurada a primeira parte do novo Porto do Rio. Em suma, pode-se dizer que o ex-presidente Rodrigues Alves foi fiel ao que disse no seu discurso de posse, em 1902: “Meu programa de governo vai ser muito simples. Vou limitar-me quase exclusivamente ao saneamento e melhoramento do Porto do Rio de Janeiro”. Rapidamente, com o estabelecimento do comércio, a região, formada pelos bairros de Saúde, Santo Cristo, Gamboa e Caju, se transformou em um dos principais polos econômicos da cidade.

- Durante algum tempo foi o porto mais importante do Brasil, mas, a partir da década de 60, ele entra em processo de estagnação, perde a importância e começa a ser sucateado, principalmente depois da transferência da capital para Brasília - resume Teixeira.

Quase 50 anos depois do início do processo de desgaste da Zona Portuária, é possível notar que a região sofre com o abandono indicado nas paredes empoeiradas das construções históricas, do vai-e-vem caótico dos carros que passam pelo Elevado da Perimetral e dos piches nos monumentos públicos mal conservados. As estatísticas também não escondem as consequências do descaso. Segundo o Sistema de Indicadores do projeto Rio como Vamos, há apenas um posto médico, o José Messias do Carmo, para atender aos aproximadamente 36 mil moradores da área.

Os números mostram que a educação também é deficitária. No ensino fundamental, há seis unidades na Gamboa, na Saúde e em Santo Cristo, e mais seis no Caju. Além disso, segundo informações do Armazém de Dados, a região registra um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do Rio: 0,775, o que equivale ao 24º lugar, entre as 32 regiões administrativas.

Eduardo de Souza mora há 44 anos na Gamboa. Quando perguntado sobre os serviços que precisam ser melhorados, ele é categórico:

- Não temos atendimento de saúde de qualidade, não temos UPA (Unidade de Pronto Atendimento), por exemplo. Tem em todo lugar, mas não tem aqui. Falta um hospital de referência na parte de emergência. Nós também precisamos de escolas de ensino fundamental e técnico e de uma creche.

Pai de uma menina de 12 anos, ele critica a ocupação irregular de terrenos abandonados. Apesar dos problemas crônicos, afirma que não deixaria de morar lá. Eduardo é presidente da Associação de Moradores da Gamboa e Adjacências e, por isso, participou de algumas reuniões que decidiram as propostas do Projeto Porto Maravilha, que prevê um investimento de R$ 374 milhões para revitalizar a região da Zona Portuária até 2016.

Algumas ações deste plano já foram divulgadas, como o Museu do Amanhã, que deverá ocupar o Píer da Praça Mauá em 2012, com o objetivo de promover questões ligadas à ciência e à tecnologia. Outra medida divulgada é mais polêmica. O Elevado da Perimetral será derrubado para dar lugar a um túnel, que custará em torno de R$ 1,5 bilhão. Para Milton Teixeira, esta não é uma missão impossível, mas há restrições a serem consideradas:

- Em Boston, nos Estados Unidos, fizeram isso: derrubaram um viaduto que dividia a cidade ao meio. A diferença é que eles tinham estrutura. Não sei se o Rio está totalmente preparado para esse tipo de obra - pondera.

Além dos benefícios diretos previstos para a Zona Portuária, a expectativa é que o Projeto Porto Maravilha deixe um legado para o Rio de Janeiro após a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 - os motes para a criação do projeto -, como a movimentação econômica e a geração de empregos. Segundo dados da prefeitura, pelo menos 20 mil vagas deverão ser criadas durante a implantação do plano. As empresas também receberão estímulos para investir na área. Milton Teixeira destaca que o setor turístico também pode colaborar para alavancar o crescimento da região.

Enquanto as promessas não saem do papel, a Zona Portuária continua sendo um retrato da decadência. Teoricamente, as intervenções do Projeto Porto Maravilha começaram em 2009, mas poucos resultados concretos são vistos. Aos moradores da cidade resta esperar e torcer para que o porto ganhe um presente digno de centenário. 

Texto produzido para a disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso, ministrada pela professora Carla Rodrigues