Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

"5x Favela" impressiona pela sofisticação

Constanza de Córdova Contrucci - Da sala de aula

17/09/2010

 Divulgação

5x Favela – Agora por nós mesmos, produzido por Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães, retoma o projeto de 1962 que consistia em filmar sob um olhar atento e intimista as questões dos morros no Rio. A temática do primeiro filme – chamado apenas de Cinco Vezes Favela – era, na época, pouco ou nada explorada pela classe cinematográfica e teve caráter revolucionário e inovador na visão de então jovens e iniciantes cineastas. Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade, Marcos Faria, Leon Hirszman e o próprio Cacá Diegues representavam, ali, uma visão intelectualizada e poder-se-ia dizer, sofisticada, ainda que fresca, da então ascendente questão da favela no Rio de Janeiro.

Hoje, passadas tantas leituras e releituras da problemática dos morros cariocas tanto pelo cinema mainstream quanto pelo circuito alternativo, não seria menos revolucionário entregar as câmeras aos próprios moradores dos morros e apresentar tal trabalho ao grande público, sem assistencialismos, no formato de longa mainstream. Vale lembrar que, além de moradores das favelas, os realizadores são estudantes de cinema que foram requisitados a desenvolver, como melhor os parecesse, o tema “favela”. O resultado, no mínimo interessante, nos diz muito sobre as mais que diversas realidades presentes em cada morro e a cada personagem.

 Divulgação: diretores em Cannes 5x Favela – Agora por Nós Mesmos impressiona pela sofisticação (ainda que ingênua aqui e ali) da decupagem, das trilhas sonoras, dos personagens e, principalmente, pela coerência e honestidade das histórias. Tratamos de um filme que, por sua linguagem, poderia vir a ser, a sua maneira, um blockbuster. A forte influência da linguagem televisiva, nos episódios "Arroz com Feijão" e "Fonte de Renda"; do vídeo-clipe, em "Deixa Voar"; da comédia de costumes, em "Acende a Luz" e dos filmes de ação, em "Concerto para Violino" poderia denunciar uma mesmice formal em relação às referências de seus diretores. No entanto, tal rigor formalista não se aplica às intenções do projeto. A importância e relevância de um filme, como este, está na quantidade de pessoas que assistirão ao filme, realizado através de uma profunda intimidade pessoal e criativa dos seus diretores em relação aos temas escolhidos.

Fica claro que a intenção do filme, jamais disfarçada de projeto assistencialista ou panfletário, é mesmo a de que o morador das favelas seja ouvido em sua pluralidade pessoal e em suas particularidades da melhor e mais direta maneira possível.

É claro que muitas das visões estereotipadas do que é marginalizado já permanecem mitificadas no inconsciente da classe média, tanto pelo cinema quanto pelo jornalismo, que, por vezes, na tentativa de “retratar uma realidade”, totaliza e encerra uma questão de mil e um pontos de vista. O filme reabre o assunto dos morros e não apenas hiper-humaniza o morador das favelas como aponta semelhanças, denuncia rivalidades e explica, sem heroísmos, os papéis daquelas pessoas naquele determinado meio social.

Se para que tantas e tão complexas questões sejam ouvidas pelo grande público for preciso encarar certo didatismo técnico e formal, então 5x Favela foi bem sucedido em sua empreitada – ainda que, inevitavelmente, possa ser recebido, por vezes, de maneira indigesta pelo público, que espera mais um rebuscado e totalizante retrato das favelas do Rio.