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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


País

ProUnir pode virar modelo para ensino público

Carina Bacelar - Do Portal

13/09/2010

No apresentação das propostas já cumpridas e das metas do projeto ProUnir, sexta-feira passada, representantes do Ministério da Cultura, Adair Rocha, e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR), Luciana de Sá, defenderam a expansão do modelo adotado na PUC-Rio para escolas e universidades públicas. Desenvolvido pela Vice-Reitoria Comunitária da PUC-Rio, o programa assiste alunos afrodescendentes de baixa renda. Adair previu iniciativas de inclusão cultural e acadêmica também nas universidades públicas, enquanto Luciana considerou ideal que "elas ocorressem já na educação básica". O seminário reuniu professores e funcionários de vários departamentos da PUC, que respondem por atividades distintas ofereceridas no ProUnir.

Adair defendeu o sistema de cotas nas universidades públicas e o PROUNI, programa do governo federal de acesso universitário a estudantes carentes. Ele reconheceu, no entanto, que "esses programas seriam mais qualificados se contassem também com instrumentos de inclusão cultural". O representante do Ministério da Cultura ressaltou  que o acesso ao conhecimento e aos bens culturais alcançados no Prounir, por meio de oficinas e seminários, por exemplo, é uma forma de aproximar os alunos de baixa renda da cidadania.

– As universidades públicas precisam se apropriar cada vez mais de experiências como essa. Naturalmente, dependendo de como ela se dê aqui [na PUC] e for aos poucos sistematizada, pode passar automaticamente a ser incorporada pelas federais – projetou, afirmando também que o Prounir “preenche lacunas” deixadas pelo PROUNI.

Já a representante da SEPIR, Luciana de Sá, destacou o sucesso do programa como "projeto piloto", e lembrou que esteve envolvida na sua “fase embrionária”.  Para ela, as atividades desenvolvidas no Prounir deveriam ser oferecidas antes do ensino superior, como forma de diminuir desigualdades:

– O ideal seria que pudéssemos fazer dessa forma, antes da chegada do aluno à universidade. As propostas de ampliação e abrangência podem chegar ao ensino médio e fundamental.

O ProUnir hoje atende 900 estudantes e oferece diversas atividades de apoio sócio-cultural e acadêmico  – como as oficinas, desenvolvidas em parceria com os diversos departamentos. Abrangem desde disciplinas que suprem carências encontradas pelos alunos durante o ensino médio, como leitura, matemática, física e língua estrangeira, até técnicas de teatro e expressão corporal. Já os seminários temáticos, por sua vez, têm duração de um dia e estimulam a participação dos estudantes, que propõem temas e debatem a realidade. Segundo Bruno Larubia, ex-assistido pelo Prounir e hoje coordenador dos seminários, a iniciativa “tem por objetivo a politização e socialização dos bolsistas através de soluções construídas no coletivo”:

 – Não podemos trazer soluções prontas. Temos que nos adaptar aos problemas trazidos pelos alunos. – afirma.

O programa conta com monitorias de apoio psicopedagógicas, tutorias, cujo objetivo é dar suporte às atividades acadêmicas. Ajudam o aluno a elaborar, por exemplo, apresentações audiovisuais. Há também auxílio com material didático e distribuição de ingressos para sessões de cinema.

As ações dos departamentos também mostram-se significativas para o êxito do programa. Na Comunicação Social, por exemplo, professores e estagiários realizam atividades de assessoria de imprensa. Produzem cartazes, jornais direcionados a ONGs, documentação do projeto; desenvolvem o portal do Prounir; fazem documentários.  Uma das iniciativas mais recentes foi a confecção do informativo 0800, utilizado para forrar a bandeja de restaurantes dentro e, em breve, fora da PUC.

Alunos assistidos pelo programa acompanharam o encontro de sexta-feira. Anderson dos Santos Pereira, que hoje trabalha na monitoria do Núcleo Psicopedagógico do ProUnir destacou a importância de um espaço no qual "esse universitário com tantas carências pode ser ouvido". Contou que muitos dos que pedem sua ajuda na monitoria chegam lá falando em desistir:

– Quando entrei na monitoria, percebi que tenho um caráter forte justamente pelas experiências que já vi e vivi. No NOAP, encontrei pessoas que se sentem totalmente despreparadas para estar dentro da faculdade, porque se deparam com uma gama de informações muito forte e com dificuldades que podem levá-los a sentirem-se inferiores.

Já a colega de monitoria Fernanda Belarmino, aluna de serviço social e também bolsista do Prounir, diz que, apesar dessas dificuldades, o índice de sucesso no apoio aos alunos é muito grande:  98%. Fernanda  lembra que, quando ingressou na universidade, a maior dificuldade foi adaptar seus hábitos trazidos da comunidade onde vivia, na Zona Oeste, ao ambiente acadêmico. Parte dessa adaptação ela deve ao Prounir, que contribuiu para inseri-la na realidade acadêmica:

– Hoje eu não me sinto mais com tantas dificuldades de inserção do saber, do ter, em virtude de alguns benefícios que o programa concede para os alunos bolsistas.

Um dos motivos de tais resultados, segundo a professora Norma Franco, coordenadora geral do projeto, são a participação ativa dos alunos o intercâmbio de experiências. Novas metas do Prounir para os dois próximos períodos letivos incluem, por exemplo, parcerias com uma universidade senegalesa, que receberia alunos da PUC no mês de julho do próximo ano. A possibilidade dessa aliança motivou a criação de oficinas de francês, já a partir desse semestre. Outra novidade, segundo o coordenador de Comunicação Social do projeto, Sérgio Bonato, são as “centrais de oportunidades por região”. O objetivo é atrair os olhares do mercado de trabalho para as comunidades onde moram os alunos bolsistas, a fim de “ampliar o poder de atuação do estudante” na própria região.

Norma Franco esclereceu que o Prouir está “de portas abertas” para a contribuição dos demais alunos da universidade.

 – O pessoal da psicologia, por exemplo, contribui com estagiários para receber a supervisão. O pessoal da assistência social também está auxiliando nossos alunos. Qualquer estudante, de qualquer área, pode se envolver nesse projeto – incentiva a professora.