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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cultura

Arte em forma de protesto

Fabiana Paiva - Da sala de aula

14/02/2008

 Thiago Castanho

Latas de tinta, pincéis e mentes criativas transformam os muros da cidade em verdadeiras telas de arte. Diferentemente das pichações, o grafite enfeita o espaço urbano com desenhos alegres e coloridos, transformando lugares áridos em espaços de liberdade artística. Com a disseminação do movimento nos últimos anos, os jovens admiram cada vez mais a atividade. Entre o crescente número de adeptos, estão alguns alunos do curso de Desenho Industrial da PUC-Rio, que unem teoria e talento na hora de pintar. De origem popular, o grafite hoje é reconhecido como uma das mais revolucionárias formas de arte do mundo contemporâneo. Para o grafiteiro Fernando Amorim, aluno do 8° período, este tipo de pintura é atraente por ser democrática e proporcionar maior liberdade de expressão. Além disso, trata-se de uma arte cotidiana disponível a todos.

– O grafite contribui artisticamente para a sociedade. Sua essência é deixar uma mensagem, por mais subjetiva que ela seja. E a arte tem essa função de propagar idéias. Com uma lata, um balde de tinta e um pincel, você pode tocar quem quiser, afirma Amorim, reconhecido pela assinatura de Sete Andares.

A professora de Estética da Arte Rosangela Ainbinder, do Departamento de Comunicação Social, confirma a tendência jovem e popular do grafite. Segundo ela, as pinturas feitas nos muros são expressões espontâneas nascidas da revolta e da crítica. “Os jovens são movidos por intensas emoções e vêem o mundo de formas diferentes. As imagens expressam uma leitura que é estruturada em traços e cores fortes”, explica.

No entanto, nem sempre as figuras são usadas para denunciar questões sociais ou reivindicar direitos políticos. Ao contrário da maioria dos grafiteiros, Amorim não gosta de pintar sobre nada relacionado à violência. Fã de samba, o estudante gosta de grafitar personagens com pandeiros e favela ao fundo. “É mais gratificante passar uma mensagem positiva do que ficar alimentando o tema. Já tem violência demais no Rio”, diz.

Engana-se quem pensa que, por ser associado a atos de revolta social, o grafiteiro tem o perfil do jovem excluído que mora em comunidades pobres. Rafael Meggetto, aluno do 7° período de Desenho Industrial, afirma que o grafite é uma diversão cara porque as latas de tinta têm um alto custo. Morador da Barra da Tijuca, Meggetto acredita que “quem pinta na periferia é um guerreiro”. Ele afirma também que hoje não existe distinção e o “piche” atinge a todas as camadas da sociedade, “desde o playboy da Zona Sul ao pobre da favela”.

– O grafite une diferentes classes sociais. Fiz amigos que moram em comunidades e quando tem evento lá, eu vou. Se você é grafiteiro, não importa de onde é, vai ser tratado bem por todos, completa Amorim.

O fator econômico pode ser um ponto de diferença, mas quando o assunto é aventura os grafiteiros encontram muitos pontos em comum. Apaixonados por adrenalina, os jovens confessam que existe a preferência por criar as figuras em locais arriscados. Para eles, quando existe perigo a satisfação é bem maior.

– É preciso se arriscar e dar um jeito achar lugares novos. Ainda tem muitos muros na cidade. Os grafiteiros usam os espaços já conquistados e ficam pintando em cima de outros. Falta essa essência de inovar, critica Amorim, que não revela os locais escondidos onde grafitou dentro da PUC. “Ih, deixa quieto. Você vai ter de descobrir”.

Mesmo com o gosto pela aventura, os estudantes garantem que existem limites para evitar que a arte seja confundida com pichação. O boombing – grafite menos elaborado por ser feito em locais proibidos – é feito com a intenção de deixar uma marca. “Com o boombing você demarca seu território. É o caminho para você poder voltar e pintar uma imagem mais criteriosa depois”, explica Meggeto.

Já para Amorim, este tipo de grafite é típico de quem quer “aparecer mais do que transmitir uma mensagem positiva”. Reconhecido hoje como uma forma de cultura urbana, o grafite tem sido mais aceito pela sociedade. Campanhas publicitárias, exposições e até fachadas usam a arte para decoração. Por este motivo, Rosangela acredita que a tendência é que ele passe do muro para as telas dos museus. “É uma arte perecível. Um dia pode estar no muro e no outro não”, afirma a professora.

Para Meggeto, o grafite é uma arte de rua e vai continuar nela. Ele acredita que o crescimento é natural, mas, numa exposição, as imagens vão perder a essência. “O quadro é eterno. O grafite não cansa por estar sempre se renovando”, diz. Rosangela não acredita que o grafite vá perder a essência popular ao ser exposto num local fechado. Para comprovar a previsão, a professora cita o artista americano Jean-Michel Basquiat, que ganhou popularidade através do grafite.

– Aquilo que ele pintou nas ruas, também pintou nos quadros. A passagem da linguagem do muro para a tela não desmerece a intensidade da mensagem e a força de estilo de arte, defende Rosangela.