No encontro sobre as eleições presidenciais pós-1946, semana passada, o ano de 2010 ganhou destaque entre os professores Maria Celina D’Araujo, Ricardo Ismael e Eduardo Raposo, do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio. Os palestrantes lembraram, na iniciativa do Programa de Pós-graduação do departamento, algumas peculiaridades e passagens marcantes da trajetória eleitoral brasileira, como a a vitória de Juscelino Kubitschek, em 1955, com apenas 36% dos votos. Analisaram também o atual panorama sucessório, marcado, segundo eles, por um presidente “paternalista” que tenta eleger sua “figura feminina”.
Para Ricardo Ismael, a ampliação da classe média, o aumento do salário mínimo, o crescimento do número de empregos, a ampliação do crédito e os programas sociais são os alicerces da aprovação recorde do presidente Lula. Maria Celina observou que "o estabelecimento de uma democracia participativa" também colaborou para a imagem positiva de Lula, associada à mística e à retórica de “pai dos pobres”, sobre a qual o ex-presidente Getúlio Vargas construiu sua popularidade. A professora ressalvou, no entanto, que "esse efeito" mascara problemas sociais ainda não resolvidos, como por exemplo, a saúde. Na opinião de Ismael, a cobrança por melhor qualidade no atendimento médico ou na educação torna-se "quase inexistente", pois a "nova família média" passou a avaliar outros aspectos:
– A família olha para dentro de casa e diz que melhorou tudo, pois hoje tem bens duráveis.
Segundo Maria Celina estas características reforçam também a diferença entre o PT e o seu principal rival nas eleições, o PSDB.
– O PT é um partido com forte apelo social nas classes populares, o que não se vê do lado tucano.
Para a professora, a campanha petista tenta transferir a imagem paternalista do presidente para a candidata â sucessão, Dilma Roussef, como "a figura feminina daquele que mais olhou para os pobres”. Dilma supostamente garantiria a continuação desse trabalho – e dessa retórica:
– Ele [Lula] inventou o presidencialismo hereditário – sintetizou Maria Celina, para quem a campanha petista "está infantilizando o povo, ao subestimar sua capacidade de análise”.
Já Eduardo Raposo acrescentou que tanto Serra quanto Dilma aproximam-se no discurso sustentado no mote "está tudo bem, mas precisamos continuar mudando”. Em que pesem as críticas sobre uma suposta falta de debate sobre propostas na disputa presidencial deste ano, o Brasil honra a tradição democrática retomada em 1989, afirmou Maria Celina. Para ela, o processo eleitoral foi aprimorado "ao longo dos anos" e tornou-se mais estável devido, entre outros fatores, à contagem da maioria absoluta de votos. Nesse aspecto, a professora recordouda vitória de Juscelino Kubitschek em 1955, com apenas 36% dos votos. O essencial, para a especialista, é a continuação da atividade democrática:
– Isso mostra que não somos uma república de banana. Temos normas que são cumpridas.
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