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Rio de Janeiro, 5 de maio de 2024


País

Intercâmbios derrubam fronteiras da solidariedade

Carolina Vidal - Da sala de aula

10/09/2010

 Carolina Vidal

O trabalho voluntário está perdendo seu âmbito local e vem ganhando ares de globalização. Viajar deixou de ser apenas uma forma de conhecer novas culturas ou aprender uma nova língua. A bola da vez é ajudar às pessoas. Foi o que fez o pernambucano Carlos Alberto Amorim durante os mais de dois anos que passou por Moçambique e Índia.

Neste período, ele atuou como professor nos dois lugares. Em Moçambique, Carlos trabalhou em uma escola pequena do interior que fazia treinamento para professores locais. Já na Índia, o treinamento era para pessoas que queriam fazer parte de projetos sociais em outras partes do país. Antes de ingressar efetivamente nos projetos, ele passou por um treinamento na Inglaterra, em uma organização que prepara voluntários para esse tipo de trabalho. Ele diz que "o contato com as pessoas" o motivou a procurar esse tipo de experiência. “Eu trabalhei muito tempo com computador, que era algo um pouco longe da realidade da maioria das pessoas. A ideia era experimentar algo diferente e fazer algo mais perto da vida das pessoas”, conta.

Para descrever sua trajetória ao longo da viagem, Carlos manteve um blog, uma espécie de “diário de bordo” do seu trabalho e do dia a dia como voluntário. Segundo ele, a experiência despertou o interesse para iniciativas do gênero. “Quando decidi viajar, muitas pessoas me disseram que eu estava louco, mas recebi muito apoio através do blog, até mesmo de pessoas que nunca vi na vida. Muitas delas me escreviam dizendo que também queriam mudar de vida”, lembra.

Para realizar viagens como essa, há empresas especializadas, como a Central de Intercâmbio. Desde 2006, a CI tem um projeto que envia voluntários para a África do Sul, com programas que variam de uma a quatro semanas. Há um ano, Índia e Peru também passaram a fazer parte do projeto. “O objetivo maior de quem procura esses programas não é o ganho material, mas a experiência de vida, de se entregar para uma causa maior”, explica o gerente da CI, Roberto Del Fiol. Para participar do projeto, é preciso ter mais de 18 anos e condições físicas compatíveis com a proposta. De acordo com Roberto, a procura maior na CI é de estudantes, mas aposentados também se interessam em fazer intercâmbio voluntário.Carolina Vidal 

O Brasil é um destino procurado por voluntários. A alemã Maira Küppers está no pais desde fevereiro para estudar psicologia e relações internacionais na PUC-Rio, e há três meses dá aula de matemática para adolescentes do Vidigal. “Eu sei que meu trabalho não vai mudar o mundo, ao contrário de outros que fazem trabalho voluntário. Mas o pouquinho que ajudei serviu para despertar nessas crianças o interesse pela matemática”, diz.

Não é apenas o desejo de ajudar as pessoas que desperta o interesse pelo trabalho voluntário. No caso da estudante de veterinária e biologia Maitê Taam, foram os animais que a levaram até a África do Sul. Ela passou um mês em um centro de reabilitação de animais e em uma fazenda. “As pessoas levam o trabalho muito a sério, acordam cedo para trabalhar o dia inteiro. Tudo para fazer o melhor para aqueles animais”, conta. Segundo ela, o intercâmbio é proveitoso quando se viaja "com a cabeça de que vai fazer uma coisa diferente".

Segundo Carlos Alberto, a maior surpresa durante a viagem foi a motivação dos voluntários. “Especificamente em Moçambique, onde convivi com muitos voluntários, eu fiquei impressionado com a criatividade e a motivação deles. Pessoas que não tinham nenhuma experiência em determinadas áreas, mas que conseguiam aprender para poder aplicar lá”, lembra. Para o estudante, a convivência com outros voluntários também foi importante: 

- Quando se está entre pessoas de outras culturas e experiências de vida, é mais fácil para aceitar as diferenças.

Carolina Vidal Carlos Alberto não pensa em parar por aí. De volta ao Recife, planeja prosseguir com o trabalho voluntário. “Depois de ver essas realidades, eu não tenho intenção de voltar a trabalhar como eu trabalhava. O retorno de trabalhar com pessoas é infinitamente mais gratificante do que sentar atrás de um computador”, compara. Além disso, ele acredita que viagens como essa ajudam a mudar a visão do lugar onde se vive:

- Recife não é mais a mesma depois que voltei, e minha noção de riqueza passou a ser outra.

Para atrair mais pessoas ao intercâmbio voluntário, Maitê afirma que é preciso ampliar a divulgação desse tipo de iniciativa. “Há pessoas que se interessam, mas não sabem como fazer”, diz. Já Maira acredita que, quando as pessoas percebem o quanto podem aprender enquanto ajudam os outros, o interesse pelo trabalho voluntário tende a aumentar.”O trabalho voluntário não é somente algo que você faz para as outras pessoas, mas é aprender muito sobre você mesmo, interagindo com pessoas muito diferentes”, conclui.

Texto produzido para a disciplina Laboratório em Jornalismo Impresso, lecionada pela professora Carla Rodrigues.