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Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2025


País

Crescimento pode fazer do português "novo mandarim"

Carina Bacelar - Do Portal

12/09/2010

Se é verdade que o “Brasil decola”, como sugere a capa da revista The Economist, a língua portuguesa tende a pegar carona. O cenário econômico favorável, a recepção das Olimpíadas de 2016 e da Copa do Mundo de 2014 e a emergência no cenário internacional sustentam a aposta no peso maior do idioma fora do país. Para os especialistas da PUC-Rio, UFRJ e UFF reunidos no primeiro Seminário de Português Língua Estrangeira, na PUC-Rio, uma das estratégicas para melhorar o aprendizado do português por alunos estrangeiros é a incorporação de traços do cotidiano e da cultura brasileira nas salas de aula.

Apesar das perspectivas animadoras sobre a expansão da língua portuguesa no mundo, a professora Mônica Maria Guimarães, da UFF, preferiu a cautela. Segundo ela, o português, embora seja o 7º em número de falantes (178 milhões), ocupa apenas o 16º lugar pelo Barômetro de Calvet. Esse método avalia a importância de um idioma por meio de fatores como número de livros traduzidos, número de artigos que o utilizem na internet, número de países que o têm como oficial. Para Mônica, "muito ainda pode ser melhorado":

– No Uruguai, o português brasileiro já é língua optativa nas escolas; e na Venezuela, será a partir deste ano. Mas, na Europa, ainda é mais fácil encontrar leitores de português europeu, por causa da proximidade física com Portugal – comparou, criticando o fato de "apenas a UNB formar, em um curso de graduação, professores de português com habilitação para ensiná-lo como língua estrangeira".

Mônica descartou a homogeneidade da língua portuguesa, mesmo dentro do Brasil. Na visão dela, o idioma é “pluricentrico”.

– A ideia de “uma nação, uma língua” é tão inverossímil quanto a de língua homogênia. Por isso, sou contra a reforma ortográfica – alegou.

Já a professora da UFRJ Patrícia Campos ressaltou o interesse de um outro emergente pela variante brasileira do português: a China.

– O Brasil tem ocupado um papel de relativo destaque no cenário internacional. Tem se mostrado um mercado potencial. Daí o interesse deles pelo aprendizado do português – explicou.

Para aproveitar esta e outras oportunidades, os participantes do seminários apontaram a necessidade de aperfeiçoamentos do modo como o "português língua estrangeira" é lecionado. Maria Cecília Carvalho, professora e doutoranda pela PUC-Rio, teme que o afastamento do professor em relação à língua materna dos alunos pode prejudicar o aprendizado. Ela defendeu que a língua materna não pode ser encarada como um ruído no processo de aprendizagem da língua estrangeira:

 – Minha intenção não é traduzir, mas aproveitar os momentos em que o inglês é usado em sala de aula de maneira produtiva.

Adriana Albuquerque, coordenadora do curso de português para entrangeiros da PUC-Rio, acredita na eficácia do "trabalho com os sentimentos", inseridos em um contexto cultural brasileiro, durante as aulas. Numa de suas lições, ela mostra ao aluno estrangeiro como pode expressar chateação na língua portuguesa, "mas sem palavrões". Para ilustrar, contou o caso de um aluno que não soube demonstrar indignação diante de um golpe aplicado por um taxista, que cobrara a mais pela corrida:

– Tudo o que ele conseguia dizer era “isso está errado”.

Segundo Adriana, o perfil do aluno interessado em aprender português mudou:

– O interesse dos novos estudantes já não tem sido mais o carnaval, o futebol, as praias e as mulheres brasileiras, mas sim os investimentos, a economia, as oportunidades de trabalho no Brasil.

A francesa Marie Naudascher encaixa-se nesse perfil. Convidada a trabalhar como correspondente no Brasil, a jornalista teve de aprender o português. Ela lembra que se "esforçou muito" para aprender o idioma em pouco tempo, por conta da exigência profissional. O aprendizado acabou facilitado pela fluência em italiano que ela já tinha.

– Cheguei ao Brasil para trabalhar sem falar nada. O país tem várias noticias que interessam à França. – diz a francesa.

Após ter frequentado um curso de português por três meses, todos os dias, Marie decidiu aprender na prática, por conta própria. Ler os jornais do país e conversar com brasileiros foram fundamentais nesse processo.

– Falar português me ajudou bastante a entender os erros cometidos por brasileiros quando falam francês – reconheceu a jornalista.