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Rio de Janeiro, 23 de abril de 2024


Ciência e Tecnologia

Palestra questiona ética científica

Thaís Chaves - Do Portal

09/09/2010

 Stephanie SaramagoA degradação da ética científica causada pela falta de conhecimento do assunto foi o principal tema discutido na palestra Ética na ciência, promovida pelo Departamento de Física da PUC-Rio. Realizado na última quinta-feira (02/09), na universidade, o encontro contou com a presença do professor Sérgio Volchan, do Departamento de Matemática.

A apresentação foi resultado de um artigo escrito pelo professor Volchan para a revista Medical Hypotheses intitulado "Science, dullness and truth: a rejoinder" (ou, na tradução literal, "Ciência, imprecisão e verdade: a réplica"). O texto foi publicado em março de 2010 em resposta a outro artigo da revista que faz duras críticas aos cientistas contemporâneos: "Why are modern scientists so dull?" (ou "Por que os cientistas modernos são tão imprecisos?") de autoria do redator-chefe da publicação, Bruce Charlton, que saiu na edição de março de 2009 da publicação.

Sérgio Volchan citou uma série de valores que devem ser praticados pelos cientistas, como a busca da verdade, a exatidão, a consistência interna e a interação com outros ramos bem-estabelecidos da ciência. A experimentação, conforme disse o professor, faz parte do campo metodológico da ciência.

– Os pensamentos crítico e aberto estão incluídos nos valores morais – acrescentou.

 Stephanie SaramagoO professor explicou que parte das falhas científicas vem do fato de que a sociedade, por desconhecer os métodos científicos, cobra pouco a exatidão dos cientistas. Segundo Volchan, grande parte da sociedade é desinformada quanto aos métodos científicos. Para ele, o pensamento mágico é predominante, assim como o movimento anticiência, também denominado contracultura, que nega a ciência como fonte da verdade. A competição por recursos e financiamento, além da educação inadequada também contribuem para as falhas do pensmento científico.

– A ciência é um dos empreendimentos mais bem-sucedidos da humanidade, mas é frágil – afirmou.

O palestrante comentou ainda as diferenças entre ciência e tecnologia moderna. A primeira, segundo explicou, é neutra e seus pesquisadores têm ambição por conhecer e entender o mundo. A tecnologia, por outro lado, é guiada por fins, não é neutra e sempre tem um objeto de estudo.

 Stephanie SaramagoSérgio Volchan citou exemplos de casos famosos na história, como a fraude do homem de Piltdown. Em 1912, o geólogo Charles Dawson encontrou fragmentos de um crânio e uma mandíbula perto da cidade de Piltdown, Inglaterra. Por ter características peculiares foi denominado como o “homem de Piltdown”, antecessor do homo sapiens. Mais de 40 anos depois, foi descoberto que o crânio era de um homem moderno e a mandíbula de um macaco.

– Além do dano à ciência, tais casos são embaraçosos e geram questionamentos acerca da competição versus a cooperação na ciência e sobre as causas de tais disfunções – ressaltou.

As principais soluções apontadas por Sérgio Volchan são a relação de honestidade com o público e a mídia, a importância das lideranças científicas, dos profissionais e especialistas, além da valorização da filosofia como “consciência e crivo” da ciência.