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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

Escritora e jornalista chinesa lança livro na PUC-Rio

Fernanda Miranda - Do Portal

10/09/2010

 Isabela Sued

Em sua primeira visita ao Brasil, a escritora e jornalista Lijia Zhang encontrou um auditório lotado para a sua palestra na PUC-Rio. Na ocasião de lançamento de seu livro A garota da fábrica de mísseis: memórias de uma operária chinesa, a escritora chinesa explicou um pouco sobre o momento de sua vida como operária na China, sua luta, suas opiniões sobre o país e sua vida hoje. 

Lijia Zhang, de 46 anos, esteve no Rio de Janeiro e em São Paulo para promover seu livro que relata um período importante da história chinesa, a década de 1980, quando a China abriu suas portas para o capitalismo internacional. No mesmo período, a escritora trabalhou durante dez anos numa fábrica de mísseis no país.

Ao analisar a política na China, Lijia afirmou que, de lá para cá, para ela, não mudou muita coisa. Segundo a escritora, a constante busca por dinheiro e o trabalho excessivo dos chineses fazem com que eles não percebam o quanto ainda são dirigidos e limitados pelo governo.

− A China continua sendo uma jaula, porém hoje as pessoas não percebem muito – afirmou.

 Isabela Sued Lijia citou situações horríveis daquele tempo na fábrica de mísseis, onde todo mês havia uma verificação se as mulheres haviam menstruado. Explicando sua trajetória, a jornalista contou o início dessa história em sua vida.

− Um dia sentada na sala fazendo a lição de casa, minha mãe me perguntou se eu já havia me imaginado trabalhando em uma fábrica de mísseis, se eu gostaria. Obviamente na hora achei engraçado, nunca havia imaginado isso – revelou.

A escritora contou que foi separada de sua família e da escola aos 16 anos para trabalhar nessa fábrica que é um dos cenários de seu livro. Lá permaneceu durante dez anos e então decidiu lutar por sua independência, trocando suas roupas orientais pelas ocidentais, estudando inglês e se graduando.

Durante a palestra, a escritora e jornalista chinesa abriu espaço para perguntas e de maneira muito simpática e divertida respondeu a todos.

− Sobre as passagens do livro não vou dizer, vocês vão ter que descobrir. E a cada autógrafo vou cobrar um dólar a mais! – brincou Ligia com um aluno da universidade.

Isabela Sued Ligia Zhang casou-se com um britânico, com quem teve duas filhas. Hoje, a chinesa divorciada reside em Pequim, colabora para o Washington Times, The Independent, Newsweek, The Observer, BBC, CNN, além de outros jornais, revistas, canais de TV e rádio.

Após a palestra, em entrevista exclusiva ao Portal Puc-Rio Digital, a escritora contou mais sobre sua vida e sua obra.

Portal PUC-Rio digital: Por que o livro não foi publicado na China?

Lija Zhang: Porque no livro estou contando o que aconteceu na década de 1980, e existe um tabu relacionado a esse tempo na China. Foram tempos muito difíceis, uma transição, a entrada do capitalismo no país. E foi por essa razão que escrevi o livro em inglês, porque sabia que ele não seria publicado em mandarim.

PP: O que a encorajou para escrever um livro sobre o tempo em que trabalhou na fábrica?

LZ: Quem me deu o pontapé inicial foi um amigo chamado Peter Hessler, em uma conversa que tivemos em Pequim. Contei a ele um pouco sobre essa parte da minha vida. Peter ficou fascinado e disse para que eu escrevesse um artigo no Wall Street Journal. Foi o que fiz. Após a publicação, muitas pessoas que não sabiam sobre minha infância em Pequim comentavam que nunca tinham ouvido histórias sobre essa época tão de perto, sobre um operário de uma fábrica de mísseis e que eu deveria escrever um livro. Vi que havia poucas obras sobre a China dos anos 1980 e decidi fazer.

 Isabela Sued PP: Como você se sentiu trabalhando em uma fábrica de mísseis?

LZ: Horrível! Você gostaria de trabalhar em uma fábrica de mísseis? Foi uma experiência horrível, você saber que está ajudando a produzir artifícios que matam pessoas em guerras. Uma sensação muito ruim e que não desejo a ninguém.

PP: Como você conseguiu deixar a fábrica e ter a oportunidade de fazer uma graduação?

LZ: É uma grande e complicada história. Eu conheci meu ex-marido Calum MacLeod, deixei a China para me casar com ele que mora na Inglaterra. Foi a pessoa que mais me ajudou a sair da fábrica, deixar a China e estudar. Ele me incentivou muito durante toda essa trajetória e também me ajudou a concluir esse livro.

PP: Por que escolheu a carreira de jornalista?

LZ: É uma ótima profissão, eu acho linda. Você informa as pessoas, mostra as verdades para elas. Está sempre se informando sobre o mundo todo, aprende a ver e mostrar as diferenças.

PP: O que você acha da situação política atual da China comparada a daquele tempo?

 Isabela Sued LZ: A situação da China continua tendo muitas mudanças. O que mais mudou é que agora as pessoas podem fazer o que sentem vontade. Mas politicamente não acho que mudou muita coisa.

PP: O que você espera que os leitores aprendam e sintam lendo seu livro?

LZ: Eu espero que as pessoas entendam um pouco sobre a história da China naquele tempo, esse tempo de transição, sobre o qual a China não quer que fale. Onde as pessoas sofriam, assim como eu eram separadas de suas famílias para trabalhar em fábricas de mísseis feitos para atingir os Estados Unidos. Que elas olhem minha história e vejam que os sonhos são realmente possíveis, basta lutar.

PP: Você pretende escrever outro livro e voltar ao Brasil?

LZ: Sim, eu quero muito. E quero voltar ao Brasil, adoro esse país. É um dos lugares mais bonitos do mundo, as pessoas são muito receptivas, muito carinhosas.