Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

Gumbrecht é debatido na Casa de Rui Barbosa

Isabela Sued - Do Portal

03/09/2010

Isabela Sued Professores estrangeiros e brasileiros se reuniram ontem na Fundação Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, para discutir a obra do professor e autor alemão Hans Ulrich Gumbrecht. O encontro, que contou com a presença de Gumbrecht, teve início com a palestra “As belas formas da melancolia”, ministrada pelo próprio autor, e foi seguido por mesas-redondas com os professores convidados.

O debate “A materialidade como questão” teve a participação dos professores Jobst Welge, da Universidade Livre de Berlim; Myriam Ávila, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Pedro Dolabela Chagas, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Welge apresentou seu trabalho em inglês, citando o dramaturgo argentino Roberto Arlt para falar sobre romance e teatro. Myriam Ávila, com o tema “Meios e condições: de Gulliver a Gumbrecht”, citou o personagem Chapeleiro Maluco, do livro Alice no País das Maravilhas, para explicar a influência do tempo nas pessoas: o personagem não pode terminar seu chá da tarde até que o relógio aponte as 5h. Dolabela, por sua vez, procurou repensar, por meio da obra de Gumbrecht, as bases do conhecimento contemporâneo.

– Gumbrecht não se limita apenas em conhecer para criticar, busca também formular novos paradigmas – afirmou Dolabela. 

Isabela Sued Ao fim das apresentações, quatro professores – Sérgio Alcides, da UFMG; Eduardo Sterzi (Faap/Fapesp) e Oliver Lubrich, da Universidade de Berlim – que haviam participado da mesa-redonda anterior, “História e literatura”, se uniram a Myriam, Welge e Dolabela no palco para responderem às perguntas feitas por Gumbrecht, que estava na plateia acompanhando os debates.

– Há, na vida universitária, a tentação do conformismo. É necessário ter um olhar não conformista para o mundo e ter sensibilidade para preservar o que tem bom rendimento - declarou Alcides.

Às 17h, o professor Milton Machado, da UFRJ, deu início à mesa-redonda “Produção de presença”, que dá nome ao livro de Gumbrecht recém-lançado no Brasil pela Editora PUC-Rio, em parceria com a Contraponto. Machado exibiu o vídeo “O homem muito abrangente” dirigido por Cacá Vicalvi. O filme mostra um mau atirador de facas, que acerta todos os lançamentos onde estaria seu assistente. Antes do atirador começar a lançar as facas, o assistente abandona a cena e deixa apenas um contorno desenhado na parede que é preenchido pelas facas arremessadas. Por isso, “um homem muito abrangente [que ocupa todo o espaço do mundo menos o espaço do seu próprio corpo] seria um bom ajudante para um mau atirador de facas”. Como o homem muito abrangente não ocupa seu próprio interior, não lhe afetaria ser atacado pelas facas.

Isabela Sued – O homem abrangente carece de individualidade, não tem uma vocação. Sua única propriedade é não ter nada de próprio – afirmou Machado. – Como todo homem digno, ele tem algo de camaleão. Pode ser todas as coisas, fazendo tudo o que quer. Porém, lhe é vetada uma única ocupação: a própria. Sempre além dos limites, o homem muito abrangente é o mais puro exterior. Esse homem sempre será outro homem, por ocupar o mundo todo menos a si mesmo – concluiu. 

A mesa se seguiu com o professor Manoel Silvestre Friques (Senai/Cetiqt) com a apresentação “Dimensões Contemporâneas da presença: no teatro, na videoarte e na performance”. Ele exibiu vídeos dirigidos por Vito Acconci e Felipe Hirsch. Sobre a obra de Acconci, o professor apontou o apelo ao telespectador presente no vídeo, que só tem um personagem.   

– Ele [o personagem] tenta a cada segundo realizar a aproximação das duas pessoas – espectador e personagem –, mesmo sabendo que não é possível o encontro físico deles. É como um encontro a dois que não tem a presença concomitante de nenhum dos dois – completou Manoel Friques.

“Chuva de letras: de presenças, ausências de literatura digital” foi o tema da professora Luciana Barroso Gattassm, da PUC-Rio. Ela apontou aspectos da sociedade atual, citando os meios de comunicação e redes sociais virtuais. Segundo Luciana, esses meios, como o próprio telefone, são o refúgio para o desejo da onipresença. 

- É uma nova cultura: a da conectividade. O ego contemporâneo clama por visibilidade. Há uma perda da conexão genuína a partir do momento em que as pessoas começam a estabelecer vínculos através de meios de comunicação que não exigem a presença física das pessoas – disse a professora. 

Isabela Sued – O professor Ricardo Benzaquen de Araújo (PUC-Rio/Iesp.Uerj) finalizou a última mesa-redonda do dia. Ele apresentou uma análise do livro “Produção de presença”, de Gumbrecht, contextualizando suas críticas com o calvinismo e os pensamentos de Weber. 

O seminário internacional também contou com a participação dos professores Luis Costa Lima, da PUC-Rio, Katrin Rosenfield, da UFRS, e Valdei Lopes de Araújo, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), que deram início à primeira mesa-redonda do evento, logo depois da palestra de Gumbrecht. O evento foi organizado pelas professores Flora Süssekind e Tânia Dias, da Fundação Casa de Rui Barbosa, Maria Elisa Mader, da PUC-Rio, e Valdei Lopes de Araújo.